BASTIDORES DA HISTÓRIA Não
é à toa que Paulo Nogueira-Neto é sócio honorário
da AIPA. Referência na história ambiental desde 1954, quando fundou
a Associação de Defesa do Meio Ambiente e se engajou na luta para
preservar a mata nativa do Pontal do Paranapanema (extremo oeste paulista), ele
acompanha a AIPA desde sua fundação, em 1986, tendo oferecido apoio
técnico e institucional em várias ocasiões.
"Em 1954, perdemos a batalha. Jânio
Quadros, que era governador do Estado, não criou a reserva no Pontal. Hoje
a única área preservada por lá é o Morro do Diabo,
que abriga o mico-leão de cara preta", relembra o professor emérito
do Instituto de Biologia da USP que, aos 83 anos, divide-se entre dezenas de funções:
preside o Conselho de Administração da Cetesb (agência ambiental
paulista) e o da Fundação Florestal de São Paulo, é
membro do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente), vice-presidente da ong
WWF-Brasil, e pesquisa a vida das abelhas nativas, paixão que guarda desde
os 18 anos. Em 1972, Nogueira-Neto
não participou da Conferência Internacional sobre o Meio Ambiente
Humano, primeiro grande evento sobre o tema promovido pela ONU, em Estocolmo,
Suécia. Mas se recorda da reação cética no Brasil,
onde se espalhava que exigir cuidados ambientais representaria uma conspiração
contra o País. Ele ilustra o preconceito lembrando um anúncio jornalístico
da época. Para atrair indústrias, diz ele, um jornal de Goiás
proclamou: "tragam sua fumaça para cá".
Dois anos depois, para sua surpresa, o ministro do Interior, Henrique Brandão
Cavalcanti, que estivera em Estocolmo, convidou Nogueira-Neto para dirigir a recém-criada
Secretaria Especial de Meio Ambiente (Sema), primeiro órgão ambiental
do governo federal. Com poucos funcionários, mas apoiado pelo Ministério,
que tinha recursos para desapropriar terras, ele chefiou a Sema até 1986.
Nestes 13 anos, foram criadas
13 milhões de hectares de áreas protegidas. E o setor ganhou sua
mais importante lei, até hoje em vigor. "Fizemos a Lei 6938/81, da Política
Nacional do Meio Ambiente, que impôs os Eia/Rima (estudos e relatórios
de impacto ambiental). Primeiro, a indústria reclamou, mas hoje é
um instrumento aceito." Nogueira-Neto
também foi o único brasileiro a integrar, de 1983 a 87, a Comissão
Brundtland, criada pela ONU para promover um diagnóstico ambiental do planeta.
No relatório final, intitulado Nosso Futuro Comum, consta o conceito de
desenvolvimento sustentável, criado pela Comissão, onde, pela primeira
vez, falou-se em garantir bem estar no só desta, mas também das
futuras gerações. O meio seria unir desenvolvimento econômico
com cuidados ambientais e justiça social. "Concluímos
que miséria e crescimento demográfico são o outro lado da
degradação ambiental. Ambos têm de ser combatidos junto".
A realização da Eco-92 (Conferência da ONU sobre Meio Ambiente
e Desenvolvimento, que aconteceu no Brasil), ensina o professor, também
foi decidida por esta comissão.
.
QUAL O CAMINHO?
Mas é mais fácil falar em combate à pobreza no mundo, de
que colocá-lo em prática. O relatório Brundtland, diz ele,
pediu US$ 250 milhões por ano para a ONU, por 20 anos, para eliminar a
miséria. O dinheiro não veio. Mas, até hoje, o mundo gasta
US$ 600 milhões anuais em armamentos. "O melhor que se pode fazer com armas
é não usá-las. E elas consomem mais que do dobro do necessário
para erradicar a miséria", lamenta Nogueira-Neto As
companhias, para sobreviverem, prossegue o cientista, têm de reduzir ao
mínimo o uso de mão de obra. Do ponto de vista social, o desemprego
não é sustentável, diz ele. Veja-se a situação
de miséria de milhões de brasileiros, que só não é
pior, porque em regiões como a Amazônia, a disponibilidade de peixes
garante uma reserva nutricional.
