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LIXO ATÔMICO, EM ITU??

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ASSUNTO - LIXO ATÔMICO DE ITU
QUEM ASSINA - Artigos publicados no jornal Urtiga
QUANDO/ONDE - Década de 1990 - Seleção de textos

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LIXO ATÔMICO DE ITU

(HISTÓRICO EM TEXTO PUBLICADO NA PÁGINA CENTRAL, DA EDIÇÃO 82 DO URTIGA, DE MAIO/1994)

Por 2 vezes o monitoramento da Cetesb descobriu contaminação radioativa no poço do caseiro do Depósito de Lixo Atômico, que fica no Bairro Botuxim em Itu. Este fato motiva o estudo de ação pela Curadoria do Meio Ambiente, em conjunto com a Aipa, pedindo segurança para a população.

O QUE

A responsável pelo depósito de material radioativo no Sitio São Bento, bairro Botuxim, em Itu é a Nuclemon, subsidiaria da Nuclebrás, criada com finalidade especifica de pesquisar, lavrar, industrializar e comercializar as areias pesadas do nosso país.

Como única responsável pela produção de compostos de Tório no Brasil, a Nuclemon tem usinas instaladas no litoral do Rio de Janeiro e Espírito Santo, onde minerais já separados, classificados como ilemita, rutilio, zirconita e monazita são processados, obtendo-se produtos para fins industriais, além de urânio e tório.

Na fase de processamento obtém-se um subproduto, denominado Torta II, que contem 20% de Tório e 1% de urânio, elementos que podem ser posteriormente extraídos pelo reprocessamento deste subproduto.

Essa Torta II é o material depositado em Itu, que conhecemos como "lixo atômico". O mencionado depósito situa-se a montante do córrego Monjolinho, um dos mananciais da cidade. São cerca de 3500 toneladas de material que merecem cuidados especiais, infelizmente não observados.

HISTÓRICO

A Torta II começou a ser depositada em Itu por volta de 1975, sem as mais rudimentares medidas de segurança. Construído por empreiteiros do município, que ignoravam a finalidade da obra no Sitio comprado pela Nuclemon, o depósito não tinha cerca de proteção, cobertura, sinalização, etc.

O problema foi detectado em 1979 pelo então vereador Amauri Christofoletti, que iniciara investigações sobre movimentação no referido sítio, a partir de denúncia de uma professora. As medidas tomadas na época, com prefeitura comandada por Olavo Volpato, não conseguiram eliminar o problema.

Em 1983, já no governo Piunti, em reunião do Conselho do Povo, criou-se comissão em Itu, que contatou autoridades para tentar resolver o problema. A Cnen (Comissão Nacional de Energia Nuclear), que por lei cuida do setor no País, prometeu fazer monitoramento. Mas, até 1985, não entregou os resultados ao Município. A cidade organizou então grande manifestação.

Resultado do protesto, em 1986, formou-se comissão interministerial, com representantes de 2 Ministérios, do Governo Estadual, Municipal e 3 cientistas. A perícia constatou irregularidades, inclusive na construção dos silos que guardam a Torta II. A Comissão recomendou que os depósitos fossem reavaliados, al ‚ m de pedir implantação de laboratório para controle de qualidade local, treinamento do pessoal da Prefeitura, etc...

A Cetesb passou a monitorar radioatividade dos mananciais em Itu. Em 1990, a então Presidente do Comdema (Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente), Beatriz Pionti, divulgou primeira noticia de contaminação no poço do caseiro, no sitio São Bento, a 150 metros de distância do depósito. E mandou oficio ao Cnen, exigindo imediatas providências.

Com base na denúncia, a Associação Ituana de Proteção Ambiental, junto com Câmara Municipal de Itu, entrou com pedido de inquérito civil na Curadoria do Meio Ambiente, exigindo o fim das causas da contaminação. Várias promessas se seguiram, dos órgãos governamentais, de possível retirada do material para Poços de Caldas, o que levou a postergar a ação.

Nada aconteceu. Pior: a Cetesb aumentou intervalos de monitoramento, exceto no poço do caseiro em Botuxim. Mais recentemente, nova contaminação foi detectada no local, motivando novos trabalhos pela Curadoria do Meio Ambiente, que - junto com a Aipa - estuda como exigir providencias para garantir segurança da população e do ambiente em geral.

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(texto produzido pela Aipa, a partir de relatório de Carlos Mazzuco,
publicado pelo jornal Urtiga em 1991, e informações posteriores, do mesmo jornal.
Com base nele, foi elaborado material para as Escolas Padrão de Itu,
usado no mês de atividades antinucleares).




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"OS EFEITOS DE CHERNOBYL"

NOTA NO EDITORIAL DO URTIGA, DA EDIÇÃO 96, DE JULHO/1995, SOBRE ENCERRAMENTO DA AÇÃO PÚBLICA:

Em tempo: A ação que a Curadoria do Meio Ambiente de Itu movia contra os responsáveis pelo depósito de lixo atômico, neste município, foi arquivada. Ela foi iniciada em conjunto com a Aipa, ou Associação Ituana de Proteção Ambiental, depois que se constatou - por duas vezes - vazamento radioativo no poço do caseiro do sítio do depósito.

