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MAIS POESIAS DE JOAQUIM ROBERTO DE ARAÚJO


Joaquim Roberto de Araújo raramente mostrava suas poesias, muitas das quais só descobertas pela família após sua morte.
Esta seleçao de poemas ecológicos foi feito pelo irmão Nelson Araújo, especialmente para o Urtiga e o site da AIPA.
Confira
.
PEDRA MOUTONNÉE
O CONDOR
LAIKA


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LARGO DA MATRIZ DE ITU


(poesia, publicada no livro Poesia Ituana,
e dedicada ao antigo Largo da Matriz,
dos anos 1950)

Retornando no tempo, há muitos anos atrás,
encontro-me no Largo da Matriz,
de uma pequena cidade do interior,
com frondosas árvores ao meu redor.

Percorrendo o passeio de terra batida,
paro em frente à centenária figueira,
onde pássaros em sinfonia de sons,
disputam ávidos os frutos adocicados.

Penso na velha e majestosa figueira,
que assistiu às procissões da Matriz,
os carros de boi rangendo com a carga,
os troles passando com as donzelas.

Mais ao lado um pé de abieiro,
onde sanhaços, sabiás e saíras,
na árvore cheia de frutos e flor,
comem a fruta exótica de raro sabor.

Continuando o meu passeio na rua de areia,
contemplo uma fila de lindas tamareiras,
enfeitando qual oásis do deserto,
o espelho d’água com peixes amarelos.

Em frente à Matriz, um pé de canela,
trazido talvez, por emigrantes na caravela.
majestosas cabreúvas, perobeiras e paus-brasis,
enfeitam o jardim do Largo da Matriz

Os canteiros com flores heterogêneas,
beija-flores de cores cintilantes
borboletas e insetos multicoloridos,
adejando em dança entre as flores.

O coretinho no meio das árvores,
onde as bandas da cidade, em disputa,
executam marchas e dobrados
aguardando a grande festa.

Largo da Matriz com a noite silenciosa,
sem buzina, sem ronco de motor, sem fumaça,
sem rock and roll e entorpecente,
no mais sadio passeio da cidade.

É triste ter acordado deste sonho,
e ver o largo da matriz destroçado,
as árvores doentes, gramados poeirentos,
os passeios de pedra exalando calor.

Como era belo o meu Largo da Matriz,
destruído pela desculpa do progresso,
sufocando as plantas, sem sombra e frescor,
ficando sem romantismo e sem amor ...

(Joaquim Roberto de Araujo)



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A PEDRA MOUTONNÉE DE SALTO

Na espessa e densa vegetação da mata,
Salientava solitária e toda enfeitada,
Misturando-se com o verde, majestosa pedra;
Toda recoberta por musgo, samambaia e flores.

Quantas coisas belas esta pedra testemunhou;
Assistiu a piracema subindo e cristalino Tietê,
Quando saltavam na cachoeira espumante e fria,
Enormes dourados, piavas, pintados e lambaris.

Grande e solitária pedra toda enfeitada,
Que presenciou a passagem ao teu lado,
Dos fortes e ferozes guerreiros Tupis,
Se deslocando pela mata a caça do tapir.

Enorme rocha sólida e resistente,
Onde a onça pintada espreita a caça,
Na trilha das pacas, antas e capivaras,
Num salto acrobático no dorso da anta.

Grande e solitária pedra de granito,
Que contemplou a descida das monções,
Com Bandeirantes destemidos pelo rio,
A procura de ouro, esmeraldas e safiras.

Pedra, testemunha da pureza da mata,
Que solveu o orvalho cristalino,
Descendo pelo teu corpo até o chão,
Junto a vertentes translúcidas e limpas.

Grande pedra, hoje tu estás desnuda,
Ao teu redor não tem pássaros e selvas,
O rio não tem peixes e vida aquática,
Nem a pureza das vertentes cristalinas.

Rocha pura e solitária, você não morreu;
O “homo sapiens” destruiu o teu jardim,
As lindas árvores não lhe dão mais sombra,
Tu não tens mais os brincos e colares de flores ...

(Joaquim Roberto de Araujo)

 

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O SABIÁ

Na espessa mata fechada,
Entre rios, córregos, cachoeiras
E vertentes cristalinas e frias,
nasceu o sabiá laranjeira.

Em seu ninho fofo e macio,
No meio de orquídeas perfumadas
E as flores da primavera
Crescia alegre e sadio o sabiá laranjeira

Muito cedo o filhote aprende a voar,
Sempre guiado e vigiado pelos pais.
O sabiá esperto e confiante,
Voa apenas perto dos pais vigilantes.

O sabiá, agora com segurança,
Se projeta em vôos longos e rasantes,
À procura de frutos silvestres
Abundantes nas matas circundantes.

O seu canto suave e harmonioso,
Enchia a floresta de sons.
A floresta emudecia ao gorjeio
Do mestre sabiá laranjeira.

Mas o seu canto mavioso
não passa despercebido pelo homem,
Que com malícia e negaça,
Aprisiona o feliz sabiá.

