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FOTÓGRAFO DA NATUREZA ITUANA(Publicado no URTIGA 157 - julho/agosto 2003 - pág. 3) |
10 de maio de 2003. Por telefone, o estudante de 8.ª série, Yuri Fanchini Messas, é avisado que um amigo sofreu graves lesões, principalmente na região da boca, ao tocar numa taturana. Com o pai, Eduardo Messas, segue imediatamente para o local do acidente, o trecho ituano da Estrada-Parque onde se vê um centenário jequitibá. Impressiona-se com o que vê: uma colônia de taturanas peludas, que fotografa com sua câmera digital. As fotos deste episódio - enviadas para o Instituto Butantan - ajudaram a reconhecer a espécie. Trata-se da Lonomia obliqua, espécie de mariposa cujo macho, marrom, chega a 7 cm de ponta à ponta das asas, e a fêmea, alaranjada, é um pouco maior: 8 cm. Na fase de lagarta (taturana), a espécie forma grupos, que se alojam sempre na árvore-mãe, movimentando-se em fila indiana. ALERTA
Pai e filho sabem que, ao contrário do que se pensa, são incomuns as taturanas venenosas. Mas eles aprenderam que esta é um raríssimo caso de animal cujo veneno, contido em suas cerdas, pode causar distúrbios hemorrágicos, gerando desde hematomas, até problemas renais e, em casos extremos, a morte. Para não esquecer: a própria cerda urticante desta espécie serve para fabricar o soro antilonomico, que evita os efeitos perigosos do contato com o animal A espécie existe em diferentes regiões do país, sendo mais comum no Sul, geralmente em matas úmidas. Desde 1989, houve mais de mil acidentes identificados no Brasil, com 14 óbitos. Com apoio do pesquisador Roberto P. H. Moraes, do Instituto Butantan, pai e filho redigiram um alerta, ilustrado com fotos de Yuri e do pesquisador. Remetido por e-mail para diferentes instâncias, o informe espalhou-se pelo Brasil e já foi incluído em seções especializadas de diferentes sites (inclusive no site da Aipa - www.aipa.org.br, clique aqui para conferir). O texto faz mais de que ensinar sobre a espécie, os efeitos do seu veneno, e dar o telefone do Instituto Butantan (11-3726.7222, ramais 2188, ou 2000). Ao final, traz um apelo para que as pessoas preservem estas criaturas e seu ambiente, evitando a destruição. “O mesmo veneno que mata é o que, processado nos laboratórios especializados, virá salvar as vidas”.
MILHARES DE
FOTOS
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montagem
- o percevejo d'água e sua presa
(Foto Yuri Messas) |
Com apenas 15 disquetes, que são reutilizados depois de baixar as fotos no computador, Yuri já reuniu, em 15 meses, mais de 6.500 fotos. Uma das primeiras, ele transformou em fotomontagem, mostrando um percevejo d’água (minúsculo inseto que caminhava sobre a água no aquário de sua casa) e sua ainda menor presa: um inseto verde que lhe serve de alimento.
Este grupo de insetos representa um tema de suas fotos: 98% dos percevejos, explica, alimentam-se de seiva vegetal. Um dos mais fotogênicos, percevejo rudivídeo, come insetos. Raras são as espécies que se alimentam de sangue. Entre elas, há um tipo de barata d’água que suga sangue de peixes e anfíbios.
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borboleta
transparente, clicada na gruta da estrada-parque (Foto Yuri Messas) |
Outro assunto são borboletas e mariposas, em todas fases de vida: desde ovos, passando pelo período de lagarta (taturanas), pupa, e fase adulta, quando ela ganha as belas asas. Também aqui há sempre a preocupação em anotar o local e data da foto, e posteriormente identificar a espécie clicada. “Penso em estudar biologia, e me especializar em fotografia da natureza”, avisa Yuri.
Em qualquer área verde - seja o jardim de sua casa, a estrada-parque em Itu, ou a sede da AIPA - Yuri não deixa escapar um único detalhe. Para clicar as flores, que o encantam, presta atenção em cada minúcia, principalmente se um bichinho se esconde por lá. Na dobra de uma folha, é capaz de enxergar uma aranha escondida.
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Aranha
encontrada na sede da AIPA
(Foto Yuri Messas) |
Foi o que aconteceu, no dia em que visitou a sede da AIPA e concedeu esta entrevista a Urtiga. Num cactus de jardim, Yuri localizou uma pequena aranha que nunca vira. Provavelmente, seria uma viúva negra, uma das raras espécies de aranhas venenosas. Depois de clicar o animal em seu ninho, coletou-o para remeter ao Instituto Butantan, visando a identificação. Sim, era uma Latrodectus geometricus, tipo de viúva negra, mas pouco venenosa: sua picada, que raramente ocorrre, apenas causa irritação.
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Aranha
Armadeira, armando o bote, no Dep. Animais Peçonhentos
de Itu (Foto Yuri Messas) |
Em que outros locais ele busca informações para saber mais sobre os bichos que fotografa, e os ambientes onde vivem? Em livros, vídeos, programas de TV voltados à ciência, Internet. Uma recomendação do fotógrafo da natureza: nem tudo o que se encontra na internet é informação com base científica.No entanto, conhecendo o tema, rapidamente sabe-se se o site dá boas informações, ou apenas dados incorretos, frutos da imaginação.
FILHO DE PEIXE....Há muitos anos, Eduardo Messas acompanha o Urtiga e outras atividades da AIPA. Na edição número 6 do jornal, de julho de 1987, ele foi o personagem da mesma página 3, numa matéria intitulada Observador da Vida. Na época, ele mantinha dezenas de aquários e caixas d’água em casa, onde criava peixes, borboletas, aranhas, formigas, lagartos, mariposas. Mas, sempre temporariamente. O objetivo era acompanhar, durante alguns meses, os hábitos, modos de reprodução, alimentação, adequação ao cativeiro de cada espécie. Tudo era feito com rigor metodológico, tudo o que via era anotado.
Yuri ainda não
havia nascido. Poucos anos mais tarde, Eduardo Messas deixou
de lado suas coleções, mas não a paixão
pela natureza, e os seres vivos que nela habitam, que continuou
a observar.
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LEIA TAMBÉM
UMA LAGARTA QUE PODE SER MORTAL Alerta preparado por Eduardo e Yuri Messas, com apoio e revisão científica de Roberto H. P. Moraes, sobre a lagarta Lomonia obliqua, venenosa, encontrada em Itu e também em outras regiões do Brasil |
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