Pouca atenção
se deu em abril a esta notícia: após quase sete meses a bordo da
Estação Espacial Internacional (ISS), os astronautas Salizhan Sharipov
(russo) e Leroy Chiao (americano ) contaram, com tristeza, como se vê a
Terra lá do espaço. Não é mais o Planeta Azul, descrito
por Yuri Gagarin, primeiro homem a chegar lá há 44 anos. Nem só
coberto por nuvens, como poetizou o compositor Caetano Veloso. Em 2005, os astronautas
testemunharam escuras nuvens de poluição tampando nossa Mãe
Terra. "Vimos a contaminação que a indústria produz. Especialmente
no sudeste asiático, a cortina de fumaça nos impedia de fotografar
a região", destacou o russo.
Terão eles visto, lá de cima, o desmatamento da Amazônia?
Pela extensão do estrago, imaginemos que sim. Mas certamente, muitos desastres
ambientais brasileiros, que até matam, são invisíveis do
espaço sideral. No Parque Estadual Turístico do Alto do Ribeira
(Petar), por exemplo, um inexplicado deslizamento de terra soterrou, além
de quatro casas, uma caixa de contenção de rejeitos tóxicos
da Plumbum, mineradora de chumbo. A região é famosa pelas belíssimas
cavernas e exuberante mata atlântica. Os 30 mil turistas por ano são fonte
de renda para a população local.
A Cetesb (agência ambiental paulista) já pedira medidas preventivas
à empresa, para evitar contaminações. Nada se fez, não
houve reação. Então, segundo a mídia, o deslizamento
contaminou cursos d'água que abastecem a população, servem
para a pesca e nado. Chumbo, como se sabe, pode causar gravíssimas doenças
neurológicas. Previsíveis,
outros desastres estão por vir junto com grandes obras, cuja aprovação
passa por estranhos meandros. Numa época em que a ética está
em pauta, em que se vê o desperdício de dinheiro público em
benefício de poucos, vale à pena citar pelo menos dois casos, noticiados
na grande imprensa. Na divisa de Santa Catarina com Rio Grande do Sul, ambientalistas
estão perdendo a luta para barrar o enchimento dos reservatórios
da Usina de Barra Grande.
O estudo de impacto ambiental apresentado pela Baesa (Energética Barra
Grande SA), foi aprovado pelo Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos
Naturais Renováveis), graças a mentiras. Cerca de 2,7 mil hectares
de preciosa floresta primária de araucárias, com espécies
ameaçadas de extinção, e outro tanto de florestas secundárias
irão por água abaixo, literalmente. Mas o estudo só mencionou
vegetação sem importância. Com falsas palavras, e sem verificação,
veio a estranha autorização para encher o lago.
A verdade veio à tona, pela mídia. Foi escândalo nacional. Mas,
em julho, por decisão do presidente do Tribunal Regional Federal, desembargador
Vladimir Passos de Freitas, o Ibama novamente pôde conceder a Licença
de Operação à Hidrelétrica. Motivo? É que a
obra teria consumido R$ 1,3 bilhão. Ao encher o reservatório, afogam-se,
num único pacote, a ética, a crença de que dá para
exigir seriedade nos estudos e obras públicas, e a sobrevivência
de espécies que nunca mais teremos chance de conhecer!
O drama se repete com as 40 usinas hidrelétricas projetadas no rio Xingu.
É importante área de floresta amazônica, habitada por dezenas
de povos indígenas. A proposta é polêmica desde os anos 1970.
Por isso, até nomes mudaram. O que se chamaria usina Kararao, agora é
Belo Monte, nome mais light, para a primeira destas usinas.
Para que servirá tanta energia? Mostra um estudo do Instituto Socioambiental
(socioambiental.org.br) que, segundo alguns, ela alimentaria o Sistema Elétrico
Nacional. Mas outros revelam a intenção de garantir a produção
de indústrias eletrointensivas, como cimento e alumínio. Não
é à toa que a Companhia Vale do Rio Doce, com 4 indústrias
de alumínio na região, mostrou interesse em participar do empreendimento.
Nas últimas décadas,
o chamado progresso gerou mais conforto, sobretudo para classes privilegiadas.
Mas a miséria, o desperdício e destruição de recursos
naturais permanecem. Em nome do consumo, criam-se novos projetos que destroem
a natureza e põem em perigo grupos humanos. Tudo com belos discursos, mas
práticas... nem tanto. Num momento em que se fala de mudanças profundas
na política, também aqui é momento de mudar .

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