Você
sabia que o Dia Mundial do Meio Ambiente, 5 de junho, começou a
ser comemorado em 1972, para lembrar a Primeira Conferência da ONU
sobre o Meio Ambiente Humano? Desde então, junho passou a ser o
Mês do Meio Ambiente. Uma curiosidade: exatamente cem anos antes,
em 1872, o Estado de Nebraska, nos Estados Unidos, promoveu seu primeiro
Dia da Árvore. No Brasil, esta comemoração começou
em 1901.
Para lembrar que
todos os dias são "Dia da Árvore" e "Dia do Meio Ambiente",
Urtiga abre espaço,
nesta edição, para as árvores urbanas de Itu. Com a
ajuda do artista Carlos Rubens Gírio, autor do livro Paisagens
de Itu e sua história*, selecionamos sete árvores, ou conjuntos
de árvores, verdadeiros monumentos naturais. Algumas tornaram-se
parte da História, existem hoje apenas em desenhos e fotografias.
Também buscamos George Neves, advogado apaixonado por árvores
e membro do Conselho Fiscal da AIPA - Associação Ituana de
Proteção Ambiental. Ele enumerou outras árvores de
duas praças ituanas. São plantas nobres, em parte protegidas
pela legislação brasileira. Mas algumas foram recentemente
destruídas em nome do que a Administração Municipal
chamou de "revitalização". Outras, estavam ameaçadas,
quando do fechamento desta edição, como você poderá
conferir, nesta reportagem de Nathalia Paccola.
Casamento feliz, mas fim trágico
Nossa primeira homenageada
é uma velha e alta Ficheira, ou Guapuruvu (Schiszolobium parahyba),
que resistiu imponente durante muitos anos na praça Duque de Caxias,
em frente ao Quartel de Itu - 2.º GA CAP. Essa árvore fez história
na vida de muitos ituanos. Ela até ajudou muita gente a entender
a difícil matemática Todas as manhãs, estudantes do
Grupo Escolar apanhavam da árvore suas fichas para aprender
tabuada. Por muito tempo a prestativa Ficheira consagrou a sua beleza junto
da Primavera, formando um belíssimo cartão-postal. A primeira
cedeu sua copa para que as flores vermelho-vivo da Primavera pudessem florescer
com toda exuberância. Essa junção de árvores
já foi cenário para fotografias de casamento. Mas, a natureza
levou embora esta bela obra natural: uma tempestade derrubou-a recentemente
A rua dos ipês-roxo
Todos os invernos, os moradores
da rua Quintino Bocaiúva eram presenteados com o florescer dos ipês-roxo
(Tabebuia impetigenosa), árvores presentes em toda extensão
desta via urbana. A ilustração de Carlos Gírio, no
seu livro, ressalta o sobrado de esquina, o bar e a mercearia Glória,
mais conhecida como bar do Piotto. "Com a construção
desse prédio, em 1934, seu proprietário o Sr. Antonio Piotto,
tornou-se o pioneiro e desbravador do novo bairro, que hoje integra a região
central de nossa cidade". Esta bela integração da natureza
no meio urbano hoje não está mais presente. Há algum
tempo, a maioria das árvores foi reduzida a tocos de caule secos.
Mais um aglomerado de beleza viva que não encontramos mais.
A solitária Figueira
Vale a pena recontar a história
dessa Figueira (Ficus lyrata), que nos foi contada por Carlos Gírio:
em meados desse século, no comecinho da Estrada do Jacuhú,
havia uma chácara do Dr. José Elias Pacheco Jordão,
um terreno muito grande próximo onde hoje é a igreja de São
Cristóvão. No meio do eucaliptal que ali existia, junto de
um barranco da estrada, nasceu um pé de figo. Com a venda desta chácara,
em 1903, para o Asilo de Mendicidade Nossa Sra. da Candelária, o
bosque de eucaliptos desapareceu, surgindo ruas, loteamentos, casas. Nossa
figueira resistiu até mesmo aos melhoramentos públicos e ao
asfalto. A antiga estrada passou a se chamar rua Dr. Graciano Geribello.
Uma travessa, bem ao lado da árvore, recebeu o nome de rua Professora
Abgail Alves Pires. Esta velha figueira, salva várias vezes de atentados
incendiários contra seu tronco, permaneceu imponente a contemplar
o bairro que viu nascer.
Sou barriguda, e daí?
