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NA CALADA DA NOITE ...

(Publicado no Urtiga 137 -março/abril 2000 - pág. 1)

Ajudem a salvar nossas árvores!!!!
ou de como autoridades
ordenam a destruição
de árvores em Itu
... e a comunidade se
revolta
......................................................................

Editorial do Jornal Urtiga 137
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PERIGOSO PROJETO            VIGÍLIA...

FALSO ARGUMENTO            ÁRVORES PRECIOSAS

P rimeiro foi um chapéu de sol. A população ituana surpreendeu-se na manhã de quinta feira, 30 de março, ao perceber que esta frondosa árvore, existente há pelo menos quarenta anos na Praça Padre Miguel (da Matriz) havia sido cortada. Duas semanas antes, a praça havia sido fechada por tapumes. O Prefeito Leonel Salvador tinha anunciado sua restauração, que obedeceria um projeto que teria sido aprovado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado (Condephaat). Mas o prefeito não mencionou nada sobre derrubada de árvores no local.

O assunto em debate, até então, era em torno de dois símbolos, que há décadas vêm atraindo milhares de turistas para o município: os famosos Orelhão de Itu e Semáforo Gigante. Faria parte do projeto a retirada de ambos, que seriam transferidos para um suposto parque temático, fora da área urbana. Os comerciantes conseguiram uma liminar na Justiça, para garantir a permanência destes símbolos no local. Ao anunciar para a imprensa a restauração da praça, o prefeito declarou que o orelhão e o semáforo não seriam arrancados.


inicio desta página VIGÍLIA: Ao final daquele mesmo 30 de março, um grupo de cidadãos reuniu-se em torno da praça disposto a uma noite de vigília. De nada adiantou. Logo chegou um automóvel com placa de outro município, que estacionou em frente à igreja Matriz. Três homens saíram do carro, abriram o porta-malas, retiraram moto-serras, atravessaram os tapumes para entrar na Praça, fecharam novamente o local com cadeado e ... começaram a cortar mais árvores. Indagado, pela reportagem do jornal República, um dos elementos que participava deste trabalho declarou que cumpria ordens de Marcos Prévidi. O corte fazia parte das anunciadas obras de restauração.

Os protestos caíram no vazio. Ao levar a reclamação para a Promotoria do Meio Ambiente, soube-se que o corte de árvores havia sido autorizado. E foi só aí que a assessoria de imprensa da Prefeitura informou aos jornais da previsão de cortar dez árvores, como parte do projeto de reforma. E mais: Mauro Bondi, técnico do Iphan, deu uma declaração ao Jornal Periscópio que desmentia a fala do Prefeito sobre o orelhão e o semáforo. Haveria um compromisso da administração municipal para que ambos fossem removidos. Se isto não ocorresse, o Iphan poderia mover ação na Justiça contra a Prefeitura, já que estes monumentos teriam sido instalados sem autorização do Instituto.


inicio desta página FALSO ARGUMENTO: Curiosamente, a obra de restauração baseia-se num falso argumento: reconstituir a praça, como ela era há um século. Só que muito do que lá existe hoje, pouco tem a ver com o que havia cem anos atrás. A começar pela Igreja da Candelária (da Matriz), cuja visão estaria sendo prejudicada pela presença de árvores. Sua fachada não é a do século passado. Algumas décadas atrás, o arquiteto Ramos de Azevedo conduziu a remodelação da frente desta Igreja, alterando completamente suas características originais. Não faz parte do projeto da prefeitura restaurá-la, para que recupere as características perdidas. Se faz parte do projeto arrancar o orelhão e o semáforo, esqueceram-se da necessidade de rever várias edificações, como a agência bancária localizada na praça, cuja fachada moderna fere o contexto histórico. Com a retirada das árvores, também fica mais visível o edifício residencial de 15 andares, localizado ao lado da Igreja, constituindo uma poluição visual adicional. E mais: caso se seguisse a lógica de ter a praça como era há cem anos, nem o bem frequentado Clube Ituano resistiria em pé.

Há pouco mais de duas décadas uma geógrafa, Magda Lombardo, conseguiu medir um fenômeno que ganhou o nome de ilha de calor. O centro da cidade de São Paulo, onde imperam as áreas cimentadas, tinha uma temperatura média superior em até cinco graus, em relação às áreas próximas ao município, mais arborizadas. Não é preciso um termômetro, para conferir o mesmo fenômeno em Itu. Quem sai da área urbana para a rural, já sente uma diferença de temperatura. É que, por suas características históricas, o centro de Itu possui calçadas estreitas, onde é difícil ter árvores. As praças, quando arborizadas, representam pequenos oásis para a população. Na sombra de árvores da praça da Matriz, pessoas sentam-se para conversar e observar o movimento, numa típica atitude de cidade interiorana. E não apenas lá. Também na Praça do Carmo - cuja reforma está prevista - as árvores são o ambiente ideal para o lazer de ituanos e turistas. Além das centenárias palmeiras imperiais, lá vivem árvores importantes para o município, como uma grande figueira e um espécime de pau-brasil plantado pela primeira presidente do Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente, Beatriz Pionti.

Num município onde o prefeito defende a concessão dos serviços de abastecimento de água com base na falta de recursos financeiros, gasta-se em torno de meio milhão de reais para a reforma de praças, que começam com a derrubada de árvores. Até o início das obras, o projeto não tinha sido colocado à disposição da população, que só soube de alguns detalhes do que seria feito.


inicio desta página ÁRVORES PRECIOSAS: Vale lembrar um estudo do cientista Mauro Victor sobre a cobertura verde paulista. Em 1854, o Estado de São Paulo tinha 80% de seu território coberto por florestas (árvores). Em 1973, eram 8%. Hoje são menos de 3%. Ou seja, no passado colonial, o desafio consistia em domar as matas nativas e abrir clareiras, onde as cidades puderam se desenvolver. Hoje vivemos a situação inversa. A preocupação mundial é em torno da defesa do pouco de verde que resta. Árvores não são apenas estéticas, nem fornecem simplesmente sombra e frutos. Elas são essenciais para o equilíbrio ecológico. Seu plantio vem sendo preconizado até para evitar o aumento do efeito estufa (lei nota na última página). Enquanto que no mundo cada árvore ganha mais valor, por aqui, a população luta, tentando salvar os poucos exemplares do centro histórico da cidade. A primeira batalha já foi perdida. Pois não adianta, simplesmente, propor que duas ou três árvores serão plantadas para cada uma que foi derrubada: o plantio de mais árvores na área urbana era uma necessidade, antes mesmo desta ação destrutiva da Administração Municipal. E continua sendo assim.

 

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