Esta
notícia chegou à mídia através da agência
internacional de notícias Reuters. Após seis anos trabalhando
na organização ambientalista Greenpeace - atividade que
o levou a entrar em choque com madeireiros ilegais recentemente, durante
um protesto no interior do Pará no qual pelo menos três
pessoas ficaram feridas - o engenheiro florestal Marcelo Marquesini
está se juntando aos quadros do novo Ministério do Meio
Ambiente. Sua nova função: coordenador-geral de fiscalização
do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(Ibama).
A notícia ressalta que, logo após receber o convite
e antes mesmo de consolidar a demissão no Greenpeace, o ativista
foi a Brasília para se inteirar do funcionamento do novo posto,
que o torna responsável pela fiscalização ambiental
em todo país. Isso inclui de florestas ao monitoramento de
produtos químicos e tóxicos.
Classificando-se como "combativo dentro de uma linha de desenvolvimento
sustentável", o ambientalista, que integrava a campanha
da Amazônia no Greenpeace, confessou à Reuters que sua
nova função é um grande desafio, prometendo jogar
duro com os que pretendem atuar na ilegalidade: "Aqueles que
quiserem fazer dentro da lei vão ter sucesso", avisou.
"Ele vai ser o nosso xerife", acrescentou Flávio
Montiel da Rocha, diretor de Proteção Ambiental do Ibama,
a quem Marquesini se torna subordinado. Também com passado
de ongueiro, Montiel já atuou no Greenpeace, foi consultor
do Fundo Mundial para a Natureza (WWF) e é filiado à
Akkikai Foundation, Associação Brasiliense de Canoagem
e Ecologia, Núcleo de Direitos Indígenas, entre outros.
MAIS
ONGUEIROS
A
notícia da Reuters, que classificou Marquesini como o "centroavante
de um time de ongueiros no novo Ministério do Meio Ambiente",
citou mais dois nomes saídos de ONGs para a equipe ministerial:
Tasso Rezende de Azevedo, do Instituto de Manejo e Certificação
Florestal e Agrícola (Imaflora), e Muriel Saragoussi, da Fundação
Vitória Amazônica.
Não são os únicos. O Ministério do Meio
Ambiente divide-se em cinco secretarias. Três são hoje
dirigidas por pessoas que construíram seus currículos
em ONGs. O paulista João Paulo Capobianco, novo Secretário
de Biodiversidade e Florestas, ajudou a fundar a Associação
em Defesa da Juréia e a Fundação SOS Mata Atlântica
(da qual foi diretor executivo), antes de fundar o Instituto Socioambiental,
onde era do Conselho Diretor e atuava como coordenador.
Ex-militante do movimento estudantil no Rio de Janeiro, Marijane
Lisboa, nova Secretária de Qualidade Ambiental de Assentamentos
Humanos, trabalhou por mais de dez anos no Greenpeace, onde coordenou
campanhas contra os transgênicos, resíduos tóxicos
e poluição do ar, tendo sido também diretora-executiva
da seção brasileira desta ONG internacional.
Mary Helena Allegretti, única reconduzida por Marina Silva
ao posto de Secretária de Coordenação da Amazônia,
presidiu a ONG Instituto de Estudos Amazônicos (IEA), antes
de trabalhar como Secretária do Planejamento e Meio Ambiente
no Amapá em 1995 e, em seguida, ingressar no MMA.
PERSPECTIVAS
Explicando à Reuters que o novo perfil dos dirigentes do Ministério
deve-se à preocupação do governo em fazer um trabalho
articulado com a sociedade civil, Montiel interpretou: "Se, no
governo passado, podemos dizer que houve um diálogo entre a sociedade
civil e o governo Fernando Henrique Cardoso, agora a sociedade é
o governo".
Falando do Ibama, ele também avisou: além de contar
com a cooperação das ONGs, a agência ambiental
deixará de correr atrás do prejuízo, investindo
no planejamento estratégico. O Ibama, adiantou, aproveitará
os serviços do Sistema de Proteção da Amazônia
(Sipam, que fez convênio com Instituto na gestão passada),
que têm aviões com sensores infravermelho capazes de
detectar até o corte seletivo de madeira nas florestas.
Em tempo: Paulo Sérgio Dias, engenheiro florestal responsável
pelo viveiro da AIPA entre 1995 e 1997, escreveu à associação
para relatar seu novo destino profissional. Recém casado, ele
passou num concurso público do Ibama e deixará Minas
Gerais para assumir um importante desafio: será responsável
por dois setores da Floresta Nacional do Tapajós, no Amazonas.
UMA
EX-SERINGUEIRA NO MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE
Primeiro
nome anunciado do Ministério de Lula, Marina Silva
ganhou enorme destaque na mídia internacional, em dezembro.Não
é para menos. A senadora do Acre pelo PT - que fez
da proteção da biodiversidade brasileira uma
de suas principais bandeiras e ganhou reconhecimento internacional
por isso -, foi parceira nas lutas políticas do seringalista
Chico Mendes, assassinado no Acre em 1988 por defender as
florestas naquele estado.
