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AGRICULTURA ECOLÓGICA EM ALTA

(Publicado no Urtiga 143 - março/abril 2001)


plantar sem venenos - vamos nessa?
A agricultura orgânica cresce
com noticias alarmantes sobre mal da vaca louca e aftosa
Conheça uma experiência onde compradores
financiam os produtores
e as dicas para comprar.


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COMPRADOR FINANCIA PRODUTOR
QUALIDADE DE VIDA
CONSUMO ORGÂNICO
REGRAS
OVOS, LEITE, CARNE
10 PRINCÍPIOS
DICAS PARA COMPRAR
CURSO PRÁTICO DE HORTA



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COMPRADOR FINANCIA PRODUTOR

Aconteceu em 1997. Depois de oferecerem um curso de agricultura orgânica no Ceará, o casal Nina e Richard Charity viu-se diante de um desafio. Um agricultor pediu ajuda para converter seu pequeno pedaço de terra para este método. Ele não tinha como viabilizar a proposta. E quem compraria seus produtos?

Horta da AIPA tambem usa cultivo organico (foto-arquivo AIPA) "Na época conhecíamos duas organizações cearenses que trabalhavam com agricultura orgânica, só para exportação. Então lemos uma reportagem sobre uma experiência de sucesso em outros países, Community Supported Agriculture - que traduzimos como Agricultura Motivada pelo Consumidor - onde consumidores patrocinam a produção, pagando um fixo mensal em troca de uma cesta semanal de alimentos", relata Nina.

Para desenvolver a proposta, nasceu a Associação para o Desenvolvimento da Agricultura Orgânica (Adao).

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QUALIDADE DE VIDA

"A atividade agrícola deve garantir qualidade de vida para quem trabalha na terra", aposta Nina, fundadora da Adão, que participou em 1997 dos cálculos de custos da produção orgânica. Eles incluíam a depreciação das máquinas, despesas pessoais dos produtores e certificação orgânica dos produtos.

Hortaliças organicas - bons resultados "Concluímos que para cada propriedade agrícola deveria haver pelo menos 45 famílias consumidoras. No começo, só conseguimos 20, que toparam apoiar o produtor. Começamos assim mesmo".

O sucesso foi tanto, que logo outros produtores e consumidores quiseram aderir ao sistema. "Chegamos a 8 oito produtores, fornecendo para 450 famílias".

Só que havia falhas a corrigir. Por exemplo, as cestas semanais eram muito grandes: famílias começaram a dividí-las com mais gente, prejudicando a expansão do sistema. Além disso, alguns agricultores tiveram dificuldade de adaptação às exigências.

Nina relembra: "Após um ano, obtivemos a certificação do Instituto Biodinâmico, um selo reconhecido internacionalmente. Para recebê-lo, há detalhes obrigatórios que vão além das normas relacionadas ao cultivo e colheita, como respeitar um período de conversão de pelo menos 18 meses (3 anos, quando o destino é a exportação), sem comercializar o produto como orgânico. Além disso, os produtos devem ser transportados em caixas especiais, com o nome do produtor, num veículo que só carrega orgânicos. Nem todos se adaptam a tantas regras".

Assim, a Adao chegou a 2001 com 350 associados, sendo 5 produtores. "Não estamos abrindo o sistema para novos produtores", avisa Nina, informando que a Agricultura Motivada pelo Consumidor já começa a ser adotada por grupos de outras regiões do país.

"Temos arrecadado cerca de 18 mil reais mensalmente, que são divididos proporcionalmente entre os agricultores, após deduzirmos as despesas. Quando um sofre quebra de produção, recebe 600 reais, que serão devolvidos, quando a propriedade voltar a render", completa Bráulio de Sá Magalhães, diretor administrativo da Adao.

Ele afirma que os consumidores associados à Adao pagam cerca de 40 reais por mês, recebendo a cesta semanal com dez variedades de vegetais, alguns fixos (como alface e temperos), e outros que variam (como cenoura ou beterraba). Como a quantia consumida muda de família para família, a associação oferece o excedente para compra à parte.