A contradição não para por aí. Em algumas áreas
de extrativismo, habitantes estão perdendo o conhecimento tradicional,
que garantia a sobrevivência sem destruir a natureza. É o caso do
Seringal Nova Esperança, no Acre, que se tornou reserva ecológica,
com apoio de Nogueira-Neto. Com a queda do preço do látex, as 50
famílias de lá deixaram a extração. "É conhecimento
que passa de pai para filho, saber onde a árvores está na floresta,
o quanto se pode retirar, entre outros detalhes."
Hoje, diz ele, só duas famílias ainda sabem como fazer. Por isso,
mesmo que o preço do látex tenha subido, sobrevive-se lá
só com a coleta de castanha e plantio de produtos de subsistência.
Agora o cientista transmite seus conhecimentos, para que também criem abelhas
nativas. Sem medo de gerar
polêmicas, Nogueira-Neto fala dos organismos geneticamente modificados em
laboratório (transgênicos). Rejeitados por ambientalistas, pelos
perigos que oferecem, eles já são realidade admitida por lei. Se
as indústrias quiserem ter novos transgênicos no futuro, diz ele,
terão de proteger a biodiversidade, conservando nossas áreas nativas.
É que lá estão novos genes, para novos experimentos.
O especialista dá um exemplo de perigo ambiental decorrente das variedades
transgênicas. "Há um algodão transgênico que incorpora
bacilo turiginensis, para combater aqueles insetos que seriam pragas. Ainda não
há comprovação científica mas, pela lógica,
as abelhas que buscam a flor de algodão poderiam morrer", avisa. O prejuízo
também é econômico: abelhas são importantes polinizadoras,
o que contribui com o aumento da produtividade agrícola.
Otimista por natureza, Nogueira-Neto acredita que todos problemas - inclusive
os ambientais - são solucionados, se houver vontade para tal. Em nível
mundial, ele notou uma queda nos debates ambientais na última década.
Mas, com a entrada em vigor do Protocolo de Kyoto em fevereiro de 2005, o panorama
começou a mudar.
O objetivo do Protocolo é baixar, em 7 anos, 5% das emissões de
gases-estufa, como carbono (responsáveis pelo aquecimento da temperatura
mundial). Para tanto, previu os chamados Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL),
pelos quais países desenvolvidos patrocinam projetos de redução
destas emissões nas nações em desenvolvimento (como Brasil),
em troca de certificados ambientais.
Todos sabem que Kyoto não é suficiente, mas é o primeiro
passo para reduzir o impacto da mudança mundial do clima, avalia Nogueira-Neto,
adepto das soluções graduais. Ele revela acreditar muito na educação
ambiental, como instrumento de conscientização. Para ele, a experiência
da AIPA nesta área, em Itu e Salto, é muito importante e merece
o apoio de empresas e do poder público. É o caso do Programa Hortas
Escolares sem Agrotóxicos, que atualmente busca apoio empresarial, para
também chegar às escolas públicas ituanas
NOVA
DIRETORIA
A AIPA deve realizar, nas próximas semanas, a assembléia geral -
que reúne o Conselho Diretor e representantes das diferentes categorias
de sócios -, para eleger a nova diretoria. A entidade nasceu há
quase 20 anos (fevereiro de 1986), numa época em que quem falava do tema
era visto como "xiita ambientalista", "contra o progresso". O tempo demonstrou
o contrário. Hoje, educação ambiental é obrigatória
por lei nas escolas, gestão ambiental é fundamental nas empresas
e até gera redução de custos nos sistemas produtivos. A maioria
das Ongs, por sua vez, assumiu o papel de apoiar a inserção da agenda
ambiental, em todos setores. É
este o desafio da AIPA, que a nova diretoria deve enfrentar: conseguir sustentabilidade
econômico para suas ações, como o programa de Educação
Ambiental mencionado pelo sócio honorário Nogueira-Neto, sem abandonar
a perspectiva crítica, que é a base para encontrar novos caminhos
ecologicamente viáveis para a região. |
ENTRE
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Educação Ambiental (AIPA-Recicla, "Hortas Escolares sem Agrotóxicos",
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em ter projeto "Hortas Escolares sem Agrotóxicos", empresas interessadas
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aipa@aipa.org.br (observação:
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