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Pesquisa pouco divulgada
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ABELHAS CONTAMINADAS ALERGIAS E OUTROS RISCOS |
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Esta
notícia foi divulgada primeira semana de junho, sem muito alarde.
Primeiro na TV alemã. Depois, sob forma de nota, em alguns veículos
de comunicação. Ela quebra um dos argumentos de quem defende
a liberação imediata da produção e consumo dos
produtos transgênicos. Um cientista - o pesquisador alemão
Hans-Heinrich Kattz - localizou o primeiro caso concreto de transferência
de genes de uma planta geneticamente modificada em laboratório (trangênica,
ou OGM) para outra espécie viva.
A pesquisa foi realizada com abelhas numa plantação de colza transgênica, planta da qual se extrai o óleo de canola. O cientista localizou uma seqüência de DNA da canola geneticamente alterada nas bactérias e fungos que vivem dentro do intestino destas abelhas. Para nós, leigos, pode parecer pouco. Mas é talvez a primeira prova de que um gene de planta alterada em laboratório pode mesmo se transferir para outro ser vivo. A próxima questão, ainda sem resposta, é: o que acontecerá a partir desta transferência de material transgênico, ou seja, como se comportarão estes novos microorganismos e quais as consequências para o meio ambiente? Mais: o medo em torno do fato de genes de laboratório poderem "migrar" para outras espécies está na possibilidade disto gerar perigosas mutações, criando novas espécies prejudiciais ao Homem e ao ambiente.
ALERGIAS E OUTROS RISCOS - O primeiro produto transgênico da lista de pedidos de liberação comercial no Brasil é a soja Roundup Ready, da transnacional Monsanto. Trata-se de uma planta geneticamente modificada para resistir ao herbicida do mesmo nome, fabricado pela mesma empresa. Assim, para quem cultiva a variedade de soja desta indústria, bastaria aplicar o veneno da marca para matar todos outros vegetais. Mas... e se esta variedade de soja se misturasse a uma espécie selvagem, gerando um "mato transgênico" também resistente ao mesmo herbicida? Situação semelhante ocorreu com agrotóxicos. As mutações das chamadas "pragas" foram levando as indústrias a produzirem cada vez mais e novos venenos, para aplicação na agricultura. Entre outros problemas, o custo para o agricultor foi ficando cada vez maior. Outro argumento contrário aos transgênicos é que eles podem facilitar alergias. Segundo notícia jornalística, o problema já ocorreu com uma variedade de soja transgênica contendo um gene da castanha do pará. Pessoas sensíveis à castanha tiveram reações alérgicas ao consumir a soja. No Brasil, a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), já tinha recebido até julho centenas de pedidos para liberação de testes (plantio ao ar livre) de espécies transgênicas de milho, soja, cana-de-açúcar, algodão, eucalipto, fumo, arroz e batata. QUEM QUER TRANSGÊNICOS - Quem defende a liberação dos transgênicos insiste que nos Estados Unidos não se localizaram problemas para a saúde humana provocados pelo consumo de produtos transgênicos. Outra colocação favorável à liberação dos transgênicos no Brasil apela para o bolso dos agricultores. A indústria divulga que o plantio custaria menos, por ser necessário comprar apenas um tipo de agrotóxico. Um dos contra-argumentos é que os países europeus e o Japão não querem estes produtos: se o Brasil aderir a eles, perderá um mercado garantido, que recusa produtos geneticamente modificados. Até o fechamento desta edição, os transgênicos estavam proibidos no Brasil, para plantio e consumo. Mas testes realizados pela Universidade Federal de Viçosa já localizaram lotes brasileiros de milho e soja contendo grãos transgênicos, sobretudo no Rio Grande do Sul (a vizinha, Argentina, produz grãos transgênicos). Em Pernambuco, 38 mil toneladas de milho transgênico importado da Argentina por avicultores, sem o conhecimento dos ministérios e da CNTBio, foram retidas em julho no porto de Recife por determinação da Justiça Federal. A compra havia sido intermediada pela transnacional Cargill, que produz transgênicos. No mesmo mês, o Ministro da Agricultura, Pratini de Moraes, chegou a se manifestar publicamente a favor dos transgênicos. Nos Ministérios da Justiça e da Ciência e Tecnologia discutia-se uma portaria para regulamentar a rotulagem dos produtos transgênicos ao consumidor. O Instituto de Defesa do Consumidor, uma organização não governamental, defendia a inclusão obrigatória do alerta "produto transgênico", em tamanho e cor que permita a fácil visualização. A Associação Brasileira das Indústrias de Alimentação pedia que o aviso só fosse obrigatório para produtos com maior porcentagem de transgênicos entre os ingredientes.
CRÍTICAS DA SBPC - Na sua reunião anual em julho, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) divulgou documento alertando que a introdução não-controlada no meio ambiente de plantas transgênicas contendo novas toxinas pode provocar desequilíbrios no sistema biológico do ambiente. E defendeu que os órgãos governamentais brasileiros, responsáveis pela liberação para uso em larga escala de plantas trangênicas, exijam das empresas produtoras todos dados sobre a manipulação genética e análise de risco ao ambiente brasileiro. O mesmo documento, assinado pela presidente da SBPC, Glacy Zancan, frisou que há um " número enorme de indagações científicas sobre o uso das descobertas", propondo pesquisas de tudo o que diz respeito aos organismos geneticamente modificados. Uma denúncia da SBPC: em muitos casos, o Brasil dispensou o Estudo de Impacto Ambiental para as mutações genéticas, por se tratar de espécies exóticas (provenientes de outros países). Vale o alerta, assinado por Zancan: " todas as plantas são espécies do seu meio e, portanto, a manifestação de seu genoma depende organicamente do ambiente em que elas vivem. Assim, não se pode considerar válidos para um certo ambiente os testes feitos para outro. Há efeitos importantes que não ocorrem em um meio, mas podem perfeitamente se manifestar noutro".
EM TEMPO - as pesquisas em torno do genoma humano também misturam interesses comerciais, políticos, científicos e éticos. Nas palavras dos cientistas Bruce Alberts, presidente da Academia Nacional de Ciências dos EUA, e Aaron Klug, presidente da Real Sociedade de Londres, os primeiros resultados colocaram-nos na linha inicial para um aumento monstruoso do conhecimento, mas não faz nada por si só para nos fornecer esse conhecimento. Teremos as instruções para produzir as mais de 50 mil proteínas presentes no corpo humano. Mas não saberemos o que cada proteína faz; nem como os milhares de genes trabalham juntos para produzir e manter o corpo humano, ou como a expressão de um ou mais genes pode ser afetada no decorrer de uma doença. É aí que entra o debate sobre a validade da pesquisa, o uso e o patenteamento das descobertas.
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