Nascida no Seringal Bagaço, a 70 km da capital
do estado, Marina aprendeu a ler já adolescente ao
se mudar para a capital, Rio Branco. Chegou à Universidade,
formando-se em História em 1985. Ela, que sonhava
em ser freira, iniciou sua militância política
nas Comunidades Eclesiais de Base.
Marina participou do Partido Revolucionário Comunista
quando na Universidade, ajudou fundar a Central única
dos Trabalhadores (CUT) no Acre em 1984 e se filiou ao PT,
em 1985. Elegeu-se vereadora de Rio Branco em 1988, deputada
estadual em 1990 e chegou ao Senado em 1994, tornando-se
a mais jovem senadora do país. Já no Senado
descobriu que sofria de uma doença decorrente da
poluição por mercúrio - provavelmente
contraída pela proximidade a garimpos em sua região
de origem - que lhe custou um longo e difícil tratamento.
Reeleita, Marina desistiu do Senado para assumir este
novo desafio: ser Ministra do Meio Ambiente no Governo Lula.
O auditório estava lotado em sua posse, no início
de janeiro. Havia desde representantes de organizações
não governamentais, até personalidades como
Leonardo Boff e dois governadores: Jorge Viana (Acre/PT)
e Lúcio Alcântara (Ceará/PSDB).
"Não acho que devemos nos render à lógica
do possível. O possível é feito para
não sair do lugar", disse a ministra, ao receber
o cargo de seu antecessor, José Carlos Carvalho.
Ela defendeu, na ocasião, a descentralização
administrativa ("o poder tem que fazer um sentido público
e coletivo, ou seja, de que ele é tão mais
legítimo quanto mais diluído for"), prometendo
criar "estruturas de formulação, avaliação
e decisão mais horizontalizadas".
Também defendeu a internalização
da questão ambiental em todos os níveis de
governo ("internalizar o Meio Ambiente no coração
das decisões de governo é um grande e emblemático
desafio que vai do presidente Lula ao conjunto dos ministros
e outras autoridades de governo")
Colocou que o papel estratégico do Ministério
deve seguir três eixos principais: 1- o da transversalidade
interna e externa, na construção de políticas
de governo; 2- o da participação e controle
social, para garantir os benefícios do poder compartilhado
e diluído; e 3- o da sustentabilidade ("é
preciso afastar de nosso horizonte a idéia equivocada
de que a defesa de nossos ecossistemas seja algo incompatível
com o desenvolvimento"). Nesse sentido, propôs
fazer crescer a educação para o "como
fazer" nas ações do Ministério,
para reduzir a necessidade das funções punitiva
e proibitiva.
Entre as prioridades do Ministério, destacou as
intenções de implementar o Sede Zero no Semi-Árido
nordestino, e de trabalhar para alterar o capítulo
do meio ambiente da Constituição Federal,
visando incluir o Cerrado e a Caatinga como Patrimônios
Nacionais. Prometeu, ainda, ampliar as parcerias com redes
de organizações não governamentais,
empresários responsáveis, comunidades e órgãos
das diferentes esferas do governo.
Apesar da proposta de descentralização e
criação de estruturas horizonatalizadas, a
ministra manteve a estrutura burocrática que herdou,
renovando os nomes dos mandatários das 5 secretarias:
Qualidade Ambiental de Assentamentos Humanos (Marijane Lisboa),
Biodiversidade e Florestas (João Paulo Capobianco),
Políticas para o Desenvolvimento Sustentável
(Gilney Viana), Recursos Hídricos (João Bosco
Senra), Coordenação da Amazônia (Mary
Helena Allegretti, única reconduzida ao posto). Também
no Ibama, agora sob direção do ex-diretor
do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa),
o médico sanitarista Marcus Barros, a estrutura continua
igual.
Para saber: reforçando a idéia de parcerias
exposta pela ministra, Rolf Timans, chefe da delegação
da Comissão Européia no país,anunciou
uma reunião, ainda neste ano, com representantes
do governo, ONGs e agências internacionais para estudar
formas de cooperação internacional nesta área.O
anúncio aconteceu dias antes da notícia do
corte dos recursos orçamentários para os ministérios,
quanto o valor previsto para o MMA, que era de R$ 786 milhões
para 2003, caiu para cerca de R$ 340 milhões.
leia
a íntegra do discurso
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EXCLUSIVO
- SITE AIPA
Aqui, no site da AIPA,
mais informações sobre a nova estrutura de poder
da área ambiental do Governo Lula
- NOMES E CURÍCULOS
resumidos dos novos integrantes do Ministério do Meio Ambiente
e do Ibama e a íntegra do primeiro discurso de Marina Silva
(clique aqui e confira)
- ANÁLISES
DE QUEM É DO MEIO, publicadas na mídia,
selecionadas por oferecerem um quadro das perspectivas e
possibilidades nesta área (clique
aqui e confira)
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