Uma árvore apelidada
de "barriguda" é nossa terceira homenageada. Trata-se da
paineira (Chorizia speciosa) que se encontra na rua Sergipe, pertinho
da avenida Brasil Bernardini. Em seu tronco espinhento ela tem uma "barriguinha"
saliente, característica da espécie. Seus frutos, quando se
abrem, oferecem paina, mais macia de que algodão, que antigamente
era usada no enchimento de colchões e travesseiros. Carlos Gírio
também destaca outras "barrigudas" fora da área urbana: há
um belo bosque de paineiras, no km 89 da Rodovia Washington Luis (Estrada
Parque), entrada da centenária Fazenda da Serra, pertencente à
família Hacker.
Uma história de final feliz
Na década de 50 várias mudas de árvores foram plantadas
ao longo das margens do córrego do Taboão, pelo Sr. João
Brancalhoni. Entre elas, havia mudas de pau-brasil, ipê-roxo e amarelo,
salgueiro e carvalho. Como conta o livro Paisagens de Itu, quando
se começou a construir a avenida Octaviano Pereira Mendes, a empreiteira
resolveu arrancar as árvores para facilitar a execução
da obra. Procurando preservar o arvoredo plantado pelo seu pai, que falecera
em 1981, o Sr. Antônio Luiz recorreu a várias entidades,
entre elas a AIPA, e até um abaixo-assinado foi feito. Com tanto
esforço, conseguiu interromper a derrubada das árvores,
que hoje ornamentam a avenida, principalmente junto à ponte da
alameda Barão do Rio Branco. Uma história com final feliz.
A imponente mangueira
Uma homenagem centenária.
A bela mangueira se impõe triunfante até hoje no pátio
do Colégio do Patrocínio, das irmãs da Congregação
de São José. O artista Carlos Gírio conta a história
dessa árvore: "...a irmã Maria Angelina, recém
vinda da França, após chupar uma manga, achou o fruto delicioso
e resolveu plantar seu caroço. Deste gesto nasceu uma plantinha que
cresceu e tornou-se essa vigorosa e exuberante mangueira". Uma placa,
ao pé da árvore também conta a sua história:
"Essa mangueira secular, plantada pelas primeiras irmãs de São
José que a velha França nos mandou, cresceu sob o olhar cuidadoso
de madre Maria Teodora, produziu, anos a fio, saborosos frutos, e, continua
sua missão de servir, dando sombra a quem lhe aproxima e agasalhando
a passarada que, sob sua verde galharia, esconde seus ninhos e, outrossim,
seus tenros filhotes. Essa mangueira foi plantada pela irmã Angelina
Achar, em 1860". Esta árvore representa tanto para alunos e
ex-alunos da escola, que foi capa da revista Campo e Cidade, de abril/2000,
dedicada ao Colégio. Uma curiosidade: trata-se de uma espécie
(família das Anacardiáceas) importada da Ásia,
nos tempos de Brasil Colônia.
Praça Bom Jesus
- uma história triste
Parece sina. O primeiro espaço
ituano a ser arborizado foi o largo do Bom Jesus, cujo nome oficial hoje
é Praça Padre Anchieta. Em 1844, o vereador Felix dos Santos
Brasil, através de um pedido aprovado pela Câmara, plantou
casuarinas (Casuarina esuisetifoliea)neste espaço. Acontece
que esta espécie atinge até 10 metros de altura e sua copa
pode chegar a 6 metros de diâmetro. Os problemas causados por suas
folhas levaram jesuítas e demais moradores do largo a reivindicarem
à Câmara a retirada dessas árvores, fato efetuado em
1877.
O livro de Carlo Gírio narra a segunda tentativa para a arborização
do largo: "ocorreu em abril de 1878, quando o Sr. Tristão
Mariano da Costa, com as devidas autorizações da Câmara,
igreja e dos quatro moradores ali residentes, plantou outras árvores.
Todavia, quando crescidas tiveram o mesmo fim que suas antecessoras".
Foi só no final dos anos 1920, como relata o livro, que o prefeito
Edgardo Pereira Mendes mandou ajardinar o largo e plantou sibirunas (Caesaplinea),
tipuanas (Tipuana tipu), chapéus-de-sol (Terminalia ssp),
ipês-amarelo entre outras árvores que, até o fechamento
desta edição, ainda lá persistiam. A praça
está fechada por tapumes, por ordem do Prefeito Leonel Salvador,
que anunciou um plano de "revitalização das praças
ituanas". "Revitalização" esta, que começou com a
destruição de importantes árvores na Praça
Padre Miguel (da Matriz), gerando a indignação dos ituanos.
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