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FOGO!!!

(Publicado no Urtiga 144 - maio/junho 2001 - pág. 3)

 

Nos períodos mais secos do ano, multiplicam-se os incêndios florestais. Há incendiários, que ameaçam o meio ambiente!!!

ilustracao: Dian Storch



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Aos 78 anos, o ecologista Miraci Samuel, de Porto Alegre indignou-se ao ler uma nota na seção Ecos, do Urtiga 139 (julho-agosto 2000). Era um dos períodos mais secos do ano. O texto alertava para o fato de um cigarro mal apagado, ou fósforo aceso, atirado pela janela de um veículo numa rodovia, poder causar enormes incêndios florestais nesta época. E dava três dicas para evitar incêndios acidentais:
  • ao circular em rodovias, cuidar para não provocar um incêndio, involuntariamente,
  • evitar fazer fogueiras durante excursões em áreas naturais, preferindo alimentos que dispensem cozimento,
  • não soltar balões em festas juninas.

"Já li todos os números do seu jornal", comentou Miraci, reclamando que - apesar dos alertas de ecologistas, bombeiros e jornalistas (como a nota no Urtiga) - "as queimadas estão sempre aumentando no Brasil".

Para ele, "cigarros acesos jogados irresponsavelmente sobre a vegetação" constituem uma causa dos incêndios, "quando o tempo está completamente seco há vários dias". No entanto, suas observações como apagador de incêndios no Rio Grande do Sul e em viagens pelo país, mostraram-lhe que "nenhuma campanha para evitar o fogo nas matas terá êxito, se começar com essas afirmações, isto é, negando que a maior causa dos incêndios de beira de estradas está nas mãos mal intencionadas dos andarilhos". É o que ele chama de incêndios populares: "pela repetição, inclusive nos mesmos lugares, continuamente, inverno e verão, eles são em maior número e, no somatório, atingem áreas maiores do que todas as dos incêndios de fazendeiros e agricultores, no Brasil".

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TIPOS DE INCÊNDIO

Membro de uma das mais antigas organizações ambientalistas do Brasil, Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan), Miraci conta que esta ONG divide queimadas em três tipos:

fogo!!!

  • Queimadas Agrícolas - praticadas pelos agricultores, para coivara, limpeza, etc.
  • Queimadas Pastoris - praticadas pelos pecuaristas para "endireitar" o pasto.
  • Queimadas Populares - que "infelizmente não chamam a atenção de quase ninguém, principalmente das autoridades que nunca constataram sua existência".

O ecologista afirma que os dois primeiros tipos (queimadas agrícolas e pastoris) são condenáveis, mas constituem uma prática arraigada, admitindo discussão econômica, e sobretudo exigindo cuidados para não saírem do controle. "Os agricultores, embora erradamente, não o fazem por agressão, e o perigo maior é quando o fogo excede as áreas determinadas".

  • O pior está nas já mencionadas queimadas (ou incêndios) populares:"incêndios constantes que os populares de todos os tipos e classes praticam, ateando fogo nos campos, nos morros e até em matos, nas redondezas das cidades, nas beiras de estradas, terrenos baldios".

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    QUEM SÃO OS VILÕES

    Miraci relaciona três tipos de incendiários:

    • alguns simplesmente maus - o fogo é seu único espetáculo,
    • os que crêem "amigos da natureza" - quando enxergam paisagens ressequidas, queimam para voltar o verde;
    • aqueles que entendem o fogo "como forma de afastar o terrível matagal das cercanias de suas residências, pois eles atribuem ao mato um foco de bichos, umidade, doenças, abrigo para ladrões, monturo de lixo, etc".

    Segundo ele, é fácil descobrir quando o incêndio é apenas acidental: basta examinar as condições do tempo comparando com disseminações e simultaneidade dos focos. E critica as posições oficiais, que se concentram em campanhas onde se gasta dinheiro, fazendo cartazes, mas são se gera melhora alguma na questão dos incêndios. Conclusão do ecologista: "Enquanto não reconhecermos que as queimadas populares são caso de polícia e que seus prejuízos são tremendos, o Brasil irá perdendo aos poucos sua fauna de pequenos animais, como passarinhos, caracóis, insetos, jabotis, outros pequenos répteis e até de animais grandes, assim como as flores silvestres, os capins ornamentais, ervas medicinais, etc. Também aumentará a poluição atmosférica e a desertificação". inicio desta página



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  • OPINIÕES

    ilustraçao - Dian Storch Confira algumas opiniões, coletadas por Miraci Samuel, de velhos, igualmente indignados com incêndios populares:

    • José Lutzemberger, ecologista mundialmente famoso - escreveu, em 1972: "O fogo está destruindo e desertificando o país de ponta a ponta (...), causando estragos inimagináveis, cada vez mais irreversíveis e de conseqüências cada vez mais calamitosas. (...) Se não conseguirmos em curso prazo de tempo a piromania nacional, estará nosso país condenado a transformar-se em um deserto e serão indescritíveis as calamidades que sofreremos. A provável e talvez já desencadeada inversão climática tornará então impossível a recuperação mesmo a longo prazo."

    • João Murça Pires, do Museu Paraense Emilio Goeldi, Pará - escreveu, em 1981: "Um dos graves problemas é o do fogo. Há um verdadeiro interesse lúdico, uma predileção a se atear fogo em tudo que se incendeia. (...) No território de Roraima, as majestosas serras estão todas causticadas pelo fogo desnecessário. (...) Nas redondezas de Brasília, bombeiros não conseguem dar conta do combate aos incêndios provocados".

    • Tom Jobim, músico - "(...) Mas que quer o Homem? Queimar a floresta, matar os índios e os bichos, engaiolar os pássaros e escravizar a mulher. Sempre falando em progresso e criando um deserto. Inventando miséria na terra da opulência. Brazil, Brasil, cadê o pau Brasil? Zona da Mata, cadê a mata?" (leia a íntegra deste texto, no site da Aipa)

    • Volker W. Kirchhoff, engenheiro - no livro Queimadas na Amazônia e Efeito Estufa (Editora Contexto), explicando que o Brasil é considerado campeão mundial de queimadas: "Aqui se queima hoje muito, sem necessidade. Queimam-se os Parques Nacionais, os campos cerrados secos e o capim de beira de estrada". (...) "parece que virou brincadeira favorita do brasileiro atear fogo ao capim seco das beiras de estradas". (...) "O brasileiro já se acostumou tanto com as queimadas que ninguém realmente se sensibiliza mais. É preciso reverter esta situação através de programas educativos".

    • Vitório Veloso, médico gaúcho - no livro A Evolução Social (Ed. Movimento), lembra que a população chegava a queimar para purificar o ar, nos tempos em que existiam as pestes terríveis, e ninguém conseguia descobrir as origens. Talvez seja essa uma das origens dos tristes costumes atuais...

    • José Carlos Rodrigues - no livro Tabu do Corpo (Editora Achiamé), descreveu como o homem reage contra as coisas das quais tem medo, inclusive a vegetação que "cresce sem parar, envolve e ameaça", usando o fogo como reação defensiva.

    • Pedro Luís Cianciulli, agrônomo, filho de oficial bombeiro de São Paulo - no livro Incêndios Florestais, relatando um enorme incêndio florestal: "Desse tipo de incêndio cujas causas se prendem à incúria dos nossos homens do campo, a meninos, marginais ou incendiários... que ateiam fogo nos bosques, encontramos argumentos básicos e fundamentados cientificamente nos trabalhos de psiquiatras como Emil Kraepelin e criminalistas como Ferri e Lombroso, que analisaram o comportamento do indivíduo em razão do ato incendiário".

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