Uma
pesquisa realizada em 9 países por uma coalizão de 25 organizações
(auto-intitulada Access Initiative) quis detectar quem decide sobre assuntos
ambientais nas diferentes nações. A intenção
era medir o acesso da população às informações
nesta área, bem como a possibilidade de indivíduos e/ou
grupos organizados influenciarem as decisões, ou de acionarem a
justiça (ou outros instrumentos) para alterarem decisões
prejudiciais ao meio ambiente. A pesquisa abrangeu países das Américas
(Chile, México e EUA), Europa (Hungria), Ásia (Indonésia,
Índia e Tailândia) e África (África do Sul
e Uganda). Os resultados são no mínimo curiosos.

Acesso à informação - O relatório
preliminar, divulgado no final de 2002, concluiu que há muitos
pontos em comum entre países tão diversos. Um exemplo
está no acesso às informações ecológicas,
divididas pelos pesquisadores em 4 tipos: 1- assuntos que mexem com
o dia-a-dia das pessoas, como poluição do ar e da água;
2- impactos de longo prazo que, se conhecidos, ajudariam o público
a escolher políticas ambientais que minimizem (ou impeçam)
problemas futuros; 3- poluição gerada por indústrias
(ajudaria ONGs, investidores e consumidores a pressionarem quem polui),
4- emergências (por exemplo, acidentes ambientais).
Uma tabela resumiu o resultado deste quesito. Se, na maior parte dos países pesquisados, o acesso às informações ambientais foi considerado bom quanto aos relatórios nacionais sobre o meio ambiente, à divulgação da qualidade do ar nos grandes centros urbanos, e acidentes ambientais importantes (que chamam a atenção da mídia), o nível de informações sobre poluição das indústrias foi classificado como baixo, assim como as sobre qualidade de água.

Processo
decisório: As dificuldades crescem a partir do segundo ponto,
ou seja, identificação de como ocorrem as decisões
na área ambiental (se e como o público consegue influir;
de que forma o poder público considera os questionamentos - a
pesquisa buscou saber, por exemplo, quem é notificado sobre decisões
pendentes, e leis garantindo a participação pública
para estas decisões). Também uma tabela-resumo mostrou
que, em geral, os países pesquisados têm leis que permitiriam
ao público questionar políticas e atividades degradadoras.Um
dos entraves, porém, seria a não incorporação
de questões ambientais em áreas específicas, como
projetos de mineração ou na área de energia.
O estudo mostra que,
em muitos casos, não se promove a consulta pública antes
da tomada de decisão. Isto acontece em âmbito nacional
e, freqüentemente, em projetos regionais ou locais. A obrigatoriedade
de Estudos de Impacto Ambiental (EIA) muda este quadro apenas parcialmente.
É que, mesmo quando o EIA é obrigatório, nem sempre
o público tem acesso às informações levantadas
ou, mesmo que tenha, raramente isso permite influir no processo decisório.
O acesso à informação é mais comum para
projetos maiores, de maior impacto. Mas, até nestes casos, os
dados chegam ao público no momento em que é dificílimo
mudar decisões já tomadas. Pior, no entanto, é
quando o EIA não é obrigatório. Aí, segundo
a pesquisa, quem sofrerá os impactos na pele quase sempre é
simplesmente esquecido ou ignorado.
No
último quesito, a pesquisa buscou saber se indivíduos
ou/e grupos organizados conseguem apelar ao Poder Judiciário,
para exigir compensações para prejuízos ecológicos
(ou a correção do/s problema/s), causados por falhas na
informação ambiental, ou pela má gestão
do setor, ou ainda por políticas públicas danosas ao ambiente.
A conclusão é pouco animadora, na maioria dos países
avaliados. De um lado, as leis não esclarecem quais as informações
devem ser de domínio público. Por outro, em vários
países, é difícil usar o recurso judicial, seja
pelo custo excessivo, pela demora do resultado de uma apelação
ou pela complexidade dos processos judiciais
Governança
em discussão: Citada no relatório World Resources
2002-2004 - produzido pela ONG norte-americana World Resources Institute
(WRI), com o Banco Mundial (Bird), e os programas de Desenvolvimento
e do Meio Ambiente da ONU (Pnuma e Pnud) - esta pesquisa serve para
apresentar uma nova expressão: Governança Ambiental. O
que seria isso? O exercício da autoridade sobre o meio ambiente
e os recursos naturais. Para entender como ela funciona, o relatório
recomenda responder perguntas sobre como as decisões são
tomadas e quem é envolvido nisso.
Eis alguns exemplos
de questões. Quem deve participar da decisão de construir
(ou não) uma estrada, represa, usina, ou qualquer empreendimento,
que sempre tem impactos ambientais? Quem tem, de fato, acesso às
informações ambientais? Quem determinará os limites
para explorar um ecossistema, ou um recurso natural? Deveriam quaisquer
indivíduos ou grupos organizados ter direito a contestar projetos
que consideram prejudiciais ao meio ambiente? E como os direitos democráticos
aplicados às questões ambientais evitariam a degradação
(poluição do ar, da água, extinção
das espécies, etc) que vem ocorrendo em outros processos de tomada
de decisão?
A hipótese colocada
no trabalho do WRI/Bird/Pnuma/Pnud é que quem decide (pessoas,
grupos) influencia o resultado da decisão. E que, se hoje vivemos
problemas ecológicos graves, isto se deve à má
governança ambiental...
Em outras palavras:
seria preciso garantir a ampla divulgação de tudo que
se relacione ao meio ambiente, bem como a igualdade e equilíbrio
entre os diferentes setores, para chegar às melhores decisões
na área ambiental. Decisões estas que devem objetivar
o manejo sustentável dos ecossistemas (usar os recursos naturais,
sem degradar). O que, diga-se de passagem, não é fácil,
tendo em vista, entre outros: 1- a enorme diversidade de ecossistemas,
e de usos dos recursos naturais, e 2- que os impactos são cumulativos,
tornando mais difícil a regeneração ambiental.
Nova Atitude: Estes são apenas alguns aspectos da proposta
de governança ambiental. O relatório do WRI/Bird/Pnuma/Pnud
é recheado de fatos e estatísticas. Por exemplo: o mau
uso já levou à degradação de 65% dos solos
agrícolas. Dados como este mostrariam a necessidade de uma nova
atitude perante o meio ambiente, pela qual as informações
chegariam para todos os públicos; as decisões seriam compartilhadas
entre os mais diversos setores, e ações para agilizar
a correção de erros seria facilitada.
Trata-se de tema a ser
considerado e discutido por aqui, num momento cheio de novas promessas
e propostas esperançosas que fazem parte das mudanças
que vivemos no governo federal.

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