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CONTAMINAÇÃO EM PAULINIA

(Comentário publicado no Urtiga 144 - maio/junho 2001 - pág. 2)

 


Ajudem a salvar verde!!!! Ilustração - Dian Storch

Depoimento de Carlos Bocuhy
representante ambientalista no
Conselho Estadual de Meio Ambiente
do Estado de SP

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"A situação que passamos a relatar é extremamente grave e pedimos apoio para tentarmos solucionar, da forma efetiva e eficaz, o sério problema criado pela contaminação que atinge a população inocente da cidade de Paulínia, região de Campinas.

A Shell fabricava e enterrou drins (pesticidas organosfosforados, bioacumulativos e potencializadores de males como o câncer), em suas instalações naquele município, nos anos 70 e 80.

Quando o país proibiu a produção destas substâncias (Lei 7.802 de 1989), a empresa já enterrara grande quantidade de cinzas de material incinerado com temperaturas inferiores ao recomendado.

Fizemos tomadas aéreas, com a ajuda de ex-funcionários da indústria, que indicaram pontos onde foram enterrados os produtos perigosos (pelo menos 6 pontos de disposição irregular, e construções / ampliações da planta industrial sobre os aterros).

Na região, vários casos de câncer foram registrados. Fotografamos pessoas com hematomas que não coçam, parecendo uma permanente alergia.

A contaminação também atingiu o lençol freático e, certamente, o rio Atibaia, que abastece Americana.

Sobre o rio, não temos ainda o nível de comprometimento, mas as chácaras do entorno da Shell e vários habitantes foram contaminados, conforme laudos do laboratório Lancaster de 1995 (sobre os poços) e exames mais atuais em pessoas, clínicos e de sangue. inicio desta página

 

Auto-denúncia: Foi em 1995 que se instaurou um procedimento no Ministério Público (MP), a partir de auto-denúncia da Shell, quando esta precisou estabelecer seu passivo ambiental para vender suas instalações para outra fabricante de pesticidas, Americam Cianamyd. O processo foi moroso e mal dirigido, pelo MP, Prefeitura de Paulínia e Cetesb, sem a necessária cautela para proteger a saúde pública. Os moradores não foram informados do perigo que corriam e apenas recentemente soubemos que já havia um dossiê, com relação dos produtos tóxicos enterrados no local.

Hoje, 54 chácaras do local têm sua produção agrícola, principalmente de hortas, comprada pela Shell e a água é fornecida por caminhões pipa. Poços artesianos foram desativados devido à contaminação. inicio desta página

 

Nova auto denúncia: A Shell fez nova auto-denúncia em janeiro de 2001, conforme procedimento instaurado no MP, desta vez sob o nome de Klaton, sucessora da empresa no local, alegando que ocorrera no passado um vazamento de produtos químicos perigosos.

Também recentemente, a própria Shell contratou um laudo, que apontou metais pesados fora dos parâmetros em 15 pontos de monitoramento, no site da Shell e 3 poços de chácaras.

Após isso, a comunidade do entorno, cansada da morosidade burocrática e com problemas de saúde, providenciou exames particulares. Algumas crianças apresentam sinais metais pesados acima do normal: mercúrio, arsênico, alumínio, chumbo, níquel, prata e titânio.

A Shell fabricava no local, entre outros, Bladotyl - herbicida classe tóxica II, que contém arsênico; Duriac 700, fungicida classe tóxica IV, que contém cobre e o Shellneb, fungicida classe tóxica III, que possui magnésio e zinco. Portanto, os metais pesados detectados nas pessoas faziam parte de processos industriais da Shell naquele local.

Ex-funcionários também estão preocupados com a possibilidade de terem se contaminado, durante o período em que trabalharam na empresa.

  Gravidade: Pelo que pudemos observar, a situação é mais grave que a de Pilões, na Baixada Santista, onde a contaminação ocorreu em pessoas que moravam ao lado do aterro com pesticidas organoclorados.

No caso de Paulínia, existe uma incompreensível instalação de indústria poluidora a 15 metros de chácaras. Durante anos, as verduras produzidas no local foram vendidas na região, a carne e o leite do gado que ali pastava e consumia água contaminada foram comercializados. Temos notícia de 14 cabeças de gado que morreram por problemas de estômago (característica dos efeitos dos drins).

Há muitas crianças na área, que em casos como este deveriam estar proibidas de ter contato com a terra. A poeira levantada na pequena rua pelos carros que pela rua que divide a indústria das chácaras atinge toda a área das chácaras.

Numa reunião entre o MP e a Shell, em meados de março, estive presente como observador, indicado pelas ONGs locais. Discutia-se um cronograma para um adendo ao Termo de Ajustamento de Conduta (TAC, que órgãos ambientais podem exigir), visando necessários exames de sangue da população. Ocorre que, quando afastado da fonte de contaminação por mais de 45 dias, desaparecem do sangue indícios de drins, pois a substância instala-se no tecido adiposo. Daí, as opções são: biópsia (nem todos aceitam este exame), ou um exame do cabelo, muito caro e complexo.

Ao final desta discussão, quando afirmei ser esta situação uma das mais graves, pedindo rapidez ao andamento dos trabalhos, um representante da Shell, holandês, ameaçou me processar.

Ajudem: Agora num quadro mais definido, infelizmente evidencia-se o que antevíamos: a gravidade da contaminação, a relutância da Shell em assumir imediatamente suas responsabilidades, que incluem assistência médica, abrigo e relocação da população, recuperação do local, com retirada e destinação final até da terra contaminada, indenizações pelas propriedades e outros danos que causou.

Também deve se avaliar a qualidade ambiental daquela região, pois temos notícias de outros aterros clandestinos de resíduos perigosos em empresas na área. Seria preciso avaliar os sedimentos do fundo rio Atibaia também, bem como a própria capacidade de suporte de Paulínia, antes de se licenciar qualquer novo empreendimento na região. Trata-se de um misto de áreas de grandes indústrias altamente impactantes, com áreas rurais, terras produtivas e férteis, produzindo alimentos.

Já solicitamos uma apresentação no Conselho Estadual do Meio Ambiente (Consema) sobre a atuação da Cetesb no caso, para definirmos melhor as medidas legais de responsabilização dos atores envolvidos nesse episódio trágico, onde por 6 anos a morosidade burocrática submeteu a riscos inadmissíveis uma população inocente, incluindo crianças, que ignoravam o perigo e risco de morar em área de lazer, confiando a órgãos governamentais - que foram omissos. Um vídeo sobre o problema também foi encaminhado à Conferência Internacional sobre Poluentes Orgânicos Persistentes, realizada em maio, na Suécia. inicio desta página

 

Apóiem os contaminados. Mandem e-mails apelando ao Ministério Público de São Paulo para agilizar o processo - meioamb@mp.sp.gov.br , com cópia para campanhabillings@uol.com.br

Carlos Bocuhy
Representante ambientalista no Conselho Estadual do Meio Ambiente / SP (Consema)
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