No dia em que Bráulio foi entrevistado, a Adao discutia a oferta de um supermercado local de comprar os produtos orgânicos, para revenda. "De um lado isto representa a ampliação do mercado de nossos orgânicos. De outro, até agora não tínhamos intermediários. Reconhecemos que também eles precisam ganhar dinheiro, o que encarece o produto final. Por isso estamos discutindo o que fazer".


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CONSUMO ORGÂNICO

"Produzidos sem fertilizantes químicos ou agrotóxicos (venenos químicos contra eventuais pragas), e não admitindo o uso de transgênicos (plantas geneticamente modificadas em laboratório), os produtos orgânicos conquistam cada vez mais consumidores. Hoje, grandes redes de supermercados já oferecem estes produtos, sobretudo nos principais centros urbanos do país. Além disso, existem iniciativas, como a da Associação de Agricultura Orgânica (AAO), de promover feiras de produtos naturais. A maior delas, na cidade de São Paulo, atrai milhares de compradores semanalmente.

Ufa! Mas a gente chega lá! "No mundo todo este mercado está crescendo. Na Alemanha, os orgânicos já ocupam 5% da área plantada do país, e o governo quer incentivar a ampliação, para chegarem a 20%, em 2050", diz Sérgio Vaitali, do Instituto Biodinâmico, organização que já certificou quase 2000 produtores para a agricultura orgânica, entre as quais, a Adao.

Observando que no Brasil consumidores pagam em média 30% a mais que pelos orgânicos (às vezes, o preço é mais que o dobro), Vaitali alerta que não é tão simples adotar este sistema: além do período de descontaminação da terra e outras adaptações obrigatórias, o produtor que quiser o certificado de produção é orgânica deve pagar matrícula junto a uma certificadora e sofre auditorias periódicas, pagas. "No IBD, nós incentivamos a certificação de associações e cooperativas de agricultores. Unindo-se, os pequenos dividem despesas. Assim, pagam algo como 100 reais por ano, e seus produtos agregarão valor".

"A proporção desistências é de 0,5%", informa Isabel Garcia, da AAO, entidade que, junto com o IBD, concentra o maior número de certificações do Brasil. Segundo ela, 70% dos produtos orgânicos destinam-se à exportação. Entre eles, há a soja e a maior parte do café orgânico. No Brasil, ficam sobretudo as hortaliças orgânicas.

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REGRAS


"Isabel explica que há variações nas regras, dependendo de quem certifica. Mas o objetivo sempre é garantir a produção de alimentos saudáveis do ponto de vista ambiental, social e econômico. Assim, além de proibir fertilizantes e defensivos químicos, há técnicas agrícolas especiais para garantir a manutenção da biodiversidade (como rotação e consorciação de culturas), e exigências relacionadas às condições de trabalho dignas.

Um exemplo de variação está na metodologia da Associação de Produtores da Agricultura Natural, que propõe regras adicionais para fertilização, além de encarar - como no caso do cultivo biodinâmico - cada propriedade como um sistema completo, no qual a produção animal e vegetal são necessariamente integradas.

Itu - crianças aprendem a lidar com uma horta organica"O importante na agricultura orgânica alcançamos, no longo prazo, uma produção que não prejudica o equilíbrio ecológico, preservando o solo, a qualidade da água, a diversidade da vida".

Vale saber: No Brasil, há a Instrução Normativa N° 7, de 1999, do Ministério da Agricultura, que regulamenta a produção e certificação de produtos orgânicos.

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OVOS, LEITE, CARNE

Produzir laticínios, ovos e carne no sistema orgânico também exige cuidados especiais. Os animais devem contar com espaço suficiente, receber alimentos sem agrotóxicos (venenos são proibidos nas pastagens), evitando-se antibióticos e hormônios de crescimento, entre outros cuidados específicos para cada espécie de animal.