Em pequena gaiola aprisionado,
Pendurado em um cômodo imundo,
Cheirando a excremento humano,
O sabiá foi definhando.

Não comia, apenas água poluída bebia,
Sonhava com a floresta perfumada,
As frutas frescas e saborosas,
As águas cristalinas e puras.

Triste e solitário, com o corpo com feridas,
As penas sem brilho de lutar pela vida,
O sabiá foi morrendo aos poucos
Sem a vida que tanto queria.

(Joaquim Roberto de Araujo)

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O CONDOR

Bela, forte e altaneira,
Com sua envergadura de porte,
Olhos ligeiros, garras poderosas,
É o condor a ave dos Andes.

Corpulento o rei das alturas,
Seus olhos são penetrantes,
Voa imponente junto às nuvens
No frio cortante dos Andes.

O condor a águia dos Andes,
Voa com acrobacias e esplendor,
O homem querendo imitar a ave,
Com as coloridas asas delta,
Nunca chegará a igualar
A versatilidade e beleza do condor.

(Joaquim Roberto de Araujo)

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AO MEU AMIGO

Mais um ano está a findar
Muitas comemorações e felicitações.
Os homens trocam entre si,
Frases bonitas, desejando boas festas.
Tudo parte exteriormente, sem intenção.

Estou a refletir sobre essas coisas
Em minha mesa de trabalho.
Relacionei diversos nomes para felicitações,
Mas estou em dúvida, se devo mandar,
Cada um deles não mostrou ser amigo verdadeiro;

Atrás de muitas bajulações e apertos de mão,
Está apenas o interesse material.
Não existe sinceridade, apenas hipocrisia.
Tudo gira em torno de usufruir vantagens
Das pessoas que se projetam financeiramente.

Continuo na minha reflexão,
Mas não consigo encontrar a pessoa certa,
Para endereçar o meu cartão de natal.
Entre todos os selecionados, todos iguais,
Apenas, interesses pessoais, nada mais.

Enfim, encontrei o amigo verdadeiro.
Estou redigindo palavras bonitas
Saídas do coração para o meu grande amigo,
Sei que não vou receber resposta do meu cartão.
O meu amigo não escreve, não fala, não é mudo,
Mas não tem o dom da escrita e da palavra.

Não importa, ele é o amigo sincero na verdadeira expressão da palavra.
Este meu amigo não escreve, não fala, mas me faz carinho
Sabe quando estou triste ou alegre.
E me procura mesmo que não tenha banquete para lhe oferecer.
Este meu amigo, vou dizer quem é
É o meu cão, o meu melhor amigo.

(Joaquim Roberto de Araujo)

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LAIKA

Quando fomos te ver
Você estava toda sonolenta
Com os olhinhos semi-abertos
Quase desaparecendo na pelugem macia.

Havia, não me lembro bem.
Era você e mais três irmãos.
Apesar de ser uma menina,
Você era grande e soberba.

Após te carregar nos braços e te mimar como uma criança.
Te levamos para casa,
Como nossa filha caçula.

Lembro-me bem a primeira noite,
Ela ficou num caixotinho.
Parecendo um bicho de pelúcia,
Enfeitando um quarto de criança.

Você foi crescendo forte e bonita,
Agora adolescente alegre e bricalhona.
Brincando com a bola jogada pelas crianças,
Parecia entender o vocabulário humano.

Laika era linda, teus pelos macios.
Teu olhar amoroso e terno,
Refletia o amor em teus donos.

Sentia alegria, saudades e amor,
Entendendo o estado emocional,
Daqueles que a amavam,
E lhe davam carinho.

Laika você era uma companheira,
Beijava o meu rosto, e carinho retribuía,
Brincava de correr e de esconde-esconde,
Laika era a eterna companheira.

Laika você sempre fez parte
Da nossa família,
Chorava, sorria encantava
Você amava todos com alegria.

Ao longe sempre ouvia teus latidos.
Nunca te esqueci, nos rolávamos no tapete.
Você espirrava e levantava
E abocanhava meus braços com ternura.

Passei tanto tempo sem te ver
Mas sempre a tinha no pensamento.
Queria correr a teu encontro
Sentir a alegria em teu rosto.

Mas hoje é impossível
Você partiu sem me avisar
Foi para a eternidade com sua alma pura.

Adeus... Laika, sempre te amei.
Hoje com lágrimas nos olhos
Lembro com saudades da minha eterna Laika.

Você não morreu, o teu espírito,
A tua bondade permanecerá
Sempre junto daqueles que você amou.

(Joaquim Roberto de Araujo)

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TESOURO ESCONDIDO ...
Em 2003, após o falecimento, sem explicações, de Joaquim Roberto de Araújo, a família encontra poeslias ecológicas, que ele escreveu e raramente mostrou

JOAQUIM ARAÚJO E SUAS POESIAS ECOLÓGICAS
(página em construção)
a reportagem publicada em 1987 no Urtiga, em que o poeta revelava o amor pela causa ambiental


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