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aprenda aqui a implantar uma horta sem venenos

(Publicado no Urtiga 136 - jan/fev 2000)


eta horta saudável, sô!!! Novo livro de educação ambiental está sendo produzido pela AIPA. Adiantamos o conteúdo de uma seção: como implantar uma horta, com ajuda das crianças. Aproveite as dicas!!!

  1. UM NOVO LIVRO
  2. COMO IMPLANTAR UMA HORTA
  3. MONTAGEM DOS CANTEIROS
  4. PLANEJANDO O PLANTIO
  5. SEMEADURA E TRANSPLANTE
  6. SEGREDOS DA REGA
  7. OUTROS TRATOS
  8. DICAS PARA A COLHEITA
  9. DIA A DIA NA HORTA
  10. UM INSETICIDA CASEIRO

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NOVO LIVRO DA AIPA

"Por anos e anos recusaram meu pedido sem oferecer um motivo, mas acabaram cedendo e conseguimos formar uma hortinha aproveitando um canteiro estreito junto ao muro do fundo. (...) Plantar uma semente, vê-la germinar, cuidar dela e colher os frutos proporcionava uma satisfação simples, mas duradoura. (...)
De certa forma eu via na horta uma metáfora de alguns aspectos de minha vida. Um líder também precisa cuidar da própria horta; também ele semeia e depois observa, cultiva e colhe o resultado. Assim como o hortelão, o líder precisa assumir a responsabilidade pelo que cultiva; tem de trabalhar direito, procurar afastar os inimigos, conservar o que precisa ser conservado e eliminar o que não consegue vingar."

Nelson Mandela, presidente da África do Sul, sobre a horta da qual cuidou, quando preso político na Ilha Robben
(fonte: "Longo Caminho para a Liberdade - Uma Autobiografia")

I mplantado em 1991, o projeto Hortas Escolares Sem Agrotóxicos vem sendo desenvolvido nas escolas ituanas conveniadas com a AIPA. Seus princípios são: adubação natural (esterco, húmus e outros); controle de pragas ecológico; a consorciação e a rotação de espécies para obter um equilíbrio biológico e dinâmico.

Mais de que simples hortas, as Hortas Escolares sem Agrotóxicos transformam-se em escolas da vida para as crianças. Na pré-escola, elas aprendem aritmética, contando sementinhas; criatividade, desenvolvendo histórias e desenhos baseados no que vêem; ciências, pela observação de qualidades das plantas, e assim por diante. O dia-a-dia da horta inspira até lições de cidadania, como ocorreu quando da depredação do Tio Horto, espantalho construído no início dos anos 90 em uma das escolas, assim batizado pelos alunos e logo destruído por vândalos. As crianças percorreram o bairro, observando bens públicos depredados. Fizeram passeata e redigiram abaixo-assinado para o então prefeito.

Agora, as Hortas Escolares sem Agrotóxicos estão inspirando um livro da AIPA, que ensinará como implantá-la e indicará atividades didáticas para pré-escola, enquadradas na Nova Política Nacional de Educação Ambiental. São centenas de propostas, que mostram como fazer educação ambiental não como disciplina à parte, mas em caráter multidisciplinar, interdisciplinar e transdisciplinar. Desenvolvidas e testadas em 1997 por Maria Célia Bombana, Philippe Miocque e Marcelo Mattiuci, as propostas foram revistas pela equipe da AIPA em 1999 para o livro, que está em fase de finalização.


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COMO IMPLANTAR A HORTA

O capítulo com este título inicia-se lembrando que espaço não é o problema para ter uma horta. "Se for grande, as crianças poderão até levar alguns produtos para casa! Mas, se não houver uma área de chão de terra na escola, dá para implantar uma mini-horta, utilizando vasos, floreiras, caixotes, latas ou até bacias. Basta ter sol durante parte do dia, água, terra fértil (que preparamos com adubo orgânico) e ... muito carinho.

Vamos começar?As verduras, legumes, temperos e chás irão enriquecer a merenda, além de ensinar muita coisa para a garotada. Tem mais: a comida fica mais gostosa quando foi a gente que plantou. Vamos começar?"

