CONTEXTO
O consumismo surgiu
como fórmula para garantir o crescimento econômico
após a 2ª Guerra Mundial, relata David T. Suzuki
ex-professor da University of British Columbia, em Vancouver
(Canadá) que - após a repercussão da
sua série de TV, The Nature of Things (Coisas da Natureza)
- criou a organização canadense David Suzuki
Foundation, voltada à conscientização
e preservação ambiental.
Vale à
pena ler o artigo, divulgado em 7 de março no seu site,
neste momento em que a mudança dos hábitos de
consumo (desde a troca de marcas para evitar o que é
produzido nos países favoráveis à invasão
do Iraque até a revisão dos hábitos de
consumo visando reduzir a voracidade humana sobre os recursos
naturais) tornou-se uma forma de trabalhar pela paz:
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"A maior
parte das pessoas com quem converso, atualmente, entende que a humanidade
está provocando severos danos ao suporte dos sistemas naturais
que nos garantem ar limpo, água, solo e biodiversidade.
Mas cada um sente-se insignificante entre os 6,2 bilhões de
habitantes do Planeta. Não importa o que faça individualmente
para reduzir o impacto na natureza, isso lhe parece pouco. Perguntam-me
freqüentemente: 'O que posso fazer?'
Que tal começar por rever os hábitos de consumo? Não
faz muito tempo que a frugalidade era virtude. Mas, hoje, dois terços
da nossa economia está construída sobre o ato de consumir.
E isso não ocorre por acaso.
O crack da bolsa de valores em 1929, nos EUA, que marcou a Grande
Depressão Econômica, mergulhou o mundo numa terrível
crise. Foi a 2ª Guerra Mundial quem catalisou a recuperação
econômica norte-americana: uma enorme base de recursos, produtividade,
energia e tecnologia do país foram direcionados para a guerra,
gerando um aquecimento da economia. Com a iminência da vitória,
conselheiros na área econômica do então Presidente
foram desafiados a encontrar uma saída para transformar a economia
de guerra, adaptando-a para a paz.
Foi o analista Victor Lebow quem apontou uma solução:
'Nossa economia, enormemente produtiva, demanda que transformemos
o consumo em estilo de vida. Devemos converter a compra e uso de bens
em rituais que iremos buscar para nossa satisfação espiritual,
a satisfação do nosso ego, em consumo... Precisamos
que coisas sejam consumidas, repostas, descartadas, em ritmo cada
vez mais elevado.'
O chefe do conselho de assessores econômicos do Presidente Eisenhower
constatou: 'O objetivo maior da economia norte-americana deve ser
produzir mais bens de consumo.' Não focalizar a melhoria de
serviços de saúde, educação, habitação,
transporte, recreação, ou combate à pobreza e
fome, mas sim, providenciar mais e mais produtos destinados aos consumidores.
Quando os bens são bem feitos e duráveis, eventualmente
o mercado fica saturado. Um mercado sem fim cria-se com produtos que
fiquem obsoletos rapidamente (pense em roupas, carros, computadores).
E com a possibilidade de jogar fora, uma vez que o produto foi usado,
o mercado nunca ficará saturado.
Produtos de consumo não surgem a partir do nada. Eles provêm
da Terra e, quando descartados, retornam à terra como lixo,
às vezes lixo tóxico. Gasta-se energia no processo de
extrair matéria prima, processá-la, manufaturar e transportar
o produto. Enquanto que o ar, água, solo são freqüentemente
poluídos em muitos pontos durante o ciclo de vida deste produto.
Em outras palavras: tudo o que consumimos tem efeito direto na natureza.
Além disso, há custos espirituais e sociais. Allen Kanner
e Mary Bomes escreveram em The All Consuming Self: 'a compra de um
novo produto, principalmente um item mais caro - por exemplo automóvel
ou computador -, tipicamente produz um prazer imediato, além
de conferir status e reconhecimento ao dono. Mas, quando a novidade
passa, a sensação de vazio tende a voltar. A solução
típica será focalizar uma nova e promissora compra.'
Ultimamente, isto vai além do prazer ou status. Adquirir um
bem tornou-se uma demanda inadiável. Paul Wachtel coloca em
The Poverty of Affluence: 'Possuir mais e novos objetos, a cada ano,
tornou-se não apenas que nós queremos, mas que precisamos.
A idéia da crescente prosperidade tornou-se o centro de nossa
identidade e de nossa segurança. Somos envolvidos por isso
como o dependente o é por drogas.'
Muito
do que compramos não é essencial para nossa sobrevivência,
ou para nosso conforto básico, mas tem como base o impulso,
a novidade, o desejo momentâneo. Mas há um preço
embutido, que nós, natureza e futuras gerações,
iremos pagar.
Quando o consumo se torna a razão de existir das economias,
nunca perguntaremos: 'quanto é o suficiente?', 'por que precisamos
disso tudo?', 'estamos mais felizes?'.
Nossa escolha pessoal como consumidores tem conseqüências ecológicas,
sociais, espirituais. É tempo de reexaminar, com profundidade,
as noções que estão por trás de nossos
estilos de vida."
David
Suzuki (fonte: www.davidsuzuki.org)

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