Depois de arrolar um enorme volume de documentos, o Curador do Meio Ambiente de Itu, Alberto Camiña entendeu que não havia provas suficientes para prosseguir com o processo. O que está armazenado no depósito ituano é Torta II, que contém 20% de Tório e 1% de urânio.

Nos anos 70, ele foi disposto a céu aberto, sem nenhuma consulta à população, no sítio São Bento, que fica no bairro Botuxim, na área rural de Itu. Foi a partir da denúncia de uma professora, que morava perto do sítio, que se descobriu, em 1979, que o material era radioativo. Desde então, multiplicaram-se protestos contra a permanência da Torta II no bairro Botuxim. Inclusive um, no ano passado, onde estudantes ituanos expuseram desenhos por um dia, dentro do Congresso Nacional em Brasília, e a Aipa participou de reunião técnica sobre a questão nuclear. Agora, é esperar para ver o que ocorre.


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"O CIGARRO E O LIXO ATÔMICO"

EDITORIAL DO URTIGA, NA EDIÇÃO DE AGOSTO/1992, ONDE REPRESENTANTE DA CNEN, COMENTA O PROBLEMA

Faltavam poucos dias para a Eco 92. Como parte do RioCiência 92 - evento científico organizado na Universidade Federal do Rio de Janeiro - o físico Anselmo Paschoa, da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen), tinha a incômoda missão de falar sobre a segurança das instalações nucleares brasileiras.

Para defender o polêmico ponto de vista de que o pânico da operação de retirada da população ante o acidente nuclear em Angra dos Reis causaria mais danos de que a permanência das pessoas no local, ele se apoiou num fato então ainda não divulgado. Como condenar o perigo da contaminação nuclear em eventuais acidentes, se cada indivíduo que fuma ingere, voluntariamente, doses de radioatividade através dos cigarros? comparou.

Em fins de julho, quase 2 meses depois, resultados de estudo realizado no Instituto de Física da Universidade de São Paulo ganharam espaço na grande imprensa. A notícia - rapidamente rebatida pela indústria do setor - dava conta que quem fuma um maço por dia de determinadas marcas, está sujeito à exposição radioativa de até 2 chapas de pulmão diárias. Este índice seria 11 vezes maior de que a contaminação m ‚ dia por urânio dos cigarros norte-americanos. Ou seja, haveria para consumidores brasileiros risco 11 vezes maior de contrair câncer do pulmão, de bexiga ou arteriosclerose precoce, de que para fumantes da América do Norte.

Falando a Urtiga, Anselmo Paschoa contou que participou das primeiras pesquisas neste campo. Mas considerou precipitada a conclusão de que urânio dos cigarros, isoladamente, levaria a tantas moléstias: "Não está provado que o corpo humano absorva dose significativa de urânio via inalação".

O polônio - outro elemento radioativo existente nos cigarros - sim. Mas, mesmo com estudos americanos evidenciando a potencialidade cancerígena do polônio, não se pode garantir que seja ele o responsável pelas doenças. Tabaco tem outros componentes, como alcatrão. Com certeza, o "mix"é prejudicial. O que sabemos é que fumar dá câncer."

O representante da Cnen ouviu que os candidatos à prefeitura de Itu classificam o depósito de "lixo atômico" entre os maiores problemas ambientais locais (leia, nas páginas centrais*). "Se este for o problema, o município está ótimo", comentou, bem humorado. Membro da comissão que há cerca de 6 anos pesquisou possível contaminação da área, ele admite que após descoberta do depósito e construção das caixas de concreto onde o material foi inserido (início dos anos 80) houve erro técnico, que resultou em furo numa delas. Isto implicou no vazamento radioativo, atingindo poço do caseiro vizinho ao depósito, o que - quando divulgado - gerou processo da Curadoria do Meio Ambiente, até hoje sem resultado. "O furo foi fechado", assegura.

Relembrando que o que há em Botuxim é Torta II, reaproveitável, o cientista prometeu: "A curto prazo estará tudo resolvido. Iremos retirar tudo, para reprocessamento. Já estamos em fase de licenciamento para construção de barragem (dos rejeitos pós-reaproveitamento) e de estudos de viabilidade econômica do projeto, a ser desenvolvido por uma empresa."

Anselmo Paschoa encerrou a entrevista a Urtiga com um pedido: gostaria de voltar a Itu para - num debate suprapartidário - responder sobre o depósito de "lixo" atômico, segurança em Aramar, Angra dos Reis e outros temas que preocupam a população.

 

Os textos assinados são de responsabilidade de seus autores. A AIPA inclui nesta seção a título de informação e para subsidiar discussões

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