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CANCRO CÍTRICO NÃO É PROBLEMA

(Comentário publicado no Urtiga 150 - maio-junho 2002 - pág. 2)


Texto publicado pela primeira vez no Urtiga 132 - maio/junho 1999 - e agora republicado em homenagem a este ecologista que se tornou famoso internacionalmente pela luta contra os agrotóxicos e em favor de um ambiente melhor.

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"Cometeu-se, há anos atrás, um incrível vandalismo oficial que afetou centenas de citricultores brasileiros. A Campanha Nacional para Erradicação do Cancro Cítrico conseguiu quase exterminar a citricultura do Paraná e só não levou adiante este objetivo no Rio Grande do Sul por causa da forte e determinada posição de alguns poucos ecologistas. Quando encontravam sintomas desta doença numa folha de uma árvore, de um viveiro ou pomar, cortavam e queimavam impiedosamente todas as plantas cítricas de todo um município. Não adiantavam protestos. Era um ato de guerra. Felizmente, a campanha acabou morrendo, depois de duras discussões e, inclusive, processo judicial.

A filosofia que fundamentava a ação da campanha parte de um postulado errado: o agente patogênico, bactéria Xanthomonas citri, é considerado inimigo feroz, capaz de, quando presente junto a qualquer planta cítrica, acabar com todo um pomar, viveiro e até com a citricultura brasileira. Se isso fosse verdade científica teríamos de erradicar, por exemplo, todas as parreiras atacadas por bacterioses ou, exagerando, todos os seres vivos que tivessem uma bactéria no seu organismo.

Na realidade, parasitas e agentes patogênicos não são inimigos arbitrários todo poderosos na destruição. Se assim fosse, a Humanidade teria sucumbido às epidemias de pestes. Epidemias só afetam parte de uma população e os sobreviventes saem vacinados. Pragas e parasitas são indicadores biológicos que nos dizem estar nossas plantas ou animais doentes ou desequilibradas. Elas não têm vez em organismos sadios, metabolicamente equilibrados.

A solução não está na erradicação. A bactéria do cancro cítrico vive em diversas partes do planeta e em diversas plantas da família das Rutaceas (dos citros). Se os órgãos oficiais pretendem fazer um trabalho realmente científico, sério, racional e humano (e todos queremos ajudá-los nisso!), terão de inverter a atual filosofia de trabalho. Vamos ensinar aos citricultores métodos de cultivo que produzam plantas sadias que não precisam temer o cancro. Nossa citricultura está hoje vulnerável a tanta doença e praga pois os atuais métodos de cultivo estão errados. Em toda parte vemos pomares doentes, com folhas amareladas, cloróticas, pois a maioria dos agricultores, seguindo orientação dos técnicos governamentais, insiste em lavrar profundo, em fazer lavoura de milho e mandioca entre as linhas de árvores já com espaçamento insuficiente, e usar adubos nitrogenados amoniacais em altas quantidades, como uréia e sulfato de amônio, além de abusar de agrotóxicos como os herbicidas, fungicidas e inseticidas que desequilibram a fisiologia das plantas.

Vamos ensinar ao citricultor a melhorar os pomares e a fazer viveiros bem feitos, dentro dos conceitos de uma agricultura ecológica: espaçamento adequado, enxertos que levem em conta resistência e afinidade, nunca lavrar profundo, manter cobertura com leguminosas e plantas nativas que nunca será capinada, apenas roçada, adubação orgânica bem madura, de estercos bem compostados ou de biofertilizante maduro, adubação mineral de solubilidade lenta, aplicações não de venenos, mas de substâncias que fortaleçam as plantas e quebra-ventos.

Trabalhos preventivos, para se contrapor ao alastramento do cancro enquanto a maioria das plantas for suscetível, deverão se limitar a localizar e tratar as plantas afetadas e a manter o viveiro ou pomar em quarentena até o desaparecimento total de infecções. Após, poderão ser liberados."


José Lutzenberger e Equipe Técnica da Fundação Gaia - 1999

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Texto publicado pela primeira vez no Urtiga 132 - maio/junho 1999 - e agora republicado em homenagem a este ecologista que se tornou famoso internacionalmente pela luta contra os agrotóxicos e em favor de um ambiente melhor.

Lutz, como era conhecido, faleceu em 14 maio, poucos dias antes da morte de dois outros cientistas, importantes divulgadores da ciência: o brasileiro José Reis (em 16 de maio) e o norte-americano Stephen Jay Gould (21 de maio).



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