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CIDADE NOVA PEDE A AÇÃO DAS AUTORIDADES

(Publicado no URTIGA 168 - julho/setembro 2005- pags. centrais)

 



Asfalto é campeão dos pedidos. Mas será a solução correta?
Confira .
ORGANIZAÇÃO
ESCOLHENDO O TIPO DE PAVIMENTAÇÃO
QUEM DEVE AGIR?

 

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650 APELOS POR MELHORIAS

a caminho (foto Silvia Czaspki)

"Meu nome é Bárbara Michaele Farias da Costa. Tenho 13 anos. Eu moro nesta rua e nesta casa que estão vendo nesta foto. Seria bom se a rua fosse asfaltada. Uma vez, passaram piche. Mas não adiantou nada. Minha avó já caiu várias vezes. A rua só mudou um pouco mas continua ruim... Quero um bairro cheio de alegria, com muitos centros de lazer, com as ruas todas asfaltadas. Também deveria ter um parque, tipo o do varvito, para nós estudarmos, namorarmos e tudo mais. Também queria muitas luzes, policiamento, etc. Por exemplo, a avenida: (...) deveria ter bastante policiamento, para que não acontecessem mortes e atropelamentos. Também deveria ter bosque, campo, quadra, pistas de skate e pista de bicicleta. (...) Isso só é a metade que eu gostaria que a Cidade Nova tivesse".

Trazendo a foto de uma casa em rua de terra, carcomida pela erosão, a redação de Bárbara, estudante de 7ª série, foi uma das duas sorteadas para ser comentada, ao vivo, pelo prefeito de Itu, Herculano Jr. Era domingo, 5 de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente. Pela primeira vez, o recém inaugurado Centro de Esportes do Pirapitingui, vizinho ao Hospital-Colônia Francisco Ribeiro Arantes (para hansenianos), recebia um evento sob antigos eucaliptos.

Os problemas na região são muitos, admitiu o prefeito, para quem, parte das soluções foi prevista em seu plano de governo, mas cuja viabilização depende de equacionar as finanças do município, quebradas na gestão anterior, do ex-prefeito Lázaro Piunti. Mesmo com pouca verba, disse, o novo centro de esportes foi inaugurado, com quadras, coberta e aberta, play ground, pista de atletismo. O administrador do novo parque aproveitou para um apelo: "Cuidem bem do espaço, que é de todos".

"É pena que só tenham confirmado o local na véspera. Muitas famílias tiveram medo das crianças atravessarem a pista (Rodovia Waldomiro Correa de Camargo) para vir", avalia Marcelo Mattiuci, coordenador de Educação Ambiental da Associação Ituana de Proteção Ambiental (AIPA). Foram 650 trabalhos entregues de 15 de maio (lançamento da iniciativa "Bairro Que Tenho - Bairro Que Quero") a 3 de junho (data-limite para entrega). Desenhos, colagens e textos, mostrando os problemas do "bairro que tenho" e como seria o "bairro que quero", se tudo fosse resolvido. Se viessem todos autores e familiares, diz Mattiuci, seriam milhares, m 5/6.

Prefeito responde (foto Silvia Czaspki)

O segundo trabalho sorteado para o prefeito comentar apontou o drama dos animais abandonados, comum em todas cidades. Érica Cristina Rodrigues, 13 anos, da 7ª Série na E.E. Profª Benê Teixeira da Fonseca do Amaral Gurgel, mandou duas colagens, comparando cães abandonados, aos bem tratados. "O cachorro fica sem rumo, 'perdido' com o abandono. Assustado, sem entender porque foi abandonado. Cão triste...triste. Pois o homem o abandona. Mas o cãozinho nunca abandona seu dono. É fiel!! Pura verdade! E como tem cães nas ruas da Cidade Nova..." escreveu Erica, sobre o "bairro que tenho".

No campo dos sonhos, junto à imagem de um menino feliz com seu cão, anotou: "Se não existissem (animais abandonados)... vários problemas seriam evitados. Quais problemas? Acidentes, mordidas, doenças, etc. Olha como é linda essa harmonia. Povo da Cidade Nova: adote um cãozinho!!!" O prefeito elogiou o apelo à conscientização e falou do Centro de Zoonoses de Itu

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ORGANIZAÇÃO

Parece incrível reunir tantos trabalhos em duas semanas, só pela promessa de levar às autoridades os problemas do Distrito de Pirapitingui, comenta Juljan Czapski, presidente da AIPA. Uma chave do sucesso, diz ele, foi a ação voluntária de integrantes das duas ongs criadoras da proposta: AIPA e Associação dos Moradores da Cidade Nova.

