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HISTÓRIA DE UMA ACUSAÇÃO

(Publicado no Urtiga 136 - jan/fev 2000 - pág. 3)

clique aqui para mandar sua opiniãoColeção de erros leva a AIPA a pedir - pela primeira vez desde sua fundação - a saída de um conselheiro. Outras medidas podem ser tomadas.
Acompanhe, passo a passo:

 
PRIMEIRO DE DEZEMBRO....       NO DIA SEGUINTE...       A VIRADA CONTINUA       

PREJUÍZO MORAL        RESOLUÇÃO DA AIPA 


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Tudo começou na quarta feira, 1/12/1999. A seca em Itu era tal, que havia racionamento de água, sobretudo no centro da cidade. Arcílio Bragagnolo, Diretor de Meio Ambiente da Prefeitura e membro do Partido Verde, telefonou a Juljan Czapski, presidente da AIPA e proprietário da Fazenda São Miguel. Pediu a abertura da comporta da represa que fica na fazenda, visando liberar água para o bairro Cidade Nova . Como resposta, foi informado de que, devido ao tipo de construção, seria impossível abri-la. A Prefeitura poderia tentar, desde que trouxesse uma carta responsabilizando-se por danos físicos ou ambientais decorrentes da tarefa.

Em vez da carta, na quinta-feira 2/12, o Diretor de Meio Ambiente compareceu acompanhado da Curadora do Meio Ambiente, Dra Vânia Tuglio, de representantes do Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado (DAEE), e equipe de reportagem da TV Aliança Paulista (TV Globo, em Sorocaba).

E, em vez de abrirem a comporta, a AIPA recebeu duas autuações, divulgadas para a TV. Uma delas, condenando a Associação por suposta captação subterrânea através de poço tubular profundo, sem outorga e direito de uso. A segunda, com multa de quase R$ 1,700,00, apontando a associação como autora de "barramento em curso d'água" sem outorga e direito de uso, e exigindo que "o usuário mantenha à jusante uma vazão mínima de 42,41 litros de água".

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NO DIA SEGUINTE...

No dia seguinte, a AIPA começou a derrubar todas as acusações, levando os seguintes fatos, documentados, ao DAEE e à imprensa da região:

  1. O referido açude não pertence à AIPA e sim à Fazenda São Miguel, de propriedade do presidente da Associação, Juljan Czapski. Czapski empresta uma área da fazenda, gratuitamente, à AIPA, onde funciona a sede e o viveiro da entidade;

  2. O açude foi construído em 1963 - como uma espécie de piscinão para conter enchentes rurais - pelo DEMA, departamento da Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo que cuidava também de questões ambientais. A AIPA foi fundada 23 anos depois, em 1986. Não se trata de represa de abastecimento, ou seja, não possui de controle da vazão. A mesma água que entra, sai.

  3. Nem AIPA, nem fazenda, possuem poço tubular profundo. Como em toda propriedade rural, há na fazenda poços-cacimba (pequenos) construídos manualmente nos anos 50, para fornecer água limpa às pessoas.

  4. Num esforço pessoal, e de preocupação ambiental, Czapski vem reflorestando com árvores nativas as margens do ribeirão Varejão São Miguel - formador da represa - no trecho que passa por sua propriedade, refazendo a mata ciliar onde ela não existia.

  5. Desde a época de planejamento dos bairros Cidade Nova II, III, IV e V, a AIPA vem denunciando que não haveria água suficiente para abastecer estes empreendimentos. Cidade Nova IV e V não chegaram a ser construídos. Mesmo assim, a região possui perto de 40 mil habitantes hoje, mais de que qualquer previsão inicial.

  6. Em 1993, o presidente da AIPA - que na época também presidia o Conselho Municipal do Meio Ambiente de Itu - encaminhou várias perguntas à Kraf, empresa responsável pelo EIA/RIMA (Estudo e Relatório de Impacto Ambiental) do Empreendimento Cidade Nova. Uma delas era sobre a disponibilidade de água para abastecer a população. Na resposta, os responsáveis garantiram que a questão estaria equacionada, prevendo que lá, no futuro, a população não ultrapassaria 25 mil habitantes!

  7. Várias edições do Urtiga, de 1993 em diante, vêm retratando os problemas de Cidade Nova - que sofre desde o seu início com a deficiência de água.

  8. Outro problema que vem sendo denunciado pela AIPA refere-se ao assoreamento (entupimento) das nascentes dos rios que formam o Ribeirão Varejão São Miguel. O empreendimento Agroroad foi denunciado, neste sentido, junto a órgãos públicos municipais e estaduais, mas o problema não foi resolvido na prática (houve interdições temporárias).

  9. Poucos dias antes da vistoria de 2/12, o Urtiga 135 publicou artigo assinado pelo presidente da Associação, intitulado "Milagre das Águas?". Avaliando o quadro da falta d'água, o texto previa o racionamento (que ocorreu logo em seguida) e opinava que a privatização do serviço de abastecimento em Itu não sanaria a deficiência de recursos hídricos no município, ao contrário dos argumentos da prefeitura. Eis a ultima frase do artigo: "Está na hora de repensar o município, assumir a responsabilidade pelos serviços essenciais, tomando medidas drásticas para preservar o que temos." (se você não leu este artigo, clique aqui, para ler) .

