DOCUMENTOS | COLETIVO CONSEMA |
"Por anos e anos recusaram meu pedido sem oferecer um motivo, mas acabaram
cedendo e conseguimos formar uma hortinha aproveitando um canteiro estreito
junto ao muro do fundo. (...) Plantar uma semente, vê-la germinar,
cuidar dela e colher os frutos proporcionava uma satisfação
simples, mas duradoura. (...) De certa forma eu via na horta uma metáfora de alguns aspectos de minha vida. Um líder também precisa cuidar da própria horta; também ele semeia e depois observa, cultiva e colhe o resultado. Assim como o hortelão, o líder precisa assumir a responsabilidade pelo que cultiva; tem de trabalhar direito, procurar afastar os inimigos, conservar o que precisa ser conservado e eliminar o que não consegue vingar." Nelson Mandela, presidente da África do Sul, sobre a horta
da qual cuidou, quando preso político na Ilha Robben |
I
mplantado em 1991, o projeto Hortas
Escolares Sem Agrotóxicos vem sendo desenvolvido nas escolas ituanas
conveniadas com a AIPA. Seus princípios são: adubação
natural (esterco, húmus e outros); controle de pragas ecológico;
a consorciação e a rotação de espécies para
obter um equilíbrio biológico e dinâmico.
Mais de que simples hortas, as Hortas Escolares sem Agrotóxicos
transformam-se em escolas da vida para as crianças. Na pré-escola,
elas aprendem aritmética, contando sementinhas; criatividade, desenvolvendo
histórias e desenhos baseados no que vêem; ciências, pela
observação de qualidades das plantas, e assim por diante. O dia-a-dia
da horta inspira até lições de cidadania, como ocorreu
quando da depredação do Tio Horto, espantalho construído
no início dos anos 90 em uma das escolas, assim batizado pelos alunos
e logo destruído por vândalos. As crianças percorreram o
bairro, observando bens públicos depredados. Fizeram passeata e redigiram
abaixo-assinado para o então prefeito.
Agora, as Hortas Escolares sem Agrotóxicos estão inspirando
um livro da AIPA, que ensinará como implantá-la e indicará
atividades didáticas para pré-escola, enquadradas na Nova Política
Nacional de Educação Ambiental. São centenas de propostas,
que mostram como fazer educação ambiental não como
disciplina à parte, mas em caráter multidisciplinar, interdisciplinar
e transdisciplinar. Desenvolvidas e testadas em 1997 por Maria Célia
Bombana, Philippe Miocque e Marcelo Mattiuci, as propostas foram revistas pela
equipe da AIPA em 1999 para o livro, que está em fase de finalização.
O
capítulo com este título
inicia-se lembrando que espaço não é o problema para ter
uma horta. "Se for grande, as crianças poderão até levar
alguns produtos para casa! Mas, se não houver uma área de chão
de terra na escola, dá para implantar uma mini-horta, utilizando
vasos, floreiras, caixotes, latas ou até bacias. Basta ter sol durante
parte do dia, água, terra fértil (que preparamos com adubo orgânico)
e ... muito carinho.
O livro ensina que as crianças podem participar da escolha do local,
seguindo os seguintes critérios:
As
verduras, legumes, temperos e chás irão enriquecer a merenda,
além de ensinar muita coisa para a garotada. Tem mais: a comida fica
mais gostosa quando foi a gente que plantou. Vamos começar?"
As ferramentas para iniciar o trabalho são:
E´
a primeira tarefa, após a
escolha do local. Eis as dicas do livro para a montagem dos canteiros, a ser executada
pelos adultos, com ajuda das crianças.
retirar
o entulho e mato (inclusive as raízes) com a enxada ou sacho.
O mato será colocado ao sol para secar, servindo mais tarde de cobertura
para a sementeira.
Misturar bem e deixar curtir uma semana, antes de semear.
Dica: deixando as bordas um pouco mais altas de que o centro do canteiro,
facilita-se a rega, pois a água não correrá para fora.
