Caros amigos Naturalistas,
Seguem abaixo algumas das mais importantes e esclarecedoras informações que nos foram gentilmente prestadas, versando sobre o notável lepidóptero Lonomia oblíqua, informações estas, cedidas pelo pesquisador científico Dr. Roberto H.P. Moraes (um dos maiores especialista do Brasil em lagartas), trabalhando atualmente no Laboratório de Parasitologia do Instituto Butantan.
LONOMIA OBLIQUA
(uma mariposa pertencente à família Saturniidae, gênero e espécie Lonomia obliqua)
O CICLO COMPLETO DE SUA METAMORFOSE :
fotos : Roberto
Henrique Pinto Moraes
Pesquisador Científico Lab. Parasitologia
Instituto
Butantan
Nas fotos acima, feita a partir de exemplares "empalhados" as imagens não dão uma idéia das dimensões naturais de seus representantes, assim sendo, seguem abaixo as medidas aproximadas :
1- Fêmea : mede 8 cm de ponta a ponta das asas :
2 - Macho : mede 7 cm de ponta a ponta das asas :
3 - Ovos : medem 1 mm de diâmetro.
4 - Lagarta de último instar : 7 cm de comprimento.
5 - Pupa em fase de metamorfose para adulto alado : mede 4 cm de comprimento.
O ACASALAMENTO E A POSTURA:
Com pouca autonomia de vôo, a fecundação entre o macho e a fêmea ocorre geralmente na mesma árvore-mãe (hospedeira). Em São Paulo, geralmente em plantas nativas como o Tapiá (Alchornia), cedro, aroeira. No Sul do Brasil, em frutíferas comuns como o abacateiro, nespereira e pereira, cujas folhas, nutrem e sustentam o ciclo da sua metamorfose. Após a cópula, os ovos são depositados sobre folhas e galhos. Completada a postura os pais morrem aproxidamente 15 dias depois, pois não se alimentam por terem o aparelho bucal atrofiado. O milagre da eclosão ocorre em média 25 dias após a postura, e as pequenas lagartas iniciam logo sua faina alimentícia. Começam primeiramente a comer a casca de seus ovos e posteriormente as folhas mais duras e assim o fazem regularmente até se transformem em pupas. Nesta fase de crescimento elas trocam de pele 6 vezes, até que finalmente empupam.
Aqui
nas fotos abaixo, temos um casal de lonomias copulando, sendo que as cores e a
posição das asas destes exemplares são mais condizentes com
a realidade do que as da foto acima, cujas asas foram distendidas (armadas) para
fazerem parte da coleção entomológica do I.Butantan. Ao lado,
a foto dos ovos em escala.
Mariposas
Ovada
fotos : Roberto Henrique Pinto Moraes
Pesquisador Científico
Lab. Parasitologia
Instituto Butantan
O COMPORTAMENTO DAS LAGARTAS :
As lagartas vivem agregadas em colônias e sempre na mesma árvore-mãe (hospedeira), cujas folhas, são sua única fonte de alimento. Após se alimentarem na copa da árvore à noite, descem todas para a base de seu tronco, e juntas assim, permanecem durante o dia. Interessante observar que elas sobem e descem sempre em fila indiana (umas atrás das outras). Este fenômeno, segundo o pesquisador (Sr. Roberto), é chamado de processionismo (procissão) e se deve à liberação de um ferormônio de agregação que é secretados por elas.
Vejam foto abaixo, mostrando o fenômeno do processionismo :
foto : Yuri F. Messas
A FASE DE PUPA:
No final do último instar (fase) as lagartas procuram a base da árvore hospedeira e sob o húmus em umidade de 80% aproximadamente, trocam de pele e já se transformam em pupas. A umidade do local é muito importante para que as pupas não se mumifiquem. Permanecerão imóveis neste estado por 20 dias aproximadamente onde após o rompimento das pupas emergirão as mariposas machos e fêmeas, dando início novamente ao maravilhoso ciclo da vida destes lepidóptero.
O HABITAT DELAS:
Estão distribuídas por todo o Brasil, sendo mais comuns na região Sul. São encontradas geralmente em matas úmidas, como por ex., as da recente descoberta que fizemos em 10/05/2003 numa floresta de Mata Atlântica em Itu (estado de SP).
