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QUEREMOS ÁGUA LIMPA!!!

(Publicado no URTIGA 149 - março-abril 2002 - pág. 1)

Sapurtiga resolve entender
a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico
do IBGE. Confira suas conclusões
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Editorial do Jornal Urtiga 149
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EM DEFESA DO "MEU" AMBIENTE           SAPO QUER ÁGUA

IHHH!! ESGOTO!!            QUANTO LIXO!!

  DRENAGEM POR AQUI?        E AGORA???

         

Sapurtiga é daqueles sapinhos que fundariam a "associação de defesa do meu ambiente". Vive preocupado com a qualidade ambiental do lugar onde mora e faz tudo para defender seu brejo contra a sujeira. Mas ele também se aflige com a saparia de outras regiões, seus parentes.

Por isso, assim que soube que o IBGE anunciou os resultados de uma pesquisa sobre serviços de água e saneamento em todo Brasil, foi correndo buscar os jornais do dia, para saber mais sobre a situação. Afinal, quem consegue viver sem água limpa? pensava ele no caminho.

Quando começou a ler as notícias, Sapurtiga quase se afogou na quantidade de números. Ficou confuso mas, como é persistente, foi tentando compreender.

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Sapo quer água... - Felizmente, raciocinou, o abastecimento de água já atende quase todos brasileiros: ele existia em 95,6% dos municípios em 1989, agora atinge 97,9%! Só que então ele lembrou que cada município divide-se em distritos. E, dos 9.948 distritos do país, só 88,8% estão na rede. Antes de viver em município ou em distrito, a gente vive na casa da gente. Havia um terceiro número nas notícias, ainda pior que o dos distritos: a água encanada chega a menos de 2/3 dos domicílios brasileiros (63%)!

Tentando ser otimista, ele concluiu: pelo menos é água pura na torneira de quem tem acesso a ela. Foi aí que chegou a outros números dos jornais. Em 4.236 distritos (quase metade dos distritos brasileiros) a captação é feita nos cursos d’água. Ocorre que um terço destes cursos sofre com a poluição: é água suja, portanto. Em geral, o problema é despejo de esgotos in natura nos rios. Mas tem também a poluição por agrotóxicos, por mineração, lixo, despejos industriais. E ele soube que, em 1989, 96% de água encanada era tratada. Em 2000, o índice tinha caído para 92,8%.

Sapurtiga não estava disposto a ficar mal humorado. Portanto ele, que não vive sem água, voltou a se contentar ao saber que a captação do precioso líquido subiu de 200 para 260 litros por pessoa/dia. Mas logo teve outra decepção: de um lado, essa quantia inclui a água fornecida às indústrias, que é bastante. De outro, ocorrem enormes perdas no caminho do rio para os consumidores: de cada 100 litros captados, as empresas só faturam 62. Ou seja, 38 litros são água perdida, que vazou pelo caminho ou... teve erro na medição! E se há tanta água para cada brasileiro, duvidou nosso amigo, como o jornal afirma que tem racionamento em 1709 distritos do país? inicio desta página





Ihhhh! Esgoto!! - Sapurtiga sempre sentiu na pele o problema dos esgotos, já que rios e brejos vivem recebendo água suja das cidades e dos campos. Então, resolveu ficar otimista ao saber que - de 47,3% municípios com coleta de esgoto em 1989 - passamos para 52,2%, em 2000. Só que, quando prestou atenção nos detalhes, foi ficando cada vez mais bravo.

Em primeiro lugar, percebeu que só pedaços dos municípios são beneficiados. Ele leu que 2/3 dos distritos brasileiros (66,2%) ainda não contam com a coleta de esgotos. Quanto ao número de casas, só 1/3 está ligada à rede de esgoto.

Outro problema: esgoto coletado não quer dizer esgoto tratado. De cada 100 litros de esgoto coletado, 84 são despejados in natura diretamente nos cursos d’água. Com um detalhe: a pesquisa não avaliou a qualidade dos serviços, apenas quantidade. De que adianta coletar, pensou ele, se a sujeira vai direto pro meu brejo, ainda mais concentrada??? inicio desta página




Quanto lixo! - Sapurtiga resolveu mudar de assunto. Procurou informações sobre lixo, que também faziam parte da pesquisa. Ficou mais animado: em 1989, de cada cem municípios, só dez tinham aterro sanitário (10,7%). Em 2000, já eram 32,2% com aterros. O ideal é que todo o lixo seja coletado e tratado, mas já é um consolo saber que 1/3 dos municípios estão bem servidos, avaliou. E ele viu outros números, ainda mais positivos: quando se considera o lixo pelo peso, 47,1% do total (quase metade) tem como destino os aterros sanitários, 22,3%, vão para aterros controlados e só 30,5% acabam nos lixões. Com o tempo e mais educação, concluiu, vão parar de jogar lixo no meu brejo...

Então ele leu que o Brasil produz 162 mil toneladas diárias de lixo, ou seja, cada brasileiro gera quase um quilo de resíduos sólidos por dia! Começou a reclamar: quanto desperdício, quantas coisas as pessoas jogam fora que poderiam ser reutilizadas, ou pelo menos recicladas... O papel deste jornal, por exemplo: se for misturado com comida no lixo, não dá mais para reciclar....

Sapurtiga espantou-se com outro dado, sobre catadores de lixo: 1548 municípios forneceram informações ao IBGE, o que somou uns 24 mil catadores no país. Ele concordou com alguns entrevistados, que acharam absurdo o fato de um quinto das pessoas nesta atividade terem menos de 14 anos. inicio desta página




Drenagem por aqui? Sapos adoram brejos, por isso Sapurtiga adiou o quanto podia a leitura do último tema da pesquisa do IBGE, para ele, mais desagradável - drenagem. "Será que vão querer secar até meu brejo?", resmungou. Aí leu uma informação que classificou como esquisita: mais de ¾ dos municípios (78,6%) declararam que possuem sistemas de drenagem.

Em quase todas cidades, é só acontecer uma chuva de verão, que tem inundação. Que drenagem é essa? perguntou para si mesmo, prestando atenção em outro dado:em quase ¾ dos municípios brasileiros (73,4%) não há controle sobre esta questão. Nos outros, a regulamentação está, em geral, na Lei de Uso e Ocupação do Solo. inicio desta página

 




  E agora? Alguns comentários dos jornais, Sapurtiga achou óbvios demais. Por exemplo, que a região Sudeste seja mais bem servida de que o Norte e Nordeste do país, tanto no abastecimento de água, quanto nos serviços de esgoto. Ou que municípios menores tenham menos estrutura de que os maiores. Terceira obviedade: todos querem dinheiro para consertar os problemas.

Um jornal dizia que, para universalizar os serviços de água e esgoto, seria preciso investir 4 bilhões de reais por ano e que o governo nunca gastou isso nesta área. Outro mencionava a cobrança pelo uso da água, que vai começar no Rio Paraíba, pois cobrando pela água tudo iria melhorar (hoje, a gente só paga pelos serviços de distribuição e tratamento).

Também tinha uns comentários sobre privatização do setor. Ele lembrou de todas acusações em torno da privatização dos serviços de esgoto, em Itu, e das pessoas reclamando do aumento de preço de serviços já privatizados, em outras áreas, sem melhoria de qualidade.

Sapurtiga rememorou um aviso do Cacique Seattle, de 1854: "Contaminem suas camas e uma noite serão sufocados pelos próprios dejetos!". E torceu para que todos os humanos do Brasil lutem pela água limpa e o ambiente bem tratado para todos, inclusive os sapos.

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