Parece
um paradoxo. Quando mais se fala em globalização, mais se
defende o desenvolvimento local de comunidades.
Assim, de um
lado, há a tendência de criar produtos globais iguais
no mundo todo, produzidos do mesmo jeito em qualquer lugar, e consumidos
em todo planeta Terra. De outro, as peças artesanais, fabricadas
uma a uma por pessoas de pequenas comunidades, continuam muito valorizadas.
Como então
pensar o desenvolvimento local, neste contexto? O teórico Augusto
de Franco discute o assunto num texto intitulado "Por que precisamos
de Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável (DLIS)?", onde,
para começar, lembra que a denominação DLIS foi
oficialmente adotada no Brasil em 1997 pelo Conselho da Comunidade Solidária.
Desde então, segundo ele, passou a ser usada tanto por quem enfatiza
o papel exclusivo do fator econômico para crescer; como pelos
que têm uma visão mais crítica.
VISÕES
DIFERENTES
Segundo Franco,
ainda há muitos indivíduos e grupos ligados à velha
idéia de crescimento a qualquer custo. É gente que defende
que primeiro precisaríamos crescer, para depois a sociedade dividir
os ganhos. Para estas pessoas, cada local, ou região, deve simplesmente
"se inserir no mercado global", eventualmente para "gerar postos de
trabalho".
Acontece que
já conhecemos o crescimento econômico espetacular da produção,
onde no final há poucos ganhando muito e muitos ganhando quase
nada, vivendo super mal.
"Na verdade,
o que chamamos de desenvolvimento permanece sendo um mistério",
escreve Franco, lembrando que ninguém sabe explicar porque, num
dado momento, algumas localidades cujos habitantes viviam na pobreza,
dão um salto no processo de desenvolvimento. "Constatamos depois
que, quando isso acontece, populações que antes estavam
marginalizadas passam a ter acesso à cidadania e aos recursos
da vida civilizada moderna".
Cidade desenvolvida,
diz ele, é "a cidade boa para se viver e não a cidade
grande. País desenvolvido é aquele cuja população
tem bem-estar e não aquele cujos habitantes vivem o tempo todo
preocupados em se defender dos seus vizinhos, temendo pelo futuro de
seus filhos."
Portanto, o
desenvolvimento ideal para uma localidade, afirma Franco, é o
que busca "melhorar a vida das pessoas (desenvolvimento humano), de
todas as pessoas (desenvolvimento social), das que estão vivas
hoje e das que viverão amanhã (desenvolvimento sustentável,
que preserva o meio ambiente para as próximas gerações)".
NOVO MODELO
Augusto De Franco
nota que existem características regionais que fazem a diferença
para o desenvolvimento integrado e sustentável.
Em outras palavras:
existem fatores - econômicos, sociais, ambientais, culturais
e outros - que podem contribuir para o desenvolvimento local, desde
que se saiba usar os potenciais que eles representam.
E mais: ele
aposta que o desenvolvimento local é uma questão de sobrevivência
para os "pequenos", que só terão chance de competir nos
mercados regional, nacional e internacional, sem serem destruídos
pela concorréncia, quando trabalharem em cooperação.
Não existe
exatamente uma fórmula para alcançar o Desenvolvimento
Local Integrado e Sustentável - DLIS. Mas haveria uma metodologia
a seguir, que começa por um diagnóstico realizado com
a participação dos diferentes setores da comunidade local.
O diagnóstico serve para identificar as potencialidades locais,
e as demandas. Com isso, dá para definir programas e ações
governamentais e não governamentais para atender estas demandas.
Assim se chega a um conjunto de práticas "mais democráticas,
mais cidadãs e mais sustentáveis".
Sustentáveis,
pois o processo participativo ajudaria a discutir e alcançar
novos padrões de produção e consumo que valorizem
o uso e a conservação dos recursos naturais, como parte
de um objetivo maior, de melhorar as condições de vida
das populações (habitação, saneamento, educação,
emprego, renda, ambiente). Seria, nas palavras de Franco, uma "agenda
positiva de globalização".
Obs: Artigo
escrito com base no documento DLIS - Desenvolvimento Local Integrado
e Sustentável, de Augusto de Franco.
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