Pense
nisso: a maior parte dos seres humanos vive na pobreza, sem o mínimo
para uma sobrevivência digna. Mas, se os mais de 6 bilhões
de seres humanos que habitam o Planeta Terra consumissem tanto quanto
os ricos, no padrão norte americano de consumo, não
sobrariam recursos naturais para esta, ou as futuras gerações
sobreviverem. E mais, mesmo no atual padrão de consumo alguns recursos
naturais estão se esgotando, como é o caso da água.
Então, o que fazer?
Esta é a pergunta que estudiosos de diferentes partes do Planeta
vêm tentando responder. Alguns partem de uma definição
proposta pela Comissão Brundtland - formada em 1986 pela Organização
das Nações Unidas (ONU) - que diz "Desenvolvimento Sustentável
é aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer
a possibilidade de as gerações futuras atenderem suas
próprias necessidades".
Mas outros questionam:
será que atender necessidades é apenas oferecer
alimentos, roupas, habitação, emprego? Ou devemos lembrar
o teórico A. Gorz, que em 1978 comentou: "um camponês andino
sem sandálias, um cidadão chinês sem bicicleta e
um operário alemão sem condições de comprar
um automóvel do ano, sentem a mesma sensação de
pobreza"?
NOVOS CONCEITOS
Acompanhando
a complicada equação da sustentabilidade, há
alguns anos a Divisão de Tecnologia, Indústria e Economia
do Programa de Meio Ambiente da ONU (Unep-DTIE) começou a promover
discussões em torno da produção e o consumo sustentáveis,
através de encontros de gente de diferentes setores, de países
ricos e pobres, que resultaram em vários documentos.
Num deles, escrito
para um Encontro de Empresários em 1999*, há a seguinte
constatação: no mundo em que vivemos, em que tudo está
interligado, os padrões insustentáveis de produção
e consumo terão consequências desastrosas tanto para
os ricos, como para os pobres. Seria preciso redirecionar o desenvolvimento
econômico, produzindo e consumindo diferentemente, para
evitar a degradação ambiental e permitir melhorias na
vida dos mais pobres.
Complicado?
O documento admite que sim, apostando que todos devem participar deste
desafio: governos, comunidades, pesquisadores, empresas, e outros. Mas
constata: a pressão da sociedade (opinião pública)
e de governos já gerou mudanças no mundo empresarial.
Um número
crescente de empresas percebe que para permanecer no mercado deve assumir
atitudes ecológica e socialmente responsáveis. Muitas
fazem isso, através de iniciativas voluntárias.
E, aí, os melhores resultados ocorreram quando 1- houve compromisso
do alto escalão da empresa para viabilizar a proposta socioambiental,
2- foram envolvidos de todos os setores dentro da empresa (funcionários)
e fora (fornecedores, por exemplo), 3- havia bom sistema de coleta de
informações (por exemplo sobre consumo de energia e materiais),
4- investiu-se em inovações tecnológicas limpas,
voltadas ao "ciclo de vida do produto".
HISTÓRIA
O documento do Unep-DTIE indica que o primeiro movimento para tornar
as empresas mais ecológicas focalizou a produção.
Ou seja, trabalharam para baixar o consumo de energia, matérias
primas e produtos tóxicos, almejando ampliar a eficiência
e reduzir o desperdício na fonte. É a filosofia
ganha-ganha. Economizando recursos da natureza, gasta-se menos
dinheiro, garantindo um retorno econômico a médio prazo.
Dentro deste
espírito, alguns setores da ONU desenvolveram o conceito de
Produção Mais Limpa (P+L), definida como "a aplicação
contínua de uma estratégia ambiental para os processos
de produção, produtos e serviços, para reduzir
os riscos para as pessoas e o meio ambiente".
Seguindo raciocínio
semelhante, o Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável
(WBCSD) passou a pregar a Ecoeficiência entre suas associadas,
isto é, a "busca da satisfação das necessidades
humanas e qualidade de vida aliada à redução progressiva
dos impactos ambientais negativos em todo o ciclo de vida do produto".