A viabilização contou com o apoio logístico da Prefeitura de Itu (cedeu o espaço do evento), Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae - imprimiu formulários), Loja Meu Cantinho (recebeu trabalhos, atuou na organização, por empenho da proprietária, Ilídia). Também essenciais, diz ele, foram os doadores dos brindes, sorteados em 5/6: AIPA (apostilas, guia do ecologista amador), Editora e Copiadora Ottoni (livros), L'Officina Del'Arte (porcelanas decoradas), Loja Meu Cantinho (pipas e bolsas).

Cartaz do evento (foto Silvia Czaspki)

Em meados de maio, representantes das ongs visitaram 4 escolas públicas que, somadas, têm 4.4 mil alunos: E.E. Prof. Anthenor Fruet (CAIC), E.E. Benê Gurgel, EMEF Profa. Carolina de Moraes Macedo; Escola Cidade Nova 3. Além destas, a E.J.A. Pirapitingui se engajou. "O evento foi um estímulo para os mais novos", afirmou Luis Olimpio Gonzaga, presidente da Associação Cidade Nova, avisando: crianças e jovens levam o tema melhoria do bairro para suas famílias.

Para montar o dossiê das reivindicações, a equipe da AIPA digitalizou imagens e textos, com a proposta de entrega às autoridades (vereadores, prefeito, secretários, etc), em agosto, quando a Associação Cidade Nova completa 10 anos. Além dos textos (mais de 70 páginas) e imagens, há estatísticas dos pedidos. Tudo estará no site da AIPA (www.aipa.org.br). Mas Urtiga traz aqui uma análise exclusiva. Confira!

 

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CONFUSÃO: ASFALTO X PAVIMENTAÇÃO

 

Uma imagem vale mais que mil palavras. Mas permite inúmeras interpretações. Depois de avaliar desenhos, colagens e textos, a AIPA concentrou-se nas 154 redações. Da primeira leitura, nasceram palavras-chave, que resumem as demandas.

Presente em quase dois terços dos textos (62%), asfaltar as ruas foi o pedido-campeão. Entre os que pediram, mais da metade reclama que, sem asfalto, ruas ficam esburacadas. Outros comentários são formação de poeira em tempos secos, e de lama, ao chover.

Mas é asfalto que se quer? Chefe do Agrupamento de Infraestrutura Viária do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), Márcia Aps comenta ser comum pensar asfalto como única forma de pavimentação. É o que diz, por exemplo, Bárbara, na redação que abre esta reportagem: "uma vez passaram piche, mas não resolveu". Piche, vale lembrar, é sinônimo de asfalto

Reportagem na Internet de Marco Antônio Pessoa, estudante de Comunicação Social da Universidade Federal de Minas Gerais, indica que também em Belo Horizonte (MG), asfalto é demanda comum em bairros populares. Mas lá, a Lei do Uso do Solo e o Plano Diretor exigem "pavimentar preferencialmente com calçamento poliédrico as vias locais, estabelecida a classificação viária".

Murilo Valadares, secretário de Política Urbana e Ambiental de BH, explicou ao repórter que, por exemplo, em ruas íngremes ou muito estreitas o pavimento poliédrico (blocos de concreto) é melhor. Pois em solo revestido por asfalto ou cimento a água da chuva não tem onde penetrar e escorre com mais força, o que gera mais enchentes e erosão. Bueiros inexistentes, ou entupidos, pioram a situação. Só que a população não sabe que há outros tipos de pavimentação, além do asfalto.

 

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COMO ESCOLHER O TIPO DE PAVIMENTAÇÃO

Ceunsp presente (foto Silvia Czaspki)

Para escolher a melhor pavimentação, ensina Márcia Aps, deve-se partir de um estudo, do solo, declividade (topografia) e uso da via. "Avenidas marginais em São Paulo exigem preparo especial, para agüentar o fluxo de veículos pesados. Numa pequena rua de bairro residencial, quase sem trânsito, pode bastar a boa manutenção da rua de terra. Ou o cascalhamento, talvez somado à compactação da via."

O próximo nível de pavimentação, é o tratamento superficial, ou seja, aplicação de uma base (como pedrisco), coberta por emulsão (ex: lama asfáltica), em uma ou mais camadas. Quando isso não basta, a opção será o pavimento asfáltico (asfaltamento), pré-misturado a frio, ou CBUQ (concreto betuminoso a quente).

Asfaltamento bem feito resulta em camadas de mais de 25 cm de profundidade. Além de caro, há desvantagens ambientais. Além de impermeabilizar o solo, um estudo na capital paulista, dos anos 1970, revelou que ele muda o microclima: o centro paulistano, coberto por asfalto e cimento, era 5.° C mais quente que a periferia verde da metrópole.