O livro ensina que as crianças podem participar da escolha do local, seguindo os seguintes critérios:

  1. preferir um lugar no terreno da escola, ou muito próximo: fica mais fácil cuidar e evitar estragos, por exemplo, causados por animais domésticos;
  2. terreno bem drenado: a água deve escoar sem problemas;
  3. luz do sol: no mínimo cinco horas diárias, para que as plantas cresçam fortes e sadias;
  4. evitar lugar com muito vento: além de estragar as folhas e frutos, aumenta o consumo de água;
  5. água perto, caso contrário a irrigação fica difícil;

As ferramentas para iniciar o trabalho são:
  • enxada - para fazer covas, capinas, nivelamento, misturar esterco;
  • pá e enxadão - para cavar e revolver a terra;
  • sacho - para fazer covas, afofar a terra, quebrar torrões de terra;
  • regador - pode-se fabricar um, a partir de garrafa "pet", com as crianças;
  • kit de jardinagem - inclui ancinho e colher de transplante.
  • estacas e barbante - para demarcar o canteiro (o barbante também servirá para evitar as aves);
  • pulverizador - para borrifar preparados que combatem pragas;
  • carrinho de mão (opcional) - para transportar adubo e outros materiais.


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MONTAGEM DOS CANTEIROS

a primeira tarefa, após a escolha do local. Eis as dicas do livro para a montagem dos canteiros, a ser executada pelos adultos, com ajuda das crianças.

Limpeza do terreno:
canteiro bem preparado - caminho para a boa hortaretirar o entulho e mato (inclusive as raízes) com a enxada ou sacho. O mato será colocado ao sol para secar, servindo mais tarde de cobertura para a sementeira.

Demarcação dos canteiros:
em termos ideais (depende do espaço disponível), cada canteiro deve ter dois metros de comprimento, por 80 cm. de largura. A demarcação se faz com estacas e barbantes (fincar uma estaca em cada "canto", esticando o barbante entre elas, para delimitar o retângulo)

Corredores entre canteiros:
deixar um corredor de passagem entre os canteiros, de pelo menos 50 cm., para que se possa caminhar entre eles e cuidar das plantas, sem estragá-las.

Revolvimento do terreno:
revolver, com pá ou enxadão, toda a terra do canteiro, no mínimo 20 centímetros de profundidade. A terra afofada será misturada com composto orgânico e areia.

Preparo do solo:
a mistura ideal para cultivar hortaliças é:
  • 3 partes de terra (do próprio local),
  • duas partes de esterco bem curtido (de preferência de gado)
  • uma parte de areia.
Misturar bem e deixar curtir uma semana, antes de semear.

Finalização:
os canteiros prontos ficarão mais altos que o terreno (20 centímetros em relação ao chão - quanto mais afofada a terra, melhor o resultado). Isso significa que ficarão com 40 cm. de terra preparada, que é a medida ideal para cultivar qualquer hortaliça.
Dica: deixando as bordas um pouco mais altas de que o centro do canteiro, facilita-se a rega, pois a água não correrá para fora.


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PLANEJANDO O PLANTIO

A s dicas seguintes relacionam-se à consorciação e rotação das culturas. Se fizerem parte do planejamento da horta - frisam os autores - estes procedimentos reduzirão o risco de pragas e doenças das plantas, contribuirão para a saúde do solo, além de ter efeito estético: a horta parecerá com um jardim.

Consorciação
consorciar é combinar diferentes hortaliças no canteiroé o cultivo planejado de diferentes espécies de hortaliças num único canteiro. Como pragas se guiam pelo cheiro, cor, forma da planta, a mistura das hortaliças irá confundi-las. Na horta caseira, um dos métodos consiste em dividir o canteiro ao meio, cultivando temperos nas bordas e no sulco central (como coentro, espantam insetos pelo cheiro). Numa das metades do canteiro, cultivar hortaliça de raiz (como rabanete). Na outra metade, hortaliça de folhas (como alface).

Rotação de culturas
nada mais é de que alternar o cultivo das espécies, evitando plantar novamente o mesmo tipo de hortaliça na mesma linha do canteiro. Num exemplo prático: onde havia cenoura (raiz), plantar chicória (folha). Isto evita o empobrecimento do solo.


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SEMEADURA E TRANSPLANTE

E sta é uma tarefa a ser realizada com as crianças. Primeiro elas aprenderão que, para determinadas espécies, a semeadura se faz nas sementeiras, com posterior transplante no local definitivo. Outras espécies serão diretamente cultivadas nos canteiros (ou vasilhas) definitivos.