A
s dicas seguintes relacionam-se à
consorciação e rotação das culturas. Se fizerem parte
do planejamento da horta - frisam os autores - estes procedimentos reduzirão
o risco de pragas e doenças das plantas, contribuirão para a saúde
do solo, além de ter efeito estético: a horta parecerá com
um jardim.
é
o cultivo planejado de diferentes espécies de hortaliças num
único canteiro. Como pragas se guiam pelo cheiro, cor, forma da planta,
a mistura das hortaliças irá confundi-las. Na
horta caseira, um dos métodos consiste em dividir o canteiro ao meio,
cultivando temperos nas bordas e no sulco central (como coentro, espantam
insetos pelo cheiro). Numa das metades do canteiro, cultivar hortaliça
de raiz (como rabanete). Na outra metade, hortaliça de folhas (como
alface).
E
sta é uma tarefa a ser realizada
com as crianças. Primeiro elas aprenderão que, para determinadas
espécies, a semeadura se faz nas sementeiras, com posterior transplante
no local definitivo. Outras espécies serão diretamente cultivadas
nos canteiros (ou vasilhas) definitivos.
Dica do livro: deixar
mudas "reservas" na sementeira, pois é comum que algumas delas tenham
de ser substituídas.
Ocorre
para: rúcula, almeirão, espinafre, beterraba, rabanete, cenoura,
nabo. Também serve para alguns temperos, como salsa e coentro. É
quase igual às sementeiras. Só que a distância entre os
sulcos será bem maior: cerca de 20 centímetros (um palmo da
mão de adultos, bem aberto).
Além disso, para sementes maiores (forma de grão), semeia-se
uma a uma, podendo se fazer, em vez de sulcos, furinhos na terra, com ajuda
de lápis ou plantador.
Um
dos pontos cruciais para o desenvolvimento da horta é a boa rega. Crianças
devem aprender que a água deve cair suavemente (como se fosse uma chuva
fina), sem molhar demais (não deixar empoçar), nem de menos (verifica-se
se a água realmente penetrou, enfiando a ponta do dedo na terra, em vários
pontos, para sentir a umidade, que deve ser uniforme).
A irrigação será feita duas vezes ao dia no verão
e uma vez no inverno, molhando de manhã bem cedo (quando as crianças
chegam à escola) e no final da tarde (antes da saída). Pode se
usar o regador convencional ou feito com garrafa "pet" perfurada na parte superior.
Também dá para usar mangueira, com cuidado de molhar as hortaliças
como se fosse chuva fina. É claro que quando estiver chovendo em abundância
não é necessário regar. O que poucos sabem é que
na época de colheita das hortaliças de raiz (beterraba, rabanete,
cenoura, nabo, por exemplo) pode-se suspender a rega uma semana antes.
O livro descreve alguns cuidados indispensáveis para o bom desenvolvimento da horta, que podem ser realizados com a participação das crianças.
A colheita também tem truques, que o livro desvenda. Em primeiro lugar, deve se conhecer o momento e o jeito certo para cada espécie. Mas não é só isso. Hortaliças colhidas de manhã cedo ou no fim da tarde conservam melhor os nutrientes.
Certas
hortaliças de folhas (como alface e chicória) e todas de raiz
(cenoura, beterraba, nabo, etc.) devem ser arrancadas inteiras, quando chegam
no ponto de consumo, pois não rebrotam. No caso das espécies de
raiz, a boa dica é conservar as folhas, para usá-las em receitas
culinárias na escola: refogadas, em bolinhos, entre outros.
Outras espécies hortaliças devem ser apenas cortadas, pois rebrotam. Mas não basta ir cortando e pronto. Há técnicas específicas para cada espécie. Confira alguns exemplos:
A
lguns procedimentos diários,
relacionados à horta, estimularão o hábito de observar e
deduzir. Eis alguns:
UMA RECEITA DE INSETICIDA CASEIRO |
---|
![]()
|
Home => Conheça a AIPA => Jornal Urtiga => Índice Urtiga 136 |