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No calor das discussões
sobre mudanças climáticas, surge a proposta do comércio
internacional do carbono. Enquanto isso, as divergências e dúvidas
incluem até a seguinte pergunta: esqueceram do vapor d'água??
Confira
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O QUE É, O QUE É? ENTENDENDO O EFEITO ESTUFA |
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Qual
a relação entre 1- catástrofes em várias partes
do mundo, como enchentes ou ventanias arrasadoras e expansão de
doenças transmitidas por insetos; 2- a disputa eleitoral, voto
a voto, à presidência dos Estados Unidos, entre Al Gore e George
Bush; 3- grandes mudanças na economia mundial que incluem novas
formas de ganhar dinheiro, e 4- a cidade de Haia, na Holanda? Quem acompanha
as questões ambientais, responderá imediatamente: Protocolo
de Kyoto.
Isso mesmo. De 13 a 24 de novembro, representantes de mais de cem países discutiram em Haia um acordo internacional que começou a tomar forma em 1997 em Kyoto, Japão - daí o nome Protocolo de Kyoto. Este protocolo decorre de uma constatação: a emissão de certos poluentes no ar, que têm capacidade de reter mais calor dos raios solares, está alterando o clima no mundo. O maior vilão do aumento do efeito estufa seria o gás carbônico (dióxido de carbono, ou CO2), emitido por atividades humanas como a produção de cimento e uso derivados de petróleo (principalmente combustíveis de veículos). Em 1992, durante a Eco 92, no Rio de Janeiro, mais de 100 países assinaram a Convenção de Mudanças Climáticas. Nela, países desenvolvidos prometiam reduzir a emissão de CO2 até o ano 2000, para evitar estas tragédias. Mas a Convenção não falava como isso seria feito. Não funcionou. Para entender, basta imaginar duas empresas. A empresa X é antiga, tem máquinas antiquadas e poluidoras. Filtros relativamente baratos gerariam melhoria até maior de que a meta internacional. Mas não tem dinheiro para instalar os filtros. Ao lado dela, a empresa Y usa maquinário complexo, mas também polui, apesar de já ter filtros: para reduzir sua poluição teria de mudar a tecnologia por outra, caríssima. Tem dinheiro para custear os filtros da empresa X, mas não o suficiente para mudar sua própria tecnologia. A moderna empresa Y pagaria para que a empresa X instalasse os filtros e, com isso teria direito de continuar poluindo por um tempo. Afinal, o que importa é diminuir a poluição como um todo e não a de cada um, individualmente.
Antes mesmo da aprovação do Protocolo de Kyoto, o Banco Mundial criou a linha de crédito Prototype Carbon Fund (PCF), para experimentação do MDL. E algumas empresas internacionais começaram patrocinar projetos de sequestro de carbono. Claudio Fraenkel, que acompanha a questão, listou cinco projetos, só no Brasil. Dois - financiadas pela empresa de energia AES Barry e a automobilística Peugeot com Instituto Pró Natura - optaram por reflorestamento com árvores nativas brasileiras. Dois - da Winrock Foundation/Associação Mineira de Defesa do Ambiente e Tectona Agroflorestal- preferiram a monocultura de árvores exóticas: eucalipto (espécie australiana) e a árvore tailandesa teca. E há um - da indústria de ferro gusa de Carajás/ Instituto Pró Natura - que prevê a monocultura de uma planta brasileira: babaçu, no Maranhão. Todos calculam a quantidade de carbono que será sequestrada pelo crescimento das plantas em até 25 anos. Vale lembrar que, por trás destas discussões, há muitas dúvidas, ou incertezas, como preferem falar os cientistas. Por exemplo, questiona-se o fato de apenas o carbono ser considerado no MDL. Entre outros gases do efeito estufa, o vapor d'água também é um dos mais importantes. é fácil entender que mais vapor na atmosfera provoca calor: quem não conhece a sensação de um dia abafado?. Sabemos, também, que a maior parte do Planeta é coberta por água e que, com mais calor, aumenta a evaporação. Só que vapor tem a capacidade de condensar, formando nuvens. Com muitas nuvens, o céu escurece e o calor diminui. Resumo da ópera: na escala mundial, fica mais complexo calcular as consequências do aumento do vapor d'água, de que as do carbono. Mas ninguém duvida de um fato: a poluição deve ser combatida. Excesso de poluentes na atmosfera prejudicam até a saúde humana. É uma tarefa a ser assumida pelos grandes - empresas, governos - e também pelos pequenos, como cada pessoa, em seu dia a dia.
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