Mais tarde,
passou a se falar no pulo do sapo para empresas de países
pobres, isto é, que elas poderiam evitar os erros que ocorreram
nos mais desenvolvidos, adotando tecnologias limpas já descobertas.
Mas a evolução
não pára no ganha-ganha da produção.
Acompanhe os avanços:
* Eco design
- é o planejamento de produtos que permite a reciclagem ou
o reuso. A Ford, por exemplo, desenhou peças de materiais naturais,
para alguns modelos.
* Análise
do ciclo de vida - um passo adiante do eco-design, estuda o produto
em todas as fases: escolha da matéria prima, produção,
distribuição, uso, descarte. Cada pessoa envolvida neste
ciclo tem responsabilidades específicas, do nascimento do produto
até o seu descarte.
* Desenvolvimento
de Produtos Sustentáveis - ainda mais ambicioso de que a
análise do ciclo de vida, pensa também no papel que os
produtos, sistemas ou serviços podem cumprir no futuro. Para
desenvolver produtos sustentáveis, busca-se a participação
das pessoas envolvidas em todas as fases do ciclo de vida do produto.
* Desmaterialização
- outra noção inovadora, assume que podemos usar serviços
baseados no conhecimento, em vez de produtos feitos com matérias
primas palpáveis. O documento dá como exemplo algumas
empresas petrolíferas, que já estudam fontes alternativas
de energia, como a energia solar.
Empresários
modernos têm de entender muitas siglas. SGA - Sistema de Gestão
Ambiental (EMS, em inglês), por exemplo, abarca um conjunto de
instrumentos de gerenciamento empresarial através dos quais a
empresa pode se tornar ambientalmente mais correta. Eis alguns deles:
política ambiental, auditoria ambiental, informação
e treinamento para entender as questões ambientais.
Com base no
SGA, surgiram várias outras siglas relativas a certificações
ambientais, onde as empresas adotam voluntariamente regras predeterminadas
de gestão ambiental. Uma delas é a ISO 14.000, conjunto
de normas proposto pelo Interntational Standart Organization. Outra,
atende pelo nome EMAS (Environmental Management and Audit Scheme), proposto
na União Européia. Mas há as empresas que preferem
os Códigos de Conduta, isto é, compromissos públicos
voluntários de seguir um conjunto de princípios predeterminado.
Alguns destes códigos são auditados por grupos externos,
por exemplo organizações de consumidores.
E NÓS?
Empresas avançam em direção à produção
sustentável quando as condições políticas,
econômicas e sociais são favoráveis. O documento
do Unep-DTIE aponta o papel do governo: além de estabelecer uma
legislação ambiental, ele pode criar instrumentos econômicos
favorecendo quem protege o meio ambiente e penalizando quem polui. Pode,
ainda, ajudar a divulgar os Selos Ambientais.
Se o consumidor
não compra, a empresa é obrigada a deixar de produzir,
ou mudar seu sistema de produção. Esta força da
sociedade civil é apresentada, no texto, através de um
exemplo internacional: consumidores dos países avançados
exigiram produtos ecologicamente confiáveis, forçando
mudanças no setor produtivo de outros países. Alguns entendem
as exigências ecológicas como restrição comercial,
mas outros enxergaram uma oportunidade nisso: produzindo mais ecologicamente,
empresas conquistaram mercado externo.
Escrito para
um evento que ocorreria na Alemanha, o texto da Unep-DTIE volta ao "mundo
real". quando informa que, segundo o Relatório do Desenvolvimento
Humano da ONU, os 20% dos mais ricos nos países ricos são
responsáveis por 86% do consumo. Os 20% mais pobres consomem
1,3% deste total. A concentração é apenas mais
um dado relacionado ao
consumo insustentável.
O texto conclui
que nosso sistema de consumo não é único no mundo.
Comunidades indígenas possuem um modo de vida bem diferente,
que deveríamos estudar para chegar aos novos padrões sustentáveis
de produção e consumo.
Fonte - Background Paper - 4. International Business Fórum
- Sustainable Consumption and Production - Creating Opportunities
in a Changing World - documento preparado em outubro de 1999 pela
Carl Duisberg Gesellshaft e Programa de Meio Ambiente da ONU |
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