ONGS EM BAIXA?
Uma
surpresa para Vivianne Amaral, secretária executiva da Rede Brasileira
de Educação Ambiental (Rebea) e coordenadora do Tecendo Cidadania,
projeto encabeçado pelo Instituto Ecoar, de São Paulo.
Avaliando os resultados preliminares de uma pesquisa que revelará o estado
da arte da educação ambiental em sete estados brasileiros, ela notou
que só no Rio Grande do Sul as Ongs (organizações não
governamentais) estão à frente. É o único estado em
que elas respondem por mais da metade (53%) das iniciativas, num universo de 158
respondentes. No estado
de São Paulo, a situação é inversa. De 435 questionários
entregues, 52% dos respondentes pertencem a órgãos públicos,
isto é, órgãos governamentais e o setor de ensino. "Me surpreendi
quando os números mostraram que os órgãos públicos
estão na linha de frente nas ações de Educação
Ambiental, na maioria dos estados", diz ela, comentando que, no território
paulista, o setor empresarial ficou com 16% da participação (talvez
pelo crescimento das consultorias), e as ONGs com apenas 14%.
No Pantanal Matogrossense (MT e MS), terceiro campo da pesquisa, também,
predominaram as instituições públicas, com 66% de participação,
contra 22% de Ongs. Avançando nos detalhes, os paranaenses revelam que,
no Estado, educação ambiental envolve mais o ensino fundamental
(cerca de 29%). Em seguida, vêm órgãos do governo (27%) e,
por fim, as Ongs (20%).
Os dados preliminares já indicam a maior demanda dos educadores: eles querem
capacitação em educação ambiental. E houve pedidos
para que a capacitação também atinja formadores de opinião.
Financiamento de projetos de "EA" é outra grande carência. "Nos orçamentos
de órgãos públicos - de educação ou da área
ambiental - raramente há previsões de verbas para educação
ambiental, apesar da sua obrigatoriedade em todos níveis de ensino".
Mau sinal. Em São Paulo, um dos estados mais avançados neste setor,
21% dos exemplos citados pelos respondentes são de sensibilização.
Para a secretária do Rebea, isto denota um estágio muito inicial
no processo. Água e lixo são dois temas recorrentes no estado, mencionados
por educadores de escolas, comunitários e de empresas (único segmento
que também citou agricultura orgânica e saúde).
POR
TRÁS DOS RESULTADOS...
O levantamento dos dados para o Diagnóstico de Educação Ambiental
em 7 estados foi feito por quatro redes de educação ambiental: Reasul
(rede dos 3 estados sulinos); Repea (rede paulista); Aguapé (do Pantanal
- MT e MS), e Raea (Acre). Trata-se de um projeto realizado com apoio do Fundo
Nacional do Meio Ambiente (vinculado ao Ministério do Meio Ambiente), que
na verdade é mais amplo. Enquanto dados eram levantados, cada Rede de "EA"
investia para otimizar sua estrutura.
O diagnóstico deve estar pronto em novembro, para apresentação
no V Fórum Brasileiro de Educação Ambiental (ver Box). E
suas informações devem alimentar o Sistema Brasileiro de Educação
Ambiental (Sibea), banco de dados governamental disponibilizado ao público
nos sites dos ministérios do Meio Ambiente e da Educação.
Isabel Carvalho, docente
Universidade Luterana do Brasil, está trabalhando para consolidar os dados.
Em julho, ela se reuniu com representantes de cada rede em São Paulo, discutindo
as informações levantadas nos estados.
Um dos pontos, diz ela, é a diversidade das respostas. No caso do Acre
- onde as instituições públicas predominam nas ações
de Educação Ambiental - houve preocupação em relacionar
as 185 atividades, realizadas por sete instituições de 11 municípios.
Em outros estados, a opção foi detalhar programas e projetos. Para
o diagnóstico, diz ela, cada rede está trabalhando na uniformização
dos dados. Definindo um diagnóstico
como retrato de um momento, a docente prevê que será importante dar
novos clics, periodicamente, para acompanhar a evolução.
Tecnicamente, prossegue ela, trata-se de uma pesquisa exploratória, primeira
tentativa sistemática de realizar um levantamento mais abrangente do estado
de arte da Educação Ambiental. Os resultados são significativos,
apesar de não ter havido ainda preocupação em dar um caráter
amostral, ou seja, garantindo a proporcionalidade de 3 a 5% do universo total
desejado. Ainda com os primeiros
dados na mão, ela já levanta algumas hipóteses. Por exemplo:
os estados de São Paulo e Rio Grande do Sul se destacaram no número
de educadores ambientais e especialistas na área. Uma explicação,
sugere Isabel, pode estar no número de cursos de EA, maior nestes estados.
No território gaúcho, exemplifica, está o primeiro mestrado
strictu senso em Educação Ambiental, criado há dez anos.
As informações, ou até falta de algumas, diz ela, revelam
a necessidade de aprofundar discussões sobre Educação Ambiental.
Por exemplo, sabemos que as instituições públicas predominam,
no desenvolvimento de EA. Mas percebemos que elas desenvolvem principalmente atividades,
e não programas estruturados. Será que uma das causas não
seria falta de recursos? Ela aposta que a divulgação do Diagnóstico
estimulará este tipo de discussão...
FÓRUM
DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL
A apresentação final do Diagnóstico de Educação
Ambiental deve acontecer em novembro, em Goiânia (GO), aos participantes
do V Fórum Brasileiro de Educação Ambiental. Trata-se do
primeiro evento com este caráter desde 1997, ano da promulgação
da lei 9795, que instituiu a Política Nacional de Educação
Ambiental. A criação de um Comitê Gestor interministerial,
último requisito para que a lei entrasse em vigor, foi em 2003. Se em 1997
houve 2,7 mil participantes, agora são esperados até 5 mil...
A organização é da Rede Brasileira de EA (Rebea - formada
pela articulação de 16 redes de educação ambiental
no país), em parceria com os Ministérios da Educação
e do Meio Ambiente, governo estadual de Goiás e prefeitura de Goiânia.
Também no V Fórum,
haverá a última consulta sobre o Programa Nacional de Educação
Ambiental (ProNEA). Formulado pelos setores de educação ambiental
dos ministérios de Educação e do Meio Ambiente, este documento
será a referência de planejamento e implementação de
ações de órgãos governamentais.
PARA
SABER MAIS: | 
Obs:
Silvia Czapski, autora desta matéria, participou do encontro sobre Diagnósticos
de EA em São Paulo, como convidada para integrar a assessoria de comunicação
do V Fórum Brasileiro de Educação Ambiental |
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