Semeadura nas sementeiras
sementeira - até as mudas atingirem 2 cm
É necessária para hortaliças como: alface, brócolos, couve-flor, couve comum, repolho, couve-manteiga, chicória. Também vale para temperos, como: cebola e cebolinha. O livro mostra o passo a passo desta atividade:

  1. alisar bem a terra do canteiro com a mão;
  2. abrir sulcos retos paralelos entre si ("riscos" na terra, de dois a três centímetros de profundidade, o que corresponde à primeira falange do dedo indicador de um adulto). A distância entre os sulcos deve ser de 4 a 5 dedos.
  3. Distribuir uniformemente as sementes em cada sulco, com cuidado de não deixar cair sementes demais;
  4. Quando acabar de semear, fazer um carinho no canteiro, fechando os sulcos (as sementes ficam cobertas com uma camada fina de terra);
  5. a proteção será maior, colocando-se uma camada fina de cobertura morta (folhas e capim seco);
  6. regar, seguindo as dicas de irrigação confira como regar;

Semeadura direta nos canteiros (local definitivo)
sulcos paralelos, no canteiro definitivoOcorre para: rúcula, almeirão, espinafre, beterraba, rabanete, cenoura, nabo. Também serve para alguns temperos, como salsa e coentro. É quase igual às sementeiras. Só que a distância entre os sulcos será bem maior: cerca de 20 centímetros (um palmo da mão de adultos, bem aberto).
Além disso, para sementes maiores (forma de grão), semeia-se uma a uma, podendo se fazer, em vez de sulcos, furinhos na terra, com ajuda de lápis ou plantador.

Transplante para o local definitivo
Deve ser realizado quando as mudas das sementeiras alcançam uns dois centímetros, sofrerão. Esta tarefa, como todos trabalhos da horta, deve ser feita de manhã cedo ou fim de tarde (evitar sol forte). Envolve os seguintes passos:

tiram-se as mudas com torrão, para depois separar, sem ferir a raiz

 

plantar uma a uma no canteiro, com raizes bem retas

  1. preparo do novo canteiro para receber as mudinhas, fazendo sulcos com um palmo de distância entre si (20 cm), profundos o suficiente para que as raizes possam ficar retas dentro da terra;
  2. regar bem a sementeira, para facilitar o arranquio das mudinhas;
  3. retirar as mudinhas com o torrão (com mão ou colher de transplante), com o cuidado de não quebrar as raízes, separando depois mudas que vierem juntas num mesmo torrão;
  4. colocar cada mudinha no sulco, na distância correta (pensar no tamanho que terão, quando adultas), mantendo as raízes retas
  5. preencher com terra, de modo que o "colo" (junção do caule com raiz) fique no nível da superfície do solo;
  6. firmar as mudinhas com os dedos para que não caiam quando regadas;
  7. regar, seguindo as dicas de irrigação;
  8. cobrir o canteiro com sombrite (tela plástica), para sombrear a planta, até pegar bem.

Dica do livro: deixar mudas "reservas" na sementeira, pois é comum que algumas delas tenham de ser substituídas.



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SEGREDOS DA REGA

água deve cair, como chuva finaUm dos pontos cruciais para o desenvolvimento da horta é a boa rega. Crianças devem aprender que a água deve cair suavemente (como se fosse uma chuva fina), sem molhar demais (não deixar empoçar), nem de menos (verifica-se se a água realmente penetrou, enfiando a ponta do dedo na terra, em vários pontos, para sentir a umidade, que deve ser uniforme).

A irrigação será feita duas vezes ao dia no verão e uma vez no inverno, molhando de manhã bem cedo (quando as crianças chegam à escola) e no final da tarde (antes da saída). Pode se usar o regador convencional ou feito com garrafa "pet" perfurada na parte superior. Também dá para usar mangueira, com cuidado de molhar as hortaliças como se fosse chuva fina. É claro que quando estiver chovendo em abundância não é necessário regar. O que poucos sabem é que na época de colheita das hortaliças de raiz (beterraba, rabanete, cenoura, nabo, por exemplo) pode-se suspender a rega uma semana antes.

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OUTROS TRATOS CULTURAIS

O livro descreve alguns cuidados indispensáveis para o bom desenvolvimento da horta, que podem ser realizados com a participação das crianças.

Raleação - (alguns chamam de desbaste)
consiste em eliminar as plantas mais fracas, deixando as mais resistentes, que darão hortaliças melhores se tiverem espaço para crescer. Pode ocorrer na sementeira, ou no canteiro definitivo, já que, mesmo tomando todos cuidados, sempre deixamos cair algumas sementes a mais. Num exemplo: cenouras se desenvolvem bem se houver espaço de "três dedos" (4 a 5 cm) de distância entre as plantas. Neste caso, além de tirar o excesso, deve se fazer a amontoa, ou seja, cobrir com terra as raízes para que elas se desenvolvam mais sadias (as mudas eliminadas podem ser reaproveitadas: as crianças podem levá-las para casa, cultivando em vaso ou no quintal).

