"Para
o governo FHC, e para tantos outros, a resposta à pergunta acima,
sobre termelétricas, é afirmativa.
Para os ambientalistas - e até mesmo para alguns técnicos
do próprio governo - essa fonte de geração de energia
é prejudicial para a população.
Em época de apagão, além das infinitas dicas
de como economizar energia, as páginas dos noticiários
têm apresentado uma discussão bastante interessante sobre
o assunto. Afinal, nosso país já investiu uma grande soma
de recursos financeiros para trazer o gás natural da Bolívia
até aqui, a ser queimado nas turbinas das usinas termoelétricas.
Quando o governo federal anunciou o programa, seriam 49 grandes usinas
espalhadas por todo território nacional.
Mesmo com a Petrobrás anunciando que existe gás para
fazer funcionar apenas 18 usinas termoelétricas, o governo continuou
insistindo naquele número inicial, que somente foi alterado,
recentemente. A Agência Nacional do Petróleo (ANP) já
admite que serão instaladas 25 ou 30 usinas até 2003.
Até mesmo o setor privado calcula que serão 19 as usinas
construídas. E agora, em quem devemos acreditar?
MAIS PROBLEMAS: Na verdade, a questão
é muito mais séria do que esta confusão (mais uma)
criada pelo governo. As usinas termoelétricas são fábricas
que utilizam combustível (gás, neste caso) para produzir
eletricidade. Entre os problemas ambientais gerados pelas usinas, estão
o excessivo consumo de água para refrigerar os equipamentos do
sistema e a emissão de gases poluentes, como o óxido de
nitrogênio, responsáveis pela formação da
chuva ácida.
Várias usinas foram projetadas para serem instaladas em locais
onde a quantidade de água já é insuficiente para
abastecer a população. Um desses projetos é o da
usina termoelétrica de Bom Jardim (UTE-BJE), prevista para Jundiaí.
Segundo o projeto, esta usina utilizaria a água proveniente da
estação de tratamento de esgoto da cidade e, se necessário,
usaria água do rio Jundiaí.
Em 1999, o projeto da UTE-BJE foi apresentado em audiência pública,
cujos participantes (mais de 400 pessoas) vaiaram os americanos, donos
do projeto. Meses depois, os empresários anunciaram o adiamento
do projeto e até hoje não se tem notícia desta
usina.
Mais do que vaias, manifestantes de Americana saíram "no tapa"
quando da apresentação do projeto da usina termoelétrica
Carioba 2, que pretende utilizar água do rio Piracicaba para
refrigerar os equipamentos da usina.
Ambos os projetos - das termoelétricas de Jundiaí e
de Americana - têm em comum estarem situados em áreas extremamente
críticas em termos de abastecimento de água. Segundo a
Agência Nacional de Água (ANA), cada uma dessas usinas
consumirá água suficiente para abastecer de 40 mil a 65
mil habitantes por mês.
O mesmo problema acontece no Estado do Rio de Janeiro, onde três
térmicas estão previstas na bacia do rio Guandu, que abastece
a capital carioca.
LUZ NO FIM DO TUNEL? - Se termoelétricas
representam tantos problemas e se todos precisamos de energia, há
luz no fim do túnel? A resposta é afirmativa, uma vez
que existem formas alternativas - e não poluentes - de gerar
energia em nosso país.
Um exemplo: recente pesquisa apontou que o Brasil tem potencial para
gerar uma quantidade de energia eólica (a partir do vento) que
chega a 120% da capacidade já instalada e produzida pelas hidroelétricas.
Ou seja, nosso país conseguiria mais do que duplicar a quantidade
de energia produzida somente usando a força dos ventos.
Mas por que o governo
não incentiva a instalação de parques eólicos?
Talvez porque esteja com medo de que São Pedro, que já
cortou a chuva, corte também o vento..."
Flavio Gramolelli
Engenheiro químico e
diretor do Coati (Centro Orientação
Ambiental Terra Integrada)
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