O PAPEL DOS OBSERVADORES DE AVES

(Publicado no Urtiga 157 - julho/agosto 2003 - pags. centrais

CERTEZAS E INCERTEZAS

"Que certeza podemos ter de que aumentou o número de espécies de aves nas áreas urbanas? Luiz Fernando Figueiredo, do Clube de Observadores de Aves de São Paulo, tem dúvidas.

O estudo da avifauna urbana, diz ele, é muito recente no país. “Na cidade de São Paulo, as observações de Margareth Mitchell, da década de 1950, são consideradas pioneiras”, diz ele.

Se faltam levantamentos científicos anteriores, como garantir que aumentou ou diminuiu uma população? “Temos impressão que determinada espécie apareceu na cidade. Mas será que não foi o aumento do número de observadores que permitiu que ela fosse notada?”

Para Figueiredo, há muito a estudar nas cidades. Sabe-se, por exemplo, que - pelo excesso de cimento (que reflete calor) acompanhado da falta de árvores - centros urbanos são mais quentes que a periferia verde. Como isso se reflete no perfil das aves urbanas? Adiantaria ou atrasaria a época reprodutiva?

O cientista Jacques Vielliard é pessimista quanto a quem buscaria respostas. Clubes locais de observadores da avifauna são fundamentais, diz ele. Só que, pelo menos em Campinas, praticamente ninguém que sai a campo. Além disso, critica, faltam mais livros que sirvam como guias de campo.

“O Clube Infantil de Observadores de Aves, criado na década de 1980 no Zoológico de Sorocaba, hoje é o Clube de Conservadores da Natureza, reunindo cerca de 50 jovens, de 9 a 18 anos, que participam de cursos e campanhas com temáticas mais amplas”, relata Cecília Pessuti, bióloga deste Zoológico, comentando a situação no município.

PESQUISA DA AIPA EM ITU

Em Itu, em 1987 - logo após a criação da Área de Proteção Ambiental Municipal Itu, Bairros Varejão Taquaral, para proteger uma rara mancha de cerrado do município - a AIPA promoveu uma pesquisa de fauna e flora, efetuada pela Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem (SPVS).

Visitando a área por uma semana em cada estação do ano, a equipe de ornitologia usou técnicas de visualização, reconhecimento auditivo e captura (com posterior soltura). Assim, identificou 117 espécies de aves.

Deste total, 36 foram vistas no cerrado, sendo apenas 4 exclusivas do ecossistema: perdiz (Rhyncholtu rufences), gavião quiri-quiri (Falco sparverius), novinha-cinza (Xolmis cinérea) e sabiá do banhado (Embernagra platensis).

A maioria das espécies, 57, estavam nas matas ciliares. Entre as exclusivas deste ecossistema, os cientistas destacaram três: saracura-do-mato (Aramides saracura), chupa-dente (Conopophaga lineata) e tororó (Todirostrum plumbeiceps).

Já nos trechos de pastagens e cultivo rural, como era de se esperar, havia várias aves comuns de áreas urbanas, como a rolinha-paruru (Columbina tapacoti) e o joão-de-barro (Furnarius rufo). Das 63 enumeradas nestes locais, 19 não foram vistas em ecossistemas nativos.

Enquanto que nos trechos reflorestados com eucaliptos e pinus (respectivamente com 28 e 6 espécies observadas) só uma era exclusiva destes locais; em ambientes de lagos e banhados, das 9 espécies constatadas, a maioria (6) não foi percebida em outro ecossistema da área de proteção.

“Nosso desejo é refazer este estudo, para avaliar a evolução da área, passados 15 anos”, confessa Juljan Czapski, presidente da AIPA, notando que a siriema, tão típica do cerrado, não foi vista em 1987. “Recentemente, voltamos a ouvi-las, principalmente no começo da primavera."