Veja nas fotos abaixo, imagens deste local :
fotos : Yuri F. Messas
O MIMETISMO DAS LAGARTAS COM O HABITAT :
Tanto é impressionante de ver a maneira como a colônia em repouso consegue se mimetizar com o tronco (normalmente revestido de micro musgos e algas verdes (dado a alta umidade do local) quanto o é, ver a lagarta camuflar-se no chão ao caminhar por entre as folhas caídas. Obs: chama a atenção a maneira extremamente rápida com que se move quando nestas circunstâncias.
Vejam
a seqüência abaixo:
fotos : Yuri F. Messas
Embora elas não caminhem habitualmente no solo, supomos que quando ela o faz, seja porque caíram acidentalmente de uma folha ou de um galho, seja porque, caminham no chão quando da época de procura por locais em que irão empupar, tornam-se nestas circunstâncias passíveis de oferecer risco de acidentes, principalmente caso alguém venha à pisá-las descalço.
O ACIDENTE COM ESTAS LAGARTAS :
Como acontece :
Ao contato físico entre a pele da vítima e a lagarta.
Quais são os sintomas, e como eles evoluem :
O veneno contido em suas cerdas, extremamente perigoso, pode causar distúrbios hemorrágicos e mesmo levar o indivíduo acidentado à morte. No momento do contato com cerdas de lonomias, ocorre no local, intensa dor e sensação de queimação. No período de 10 horas após o contato, podem surgir sangramentos em qualquer região do corpo, sendo os mais comuns na pele (hematomas), gengivas, ou através de ferimentos em cicatrização. Esses sangramentos podem se tornar mais graves, quando atingem os rins fazendo com que a urina se torne muito escura (marrom). Existem vários acidentados que tiveram insuficiência renal, sendo necessária a hemodiálise (filtração artificial do sangue). Existem também, casos de derrame cerebral com óbitos.
O histórico de acidentes registrados pelo Instituto Butantan :
Desde 1989 existem mais de 1000 acidentados e 14 óbitos.
O que fazer em caso de acidente :
Em
caso de acidente com essas lagartas (ou outros tipos diferentes), procure imediata
ajuda médica local, preferencialmente ajuda especializada pelo telefone
3726 7222 ramal 2188 ou ramal 2000.
Esse telefone é do Hospital
Vital Brazil do Instituto Butantan e está a disposição
24 horas.
Que providência será tomada com o acidentado :
O
mesmo será submetido à tratamento com um soro específico
(soro Antilonomico) contra o veneno desta lagarta.
Soro este que o Instituto
Butantan produz desde 1994.
Como proceder ao descobrir uma colônia de L. oblíqua :
Caso as encontre, ligar no mesmo telefone acima (3726 7222), ramal 2128, que é do laboratório de Parasitologia/Entomologia e que tem como principal atividade o estudo dessas lagartas urticantes.
Porque relatar ao Instituto Butantan a ocorrência de acidentes, ou mesmo a descoberta destas lagartas. :
Pelo interesse que existe em pesquisar a ocorrência, o modo de vida destas lagartas e, entre outros fatos, o de que o soro antilonomico é feito a partir das venenosas cerdas urticantes que despontam do corpo da lagarta.
O ATO DE PRESERVAR ESTAS LAGARTAS : Caros amigos, cabe a nós, naturalistas, preservarmos estas criaturas e seu meio ambiente. Principalmente agora, que sabemos um pouco mais sobre estes extraordinários e exóticos animais. Preservá-las é muito mais que um ato de amor à Deus e suas criaturas.....preservá-las é, sobretudo, uma questão de amor ao próximo, ao favorecer que com elas se faça o soro que irá salvar muitas vidas humanas no futuro. Ou seja, o mesmo veneno que mata, é o mesmo que, processado nos laboratórios especializados, virá salvar vidas. O Criador é perfeito......quem sabe quantos remédios mais não poderão ser descobertos e produzidos à partir das cerdas do corpo destas espetaculares lagartas? |
Enfim é isso!
Espero que tenham gostado e que repassem estas informações.
Forte abraço a tds vcs.
Eduardo e Yuri.
Fotos : Yuri F. Messas e Roberto
H. P. Moraes.
Texto : Eduardo e Yuri F. Messas.
Principais informações científicas /
Revisão científica e orientação de texto : Roberto
H. P. Moraes.
Reproduzido no site da AIPA com autorização dos
autores.
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