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Resumo do documento final da Audiência Popular, sobre a Hidrovia Araguaia-Tocantins promovida em Palmas, em 28/10/2000 pelo Movimento pela Preservação dos Rios Tocantins e Araguaia, composto por 35 entidades não governamentais. |
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"Manifestando
preocupação com os graves impactos ambientais, sociais,
culturais e econômicos que serão causados pela Hidrovia
Araguaia Tocantins, o plenário da Audiência Popular resolveu
emitir o seu posicionamento à sociedade a respeito desse empreendimento.
Segundo estudos da Fundação Cebrac, a construção
desta Hidrovia provocará efeitos perversos principalmente à
fauna aquática e à vida das populações ribeirinhas
e indígenas, devido às características geológicas
da região, em face dos processos de drenagem, alagamento e assoreamento
dos rios.
As pesquisas preliminares estimam que serão retirados mais
de 5 milhões de metros cúbicos de areia do fundo dos rios,
além da dinamitação de travessões de pedras,
com derrocamento de mais de 700 mil metros cúbicos, para tornar
plenamente navegáveis os dois rios, para a passagem das grandes
barcaças de transporte de grãos.
Isso evidencia que, além do alto custo financeiro, a Hidrovia
trará gravíssimos problemas ambientais, com a destruição
de habitats naturais de muitas espécies animais e vegetais, alterando
negativamente o meio em que vivem milhares de seres vivos.
Os mesmos estudos prevêem o desaparecimento de praias e outros
atrativos turísticos do rio Araguaia, em função
da alteração do nível das águas. Isso retirará
o sustento financeiro de milhares de famílias e poderá
inviabilizar a economia de muitos municípios que dependem das
temporadas de praias e turismo para movimentar e sustentar suas economias
locais.
A obra deverá ter influência sobre 29 áreas indígenas
de 11 etnias diferentes: Karajá, Apinajé, Xavante, Tapirapé,
Krahô, Ava-Canoeiro, Gavião/Parakatejê, Parakanã,
Aikewar/Surui, Assurini e Xikrin.
O Estudo de Impacto Ambiental (EIA) não atende às mínimas
exigências legais e éticas, e usa metodologias questionáveis
do ponto de vista científico e técnico em praticamente
todas as áreas. Além disso, desconsidera grande parte
dos impactos mais nocivos do projeto, bem como deixa de propor medidas
mitigadoras que possam satisfazer os aspectos sociais e ambientais.
Isso culminou com a interposição de ações
judiciais pelo Ministério Público Federal, que recebeu
denúncia de quatro dos sete antropólogos, sobre a adulteração
dos resultados dos seus estudos na apresentação final
do EIA.
O mesmo EIA não leva em consideração a existência
de áreas protegidas por lei na área de influência
da Hidrovia: é o caso do Parque Nacional do Araguaia, que possui
status de Sítio da Convenção Internacional
Ramsar de Proteção de Áreas Úmidas, da qual
o Brasil é signatário. Nela, exige-se do país um
rigoroso tratamento, não considerado no EIA.
Desconhecemos a autorização do Congresso Nacional para
implementar este empreendimento, dada a sua incidência em área
de reservas indígenas.
A metodologia do atual EIA nas áreas de avifauna, ictiologia
(peixes), fauna terrestre, turismo, geologia, economia, povos indígenas,
não é capaz de estimar, por exemplo, os verdadeiros impactos
ambientais, econômicos e sociais para uma área de tamanha
complexidade e heterogeneidade, nos cerca de 2.210 km de extensão
da Hidrovia, abrangendo os Estados de Goiás, Tocantins, Mato
Grosso, Pará e Maranhão. Os impactos sobre as populações
ribeirinhas foram desconsiderados.
O EIA também é deficiente no que tange à demanda
para o incremento pretendido da produção agrícola
da região, viabilidade econômica da Hidrovia perante a
ferrovia Norte-Sul (em construção), e as perspectivas
do modelo de desenvolvimento que se está implantando na região.
A Hidrovia beneficiará poucos agentes privados, provocando altíssimos
custos sociais, ambientais, econômicos e culturais que serão
assumidos pela sociedade brasileira.
Em face de evidências das graves conseqüências deste
empreendimento, se ele for adiante, não concordamos com a sua
implementação. Conclamamos o apoio da sociedade na defesa
da preservação dos rios Araguaia, Tocantins e rio das
Mortes, bem como, das populações indígenas e ribeirinhas
a serem atingidas. Vamos lutar para evitar esse desastre social e ecológico
em nossa região."
Documento
final da Audiência Popular, sobre a Hidrovia Araguaia-Tocantins
promovida em Palmas, em 28/10/2000 pelo Movimento pela Preservação
dos Rios Tocantins e Araguaia. O evento contou, segundo os organizadores,
com presença de
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