Solução moderna, que reduz as desvantagens do asfalto, são os mencionados blocos pré-moldados. Podem ser os simples, colocados lado a lado, como os antigos paralelepípedos (hoje tidos como caros demais). Ou a mais resistente pavimentação intertravada (blocos que se encaixam). Ambos permitem a penetração da água no solo, pelos vãos entre as peças, desde que haja cuidados. "Com o tempo, o tráfego compacta o solo. Abaixo das peças deve haver uma camada de materiais granulados, como brita, para evitar a impermeabilização", diz Márcia

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ALÉM DO ASFALTO....

Até ruas de terra podem ficar impermeáveis. Itu tem solo argiloso, menos permeável. Some-se a isso a declividade das ruas em Cidade Nova e o deficiente sistema de manutenção das vias, para entender o descontrole do escoamento pluvial, e a formação de crateras. É o que descreve, por exemplo, a redação de Eduardo da Conceição Veloso, 36 anos, morador do bairro e aluno no supletivo: "buracos com até um metro e meio, podendo senhoras de idade, mulheres grávidas e crianças, em dias de chuva, pela enxurrada, sofrer acidentes".

Alunos da regiõ compareceram em peso (foto Silvia Czaspki)

Bueiros entupidos são enorme problema do bairro para quase 6% dos respondentes. Parcela um pouco menor também lamentou a má manutenção de calçadas. Segundo geólogos, calçadas, jardins e quintais, tornam-se janelas de infiltração da água, se tiverem canteiros plantados. É que a vegetação faz com que gotas d'água escoem para dentro do solo, guiadas pelas raízes. A falta de verde também é clamor de boa parte dos 33,5% que querem mais áreas de lazer. A maioria falou de arborização. Também se destacam pedidos por mais praças, parques e campos de futebol.

"Não precisa ser quadra com cimento, é só por travas de madeira em cada lado, e já está bom. Só que não podem jogar lixo", propôs Guilherme Queiroz de Moraes, 11 anos, do Parque Novo Mundo e aluno da 5ª série da E.M.E.F. Profª Carolina de Moraes Macedo. No bairro, diz ele, há locais com mato, onde pessoas jogam lixo e sofás velhos "quando homens e mulheres estão dormindo", e depois colocam fogo. "Lixo não é para queimar, o lixeiro passa para pegar. A rua ou a casa sem fumaça tem que ficar; para que as pessoas ar puro possam respirar", reclamou poeticamente Luana Oliveira Ribeiro, 10 anos, da 4ª série na mesma escola.

Limpeza pública está em 26,3% das redações, como problema a se resolver. Falando de um bairro "abandonado pelas autoridades", onde "falta tudo", Aline Ramalho da Silva, da 5ª série, resume o sentimento coletivo: "O lixo fica jogado a céu aberto (...) Eu gostaria que o meu bairro fosse revisto. Pois garanto que, se bem tratado, vai ficar bonito".

 

 

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QUEM DEVE AGIR?

A necessidade de conscientizar e engajar a população foi citada só por 8% dos participantes. Mais freqüente, é pedir que autoridades tragam a solução. "Se o dinheiro que a prefeitura arrecada com impostos fosse aplicado em favor dos habitantes, poderíamos ter melhoras", desabafou José Aparecido Fernandes, 40 anos, do supletivo em Novo Mundo.

Sorteio de brindes, ao final (foto Silvia Czaspki)

E há muito por fazer. Quatro em dez redações pedem mais segurança nas escolas e ruas. "As crianças não podem sair para brincar na rua porque aparecem estupradores e seqüestros", mencionou Anderson Henrique Correia, 9 anos, de 2ª série. "No sítio, um cara pegou uma estudante à noite, estuprou e matou. Estava tudo escuro", contou Juliana Camila Oliveira, da Chácara Juliana Carolina II, associando iluminação pública à segurança.

As demandas se estendem por mais médicos e remédios, e consultórios dentários nos postos de saúde (23%), melhorias no ensino (14,5% - de mais vagas em creches a cursos profissionalizantes), melhor transporte público (11,8%) e mais empregos na região (10,5%). Mais que indústrias, citaram-se pontos comerciais, que também facilitariam as compras. Ponto curioso: além de agências bancárias (7,9%), alguns (1,4%) pediram casas lotéricas, como local para pagar contas.

Falta de infraestrutura é tema ainda mais delicado em loteamentos não autorizados. Os Estudos de Impacto Ambiental para os conjuntos de Cidade Nova foram aprovados com condição de não haver expansão urbana, sem novos estudos ambientais, para avaliar a infraes-trutura e questões como abastecimento de água. Não aconteceu, e novos moradores da Vila da Paz, por exemplo, agora querem regularizar a situação, mesmo que, pela lei, o correto seria deslocar as pessoas para áreas dentro da lei.

 

TUDO NO SITE:

No site www.aipa.org.br, clique em Dia do Meu Ambiente.
E veja fotos do evento de 5/6, os 650 trabalhos e a tabela dos principais temas reivindicados. É o dossiê, que autoridades municipais devem receber e você confere clicando aqui (formato excel)

 


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