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CONFIANÇA ABALADA

(Publicado no Urtiga 144 - maio/junho 2001- pág. 1)

Regra número um do consumidor:
prestar atenção no que compra,
mesmo que a fama seja a melhor
de todas....
Confira nesta história
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Editorial do Jornal Urtiga 144
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ASCENSÃO DOS ORGÂNICOS            NORMAS MINISTERIAIS

VACA LOUCA?           NO COLEGIADO!            E.. NO FIM...

E sta é uma de história com final feliz, mas que mostra os riscos de acreditar no que dizem, sem buscar conhecer a bula do remédio, ou as regras do jogo. Muitos veículos de comunicação - inclusive este jornal Urtiga - têm dado grande espaço aos alimentos orgânicos, produzidos sem venenos (agrotóxicos), ou sementes transgênicas (geneticamente modificadas em laboratório), entre outras qualidades, que lhes dão personalidade de produtos saudáveis e ecologicamente corretos.

Há dois fenômenos recentes em relação aos orgânicos: 1- eles entraram em moda, sendo mais procurados pelos consumidores brasileiros, e 2- a multiplicação de certificadoras - organizações que dão um selo de garantia de que o produto foi plantado dentro de regras que elas estabeleceram, cobrando taxas dos produtores para fiscalizar a produção e permitir o uso deste selo nos produtos certificados. inicio desta página



Normas Ministeriais - Desde 1999, existe a Instrução Normativa n.º 7 do Ministério da Agricultura, com regras gerais para a produção orgânica e o trabalho de quem certifica. Ainda não há um órgão para fiscalizar o funcionamento das certificadoras - apenas alguns colegiados, através dos quais elas podem definir ações comuns.

Eis alguns pré-requisitos das certificadoras, para concederem selo de produto orgânico: exigem que, no ponto de venda, orgânicos sejam separados dos alimentos produzidos com agrotóxicos. No caso de indústrias beneficiadoras, como torrefação de café, o processamento deve acontecer à parte, limpando-se antes a linha de produção, para não haver contaminação com não-orgânicos. No campo, o produtor que resolve aderir à; agricultura ou pecuária orgânica precisa respeitar um tempo de transição, de anos, até que seu solo seja descontaminado. São cuidados que ampliam a confiança de consumidores brasileiros e estrangeiros. inicio desta página

Vaca louca? - Depois de receber estas informações, você imaginaria que um produto orgânico, carne no caso, pode estar contaminado pelo Mal da Vaca Louca? Pois é, quem lê atentamente a norma do Ministério da Agricultura verá no Anexo 4, que trata da Produção Animal, entre os "insumos que podem ser adquiridos fora da unidade de produção, segundo a espécie animal e sob orientação da assistência técnica e controle da certificadora", consta a farinha de osso calcinada ou autoclavada.

Segundo as teorias dominantes, a causa do Mal da Vaca Louca, no gado da Inglaterra, foi o consumo de farinha de osso contaminada (feita de ossos de ovelhas que sofreram a doença scrapie). O governo inglês reconheceu a doença em 1996, três anos antes da Instrução do nosso Ministério da Agricultura! Hoje, ninguém mais quer comprar carne de animal que tenha recebido este tipo de ração, alimento aliás estranho na dieta de bichos vegetarianos por natureza. inicio desta página

 

E agora? - Cada certificadora tem suas regras. Como, pela norma brasileira, depende delas a autorização de uso deste produto, Urtiga consultou as duas maiores (que, somadas, acompanham o trabalho de mais de 2000 produtores orgânicos do país). O Instituto Biodinâmico rapidamente respondeu: nunca permitiu o fornecimento destas farinhas para animais. Já a Associação de Agricultura Orgânica (AAO) nem precisaria ser procurada: seu manual (versão maio/2000) está na Internet. E lá está consta como permitido o fornecimento destas farinhas aos animais!

O fato foi discutido em março pela equipe da Aipa, que procurou os responsáveis, na AAO, para pedir esclarecimentos. Afinal, que confiança poderei ter num produto orgânico se a regra de produção é esta, estabelecida em maio/2000? Resposta curta, por e-mail, de uma técnica da AAO: "Estamos em processo de revisão das normas, que é demorado".

Vale aqui uma observação para tranqüilizar consumidores mais alarmados: na verdade, usar o pasto no Brasil é mais barato de que ministrar farinha de osso ao gado. Além disso, atualmente o consumo deste produto por animais está proibido pela Vigilância Sanitária. Portanto, com ou sem autorização da certificadora, atualmente a farinha não pode ser fornecida aos animais. Por fim: está apenas iniciando a certificação de carne orgânica. Mas o descuido desperta desconfiança: depois disso, como posso acreditar nas outras regras da produção orgânica?

A pergunta foi encaminhada à AAO. Foram necessárias algumas trocas de e-mail (a única forma com que os responsáveis da AAO contataram a Aipa), questionando a regra desta certificadora, até vir esta resposta, em meados de abril: graças ao alerta da Aipa, a Associação de Agricultura Orgânica decidiu encaminhar uma carta de esclarecimento aos produtores associados, e retirar do Manual, na próxima versão, a permissão de uso das tais farinhas na alimentação dos animais. inicio desta página

 

  Final feliz - Sabendo, através de um site, de uma reunião do Colegiado Estadual de Agricultura Orgânica, em São Paulo, daí a uma semana, a Aipa foi até lá , para levar a mesma pergunta aos demais certificadores do Estado. Aqui, sim, temos o final feliz: o questionamento foi muito bem recebido, e o Colegiado optou, inclusive, por encaminhar um alerta ao Ministério da Agricultura, apesar da proibição das farinhas já constar em outra norma ministerial, posterior à n.º 7/99. Afinal, este item pode até dificultar a exportação de produtos orgânicos brasileiros!

Durante a reunião, colocaram-se alguns números que fãs dos orgânicos deveriam conhecer. No campo, os produtores recebem em média 30% a mais para orgânicos, em comparação aos convencionais. Mas, na estante do supermercado, este mesmo orgânico pode custar até 60 vezes mais caro (6.000%) de que o similar, não orgânico! E mais: o representante de uma grande rede de lojas chegou a afirmar a um certificador que não vale à pena reduzir o preço, pois, quando o faz, a procura não aumenta. Alimentos orgânicos tornaram-se uma grife, e muitos imaginam que "se for barato, não presta". Assim, em muitas regiões do país, onde não é possível um esquema alternativo de distribuição, os orgânicos continuam inacessíveis para a maior parte dos consumidores. Que imaginam que eles precisam ser dezenas de vezes mais caros de que os alimentos produzidos com venenos!


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