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A VIRADA CONTINUA

O engenheiro Renato Alves da Silva, do DAEE em Sorocaba, examinou os documentos apresentados em 3/12, concordando com a impossibilidade técnica de aumentar a vazão do açude. Mas manteve a exigência de outorga do direito do uso de água da Fazenda São Miguel. No mesmo dia, a TV Aliança Paulista realizou nova reportagem, apresentando documentos que provavam a inconsistência das denúncias.

Poucos dias após, um engenheiro especializado mediu a vazão de água do açude. Surpresa! Estava errada a medida, feita com baldes pelo Diretor do Meio Ambiente da Prefeitura, em 2/12. Em vez de cerca de 12 litros por segundo, a vazão constatada superava os 55 litros por segundo, mais de que o exigido na autuação.

A estiagem continuava. Por isso, em 22 de dezembro, os bombeiros voltaram à Fazenda São Miguel com o representante da Prefeitura, para abrir parcialmente a comporta, desta vez com a solicitada carta assumindo eventuais prejuízos ambientais e pessoais. Confirmando os avisos de 1/12, os bombeiros falaram que não daria para abri-la. "Eu elogiei a saída que propuseram: a Prefeitura instalaria, no dia seguinte, um sifão para puxar água do açude, visando minimizar a falta d'água do bairro Cidade Nova e vizinhos. Mas a chuva ainda demorou para chegar e ninguém compareceu para colocar o tal sifão", relata Czapski.

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PREJUÍZO MORAL

Os fatos acima foram relembrados em 22 de janeiro, na primeira reunião conjunta, do ano 2000, de Diretoria, Conselho Diretor e Conselho Fiscal da AIPA. Os presentes lembraram de um agravante. Ironicamente, o representante indicado pela Prefeitura para participar do Conselho Diretor da Associação é o mesmo Arcílio Bragagnolo. Por unanimidade, os presentes incumbiram o Presidente da AIPA de solicitar ao Prefeito a substituição deste representante, dando plenos poderes para o Presidente para ações complementares. (clique aqui, para conhecer sua íntegra)

O pedido de substituição foi protocolado na Prefeitura em 24 de janeiro. No início de fevereiro, a assessoria de imprensa do Prefeito informou à reportagem do Jornal República, de Itu, que o Prefeito não mudaria seu representante. "Desde sua fundação, em 1986, a AIPA nunca se viu numa situação como esta, onde temos de solicitar a substituição de um Conselheiro", relata Czapski, lembrando que "logo ao assumir a Prefeitura, Leonel indicou Bragagnolo que, no início, chegou a participar de algumas reuniões. Depois, deixou de comparecer. Mas o pior foi com o episódio da represa. Como membro do Conselho Diretor, Arcílio sempre teve acesso a todas informações solicitadas. Seria mais um motivo para evitar as acusações infundadas."

Czapski lamenta: "Apesar do Juiz ter nos dispensado de pagar a multa antes do recurso, como se queria inicialmente, há os prejuízos morais e as despesas com o processo. Ele frisa que "só depois de uma autuação amplamente divulgada na imprensa - contra a qual estamos recorrendo por conter erros gravíssimos - tivemos oportunidade de colocar nosso lado". Entre os erros, ele destaca: o poço tubular profundo (artesiano) que nem existe; a medida incorreta da vazão de água e, por fim, que, de acordo com a Lei Nacional dos Recursos Hídricos, propriedades rurais que consomem pouco, são dispensadas da outorga de direito de uso de água. "O único uso da represa é irrigar o viveiro de mudas nativas da AIPA e dar água a alguns animais, o que consome menos de 5000 litros por dia". (para comparar: cada pessoa consome em média perto de 300 litros por dia).

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RESOLUÇÃO

"A Diretoria, Conselho Diretor e o Conselho Fiscal da Associação Ituana de Proteção Ambiental - AIPA, reunidos na sede da Associação, em 22 de Janeiro de 2000, às 10 horas da manhã, após avaliar a infundada acusação sofrida pela Associação em relação à represa da Fazenda São Miguel (que, entre outras incorreções, não pertence à Associação, como constou nos autos de infração e em reportagem televisiva), resolve:

  1. Condenar a atitude do Senhor Arcílio Sérgio Bragagnolo, representante da Prefeitura junto ao Conselho Diretor da AIPA, solicitando ao Sr. Presidente da Entidade que peça ao Sr. Prefeito da Estância Turística de Itu a substituição de seu representante junto ao Conselho Diretor da AIPA;

  2. Autorizar a Diretoria da AIPA, representada por seu Presidente, a tomar todas as atitudes necessárias, inclusive legais, para identificar o ou os autores da denúncia infundada e tomar as medidas necessárias para o ressarcimento dos danos, inclusive morais, causados ao bom nome da AIPA."

Resolução tomada em 22 de janeiro de 2000, na reunião conjunta de Diretoria, Conselho Diretor e Conselho Fiscal da AIPA



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