Quem aposta na importância da certificação também destes produtos é o professor Pedro de Felício, da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp (Universidade de Campinas). "Trata-se de uma garantia para o consumidor, de que o que estamos comprando obedece alguns requisitos preestabelecidos", diz, alertando que é importante saber as exigências de cada certificação: "Por exemplo, o termo boi verde não tem relação com certificação orgânica. A expressão foi patenteada pela Tortuga, para indicar animais que recebem um tipo específico tratamento, com alimentação vegetal, suplementada com sais que eles produzem".

O professor menciona uma aula em que falava da oferta de ovos caipiras, hoje comercializados em supermercados. Um aluno questionou: será que - em vez de serem criadas soltas e sem aplicação de hormônios - estas galinhas não cresceriam presas em gaiolas, recebendo urucum como suplemento alimentar, para as gemas ficarem mais vermelhas? "O certificado de uma instituição séria é a melhor forma de combater qualquer dúvida, sobre a origem e qualidade do produto".

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10 PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA ORGÂNICA


biodiversidade garantida, na horta organicaEis algumas características da agricultura orgânica, apresentadas no site do Instituto Biodinâmico:
  1. Proteção da fertilidade dos solos a longo prazo, estimulando a atividade biológica;
  2. Intervenção mecanizada cautelosa;
  3. Fornecimento de nutrientes ao solo em forma natural, não obtidos por processos químicos;
  4. Auto-suficiência em nitrogênio pelo uso de leguminosas e inoculações com bactérias fixadoras de nitrogênio, com reciclagem de materiais orgânicos de resíduos vegetais e estercos animais;
  5. Controle de doenças, pragas e ervas pela rotação de culturas, inimigos naturais, diversidade genética, variedades resistentes, adubação orgânica, intervenções biológicas, extratos de plantas e caldas elaboradas com componentes naturais;
  6. Bem estar das espécies exploradas na criação animal, pela nutrição, tratamento sanitário e condições de vida que respeitem suas características;
  7. Atenção especial ao impacto do sistema produtivo sobre o meio ambiente, protegendo a flora e fauna existentes;
  8. Condições de trabalho que representem oportunidade de desenvolvimento humano aos envolvidos;
  9. Processamento limpo e controlado;
  10. Extrativismo sustentável.
Observação:

Além destes critérios para a agricultura orgânica, a agricultura biodinâmica (fundamentada em Rudolf Steiner no início do século) inclui utilização de preparados biodinâmicos, isto é, substâncias à base de ervas medicinais, esterco e sílica, aplicadas em doses homeopáticas para equilibrar o sistema solo-planta-animal


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DICAS PARA COMPRAR ORGÂNICOS

Quem quer comprar orgânicos, deve prestar atenção em alguns detalhes:
  • Procedência - caso não conheça o produtor, buscar o selo de certificação, aprovado pelo Ministério da Agricultura. Nos supermercados, este selo consta na embalagem. Em feiras orgânicas, a informação também deve ser visível através, por exemplo, de cartazes.

  • Aparência - é comum encontrar frutas menores do que estamos acostumados, ou vegetais com furos, por terem sofrido o ataque de insetos. Isto não é sinal de falta de qualidade do produto e sim conseqüência do não uso de agrotóxicos (que são venenosos), ou aditivos para acelerar o crescimento da planta.

  • Variedade - atualmente a variedade de orgânicos no mercado é menor de que os outros produtos. Mas vale à pena procurá-los: afinal, o crescimento da demanda é o melhor incentivo para o aumento de produção, e a conseqüente redução dos custos.

  • Não confundir - muitos pensam que produtos integrais são orgânicos. Nem sempre. O arroz integral, por exemplo, é aquele no qual se manteve uma película externa. Pode ter sido cultivado com agrotóxicos.

  • Cuidados ao consumir - antes de consumir vegetais e frutas, inclusive orgânicos, eles devem ser lavados, deixando-se, se possível, saladas de molho em vinagre com água, para desinfetar.
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