"Em breve, o Brasil terá sua primeira Conferência
Nacional das Cidades (outubro) e do Meio Ambiente (novembro). A experiência
anterior, que as inspira, é na área de saúde, que acompanho,
como médico e membro dos conselhos de saúde do município
e do estado de São Paulo. Na área de saúde, a proposta
surgiu a partir dos movimentos populares de saúde, em geral criados em
torno de certos hospitais e centros de saúde. Constituiam-se, em grande
parte, por populares, como esposas de usuários dos serviços de saúde,
que exigiam melhorias dos mesmos. Lideranças políticas começaram
a coordenar diversos grupos, a partir do que surgiu a idéia dos conselhos
de saúde, municipais, estaduais e nacional, com composição
paritária entre usuários, prestadores e governo. Inicialmente
em nível municipal, depois em estadual e nacional, criaram-se conferências
de saúde, como que grandes assembléias, cujas decisões orientariam
os Conselhos, tornando-se, teoricamente, os órgãos máximos,
que definem a política de saúde do país. Eis algumas características
e problemas destas conferências na área da saúde:
-
A
composição de seus delegados tem os mesmos critérios da dos
conselhos. Mas o número depende da disponibilidade de locais e verbas para
realizar conferências locais. Muitas vezes, a escolha não recai sobre
as pessoas melhor informadas, com visão ampla do setor de saúde.
-
Quanto ao temário das conferências, muitas vezes escolhem-se assuntos
de interesse local e momentâneo, ou de cunho partidário, sem importância
para um planejamento técnico amplo, de longo prazo. E falta instância
com poder de filtrar as propostas. Por isso, todas são levadas à
discussão plenária que, em geral, aprova mais de uma centena de
proposituras (resoluções), posteriormente publicadas como diretrizes
da política de saúde. -
Ainda sobre o temário: na teoria, haveria uma certa hierarquia: conferências
municipais levantariam problemas próximos aos usuários. Da análise
destes, surgiria o temário das 27 Conferências Estaduais (26 estados
e Distrito Federal), cujos resultados seriam coordenados entre si, para gerar
a Conferência Nacional. Mas na prática, o espaço de tempo
entre os diversos níveis de conferências é mínimo,
e praticamente nenhuma instância envia suas resoluções, em
tempo hábil, de forma a permitir a análise e coordenação
de todas as resoluções. -
Revendo
resoluções das Conferências de Saúde anteriores, verificaremos
que a maioria se repete na seguinte. Alguns motivos: -
a maioria
dos delegados ignora as decisões anteriormente tomadas; -
autoridades
sanitárias raramente tomam conhecimento das mesmas; -
os próprios
Conselhos de Saúde, municipais, estaduais, nacional, em geral, ignoram
as resoluções das conferências.
Em vista desta pequena e superficial análise, chego
à conclusão de que conferências temáticas são
bons exercícios de cidadania. Porém, na forma como vêm sendo
organizadas, não possuem eficácia prática.”
Juljan
Czapski, médico com mestrado em Saúde Pública,
é presidente da AIPA.
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