Desbaste
consiste em retirar o excesso de folhas, ou de frutos em algumas espécies de hortaliças, para que a planta e os frutos que se desenvolvam melhor.

Tutoragem
só deve ser utilizada em alguns casos, quando a planta precisa de um suporte, para crescer, como ocorre com a vagem, o tomate e o feijões. Ela consiste em fincar um tutor (estaca de bambu, madeira ou outro material) ao lado da planta, amarrando-a com barbante disposto em oito horizontal, para evitar que ela tombe com o peso dos seus frutos.

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COLHEITA

A colheita também tem truques, que o livro desvenda. Em primeiro lugar, deve se conhecer o momento e o jeito certo para cada espécie. Mas não é só isso. Hortaliças colhidas de manhã cedo ou no fim da tarde conservam melhor os nutrientes.

algumas hortaliças podem ser cortadas, outras devem ser arrancadasCertas hortaliças de folhas (como alface e chicória) e todas de raiz (cenoura, beterraba, nabo, etc.) devem ser arrancadas inteiras, quando chegam no ponto de consumo, pois não rebrotam. No caso das espécies de raiz, a boa dica é conservar as folhas, para usá-las em receitas culinárias na escola: refogadas, em bolinhos, entre outros.

Outras espécies hortaliças devem ser apenas cortadas, pois rebrotam. Mas não basta ir cortando e pronto. Há técnicas específicas para cada espécie. Confira alguns exemplos:

  • Almeirão - deve será cortado rente ao chão, podendo rebrotar até 7 vezes.
  • Rúcula - o ideal é cortar 4 dedos acima do solo, rebrotará de 5 a 7 vezes.
  • Cebolinha e salsinha - deve-se cortá-las 3 dedos acima do solo, crescerão durante o ano todo, sem limite.
  • Couve - a recomendação é colher as folhas maiores, nas laterais, também o ano todo.
  • Espinafre - cortam-se os ramos maiores, e ele não parará de se desenvolver.


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DIA A DIA NA HORTA

A lguns procedimentos diários, relacionados à horta, estimularão o hábito de observar e deduzir. Eis alguns:

  1. Cor: o amarelecimento ou a presença de manchas nas folhas podem indicar problemas nas plantas, é preciso estar atento para curá-las a tempo.
  2. Solo: deve manter cheiro agradável. Terra com mau cheiro é terra doente e gera desequilíbrio nas plantas. Já a presença de cogumelos (fungos) pode indicar excesso de umidade.
  3. Folhas: quando se percebe logo que estão sendo atacadas por alguma praga, o combate fica fácil. (confira, na seção dicas verdes, desta edição)
  4. Ervas daninhas (chamadas de daninhas por serem plantas que surgem sem serem cultivadas, roubando nutrientes do solo necessários ao crescimento de nossas hortaliças). Pelo menos uma vez por semana devem se retirar, com toda raiz, aquelas que nasceram entre as hortaliças.

Plantas amigas e inimigas
Algumas ervas medicinais (como erva doce) têm o dom de atrair insetos para si, sem serem prejudicadas, como ocorreria com as hortaliças. Outras, pelo cheiro (menta, por exemplo), espantam os insetos que seriam pragas na horta. Também algumas flores têm este papel. O gerânio, pelo cheiro, repele muitas pragas. Já a érica, atrai insetos. Pode-se, por exemplo, cultivar estas duas flores num canteiro central da horta. E, em torno da horta, plantar as ervas medicinais. O livro traz um capítulo inteiro dedicado a elas.



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UMA RECEITA DE INSETICIDA CASEIRO
inseticida caseiro - facil de fazer e menos toxico A calda de fumo pode ser preparada em casa e combate muitas pragas, como pulgões, cochinilhas sem carapaça, lagartas, entre outros.
É fácil de fazer:
Aquecer um litro de água, acrescentando 50 gramas de fumo de corda picado e deixar ferver por cinco minutos. Desligar o fogo, deixar esfriar e coar.
Como aplicar:
dissolver a mistura em dois litros de água e pulverizar a planta, de preferência no fim da tarde, não regando logo após esta aplicação.

Dicas:
  • Podem-se acrescentar pimentas malaguetas esmagadas, para aumentar o efeito de controle.
  • A adição de um pouco de sabão na mistura facilita a aderência deste produto na planta,
  • Mas atenção: para consumir as plantas nas quais a calda foi aplicada, deve se esperar pelo menos 24 horas!


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