QUITANDO SUA DÍVIDA COM A NATUREZA(Publicado no URTIGA 007 - agosto 1987 - pág. 3) |
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Durante muitos anos, ele exportou madeiras. Mês teve que se afastar do negócio, enquanto durou a Segunda Guerra Mundial: o governo brasileiro não permitia que pessoas de origem alemã se dedicassem ao comércio. Wolfgang Schmidt, deixou então sua bela casa, em São Paulo, e comprou uma fazenda em Campinas, para morar.A região era linda. Cheia de morros suaves, rios e campos, de onde saíram milhões de toneladas de café. O município foi, por décadas, um dos pólos de produção cafeeira. Sr. Schmidt lembra ainda da estrada de ferro - hoje desativada - que os fazendeiros construíram com recursos próprios, para transportar o produto. Foi o primeiro trem do país movido a eletricidade.
DEVEDOR DA NATUREZA
Como antigo comerciante de madeiras, ele sentia-se endividado para com a natureza. Quis plantar árvores. Mas não como todos faziam, reflorestando exclusivamente com eucaliptos e pinheiros para obter colheitas rápidas de lenha, carvão ou celulose. "Recuperar áreas devastadas, mediante o plantio de matas mistas, sempre me pareceu preferível ao cultivo de uma espécie só, técnica esta, se não me engano, proibida por lei em alguns países", relata ele em correspondência enviada à AIPA, onde propôs troca de experiências e informações.
Pensando assim, Schmidt plantou, há 43 anos sua primeira "mata mista". Intercalou 23 espécies, tanto nativas quanto aclimatadas, em meio alqueire de terra. Era uma tentativa inédita. Para sua surpresa, a regeneração foi tão boa que logo apareceram árvores diferentes, cujas sementes só poderiam ter sido trazidas por pássaros ou pelo vento. Recentemente, algumas árvores desta primeira mata secaram em pé, por motivos ignorados. Elas foram retiradas, e sua madeira vendida: "Conseguimos peças serradas de madeira de lei de até 45 cm de largura. Uma verdadeira fortuna ! Cada árvore lotou um caminhão. Imagine se, durante 40 anos, eu tivesse plantado só milho no mesmo espaço. Você acha que eu teria o mesmo rendimento ?"
PLANTANDO O FUTURO
Para alimentar seu viveiro de mudas, Schmidt teve uma idéia original: está cultivando uma alameda de árvores nativa, à beira do caminho que leva a uma cachoeira. "já tenho 80 espécies, mas quero chegar a cem", relata orgulhosamente, lembrando que isto facilitará a coleta de sementes. "Hoje em dia, é difícil encontrar pessoas que entrem na mata para fazer este serviço...", comenta.
"O tamboril, o araribá e o pau ferro, são algumas das espécies que melhor cresceram", indica o fazendeiro, mostrando um de seus experimentos mais recentes, realizado há menos de cinco anos, numa área argilosa, muito semelhante ao que existe em Itu. O lugar tinha sido devastado pela extração de solo, que serviu para aterrar uma várzea. Hoje, já tem árvores bem altas. Fazemos covas de até 40 cm de profundidade e colocamos esterco antes de plantar. Se a seca for forte, irrigamos as mudas. No início, eu distanciava, muito as árvores. Mas não é necessário", diz ele, para explicar a técnica de plantio. Nos primeiros anos de vida da planta, Schmidt recomenda que os galhos laterais mais baixos sejam cortados, para que a árvore cresça reta e sem nós.
QUEM VAI LUCRAR ?
E quem vai lucrar com a exploração destas florestas? "Talvez meus
netos. Espero que sejam mordidos pela mosca Schmidt tem certeza que, se o reflorestamento com espécies nativas não se tornar uma preocupação diária de todos proprietários rurais, deixando de ser encarada como "distração elogiável de ricos e fanáticos", estaremos arriscados, num futuro próximo, de sermos um país - ou mundo - sem matas e sem madeiras. Por isso, o fazendeiro sugere aos que "rezam pela mesma cartilha", e, individualmente desenvolvem experiências, comecem a trocar informações, para que, em conjunto, as iniciativas tomem impulso. E torce para que cada vez mais pessoas sejam mordidas por esta mosca azul.
Originalmente
publicado no Urtiga n° 7, em Agosto/1987
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