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COLETA SELETIVA E RECICLAGEM DO LIXO
(Publicado originalmente como DICAS no. 1 em 1993)
A melhor
solução para a destinação final do lixo é ter
menos lixo; a reciclagem é indispensável.
A destinação
do lixo é um problema constante em quase todos os municípios, apesar
de ser mais "visível" nas grandes cidades. Os municípios
se defrontam com a escassez de recursos para investimento na coleta e no processamento
e disposição final do lixo. Os "lixões" continuam
sendo o destino da maior parte dos resíduos urbanos produzidos no Brasil,
com graves prejuízos ao meio ambiente, à saúde e à
qualidade de vida da população. Mesmo nas cidades que implantaram
aterros sanitários, o rápido esgotamento de sua vida útil
mantém evidente o problema do destino do lixo urbano. A situação
exige soluções para a destinação final do lixo no
sentido de reduzir o seu volume. Ou seja: no destino final, é preciso ter
menos lixo.
AS SOLUÇÕES CONVENCIONAIS
Os aterros sanitários
são grandes terrenos onde o lixo é depositado, comprimido e depois
espalhado por tratores em camadas separas por terra. As extensas áreas
que ocupam, bem como os problemas ambientais que podem ser causados pelo seu manejo
inadequado, tornam problemática a localização dos aterros
sanitários nos centros urbanos maiores, apesar de serem a alternativa mais
econômica a curto prazo.
Os incineradores, indicados sobretudo para
materiais de alto risco, podem ser utilizados para a queima de outros resíduos,
reduzindo seu volume. As cinzas ocupam menos espaço nos aterros e reduz-se
o risco de poluição do solo. Entretanto, podem liberar gases nocivos
à saúde, e seu alto custo os torna inacessíveis para a maioria
dos municípios.
As usinas de compostagem transformam os resíduos
orgânicos presentes no lixo em adubo, reduzindo o volume destinado aos aterros.
É difícil cobrir o alto custo do processo com a receita aferida
pela venda do produto. Além disso, não se resolve o problema de
destinação dos resíduos inorgânicos, cuja possibilidade
de depuração natural é menor.
IMPLANTANDO A COLETA
SELETIVA
A coleta seletiva e a reciclagem de resíduos são uma
solução indispensável, por permitir a redução
do volume de lixo para disposição final em aterros e incineradores.
Não é a única forma de tratamento e disposição:
exige o complemento das demais soluções.
O fundamento deste
processo é a separação, pela população, dos
materiais recicláveis (papéis, vidros, plásticos e metais)
do restante do lixo, que é destinado a aterros ou usinas de compostagem.
A implantação da coleta seletiva começa com uma experiência-piloto,
que vai sendo ampliada aos poucos. O primeiro passo é a realização
de uma campanha informativa junto à população, convencendo-a
da importância da reciclagem e orientando-a para que separe o lixo em recipientes
para cada tipo de material.
É aconselhável distribuir à
população, ao menos inicialmente, recipientes adequados à
separação e ao armazenamento dos resíduos recicláveis
nas residências (normalmente sacos de papel ou plástico).
A instalação
de postos de entrega voluntária em locais estratégicos possibilita
a realização da coleta seletiva em locais públicos. A mobilização
da sociedade, a partir das campanhas, pode estimular iniciativas em conjuntos
habitacionais, shopping centers e edifícios comerciais e públicos.
Deve-se elaborar um plano de coleta, definindo equipamentos e periodicidade de
coleta dos resíduos. A regularidade e eficácia no recolhimento dos
materiais são importantes para que a população tenha confiança
e se disponha a participar,
Não vale a pena iniciar um processo de
coleta seletiva se há o risco de interrompê-lo, pois a perda de credibilidade
dificulta a retomada.
Finalmente, é necessária a instalação
de um centro de triagem para a limpeza e separação dos resíduos
e o acondicionamento para a venda do material a ser reciclado.
Também
é possível implantar programas especiais para reciclagem de entulho.
RECURSOS
O custo de operação do projeto varia em função
do município, sendo considerado baixo um custo de US$ 150 por tonelada
de resíduo coletado. A receita aferida com a venda do material é,
em média US$ 45 por tonelada de plástico, US$ 502 para alumínio,
US$ 30 para vidro, US$ 100 para papel de primeira e US$ 48 para aparas de papel.
Os custos de transporte são os maiores limitantes da coleta seletiva. Distâncias
superiores a 100 Km entre a fonte dos resíduos e a indústria de
reciclagem tendem a tornar o processo deficitário. O processamento primário
dos materiais (através de equipamentos como prensas e trituradores) aumenta
seu valor e atenua o problema. Para a coleta, a prefeitura pode colocar caminhões
com caçamba e pessoal à disposição ou contratar os
serviços. Uma campanha informativa pode custar à prefeitura apenas
a impressão dos folhetos e cartilhas. A prefeitura deve dispor de uma área
para o centro de triagem.
A iniciativa privada atua na reciclagem apenas nas
atividades mais lucrativas; procurar novas formas para seu envolvimento que reduzam
os gastos públicos é um desafio para as prefeituras. Tais parcerias
podem ocorrer através do fornecimento de cartilhas, folhetos e sacos para
o recolhimento do lixo, da colocação de postos de entrega, da organização
da coleta seletiva no interior de edifícios e instalações
comerciais, da compra de materiais reciclados ou mesmo da instalação
de indústrias de reciclagem ou processamento primário, mesmo que
de pequeno porte.
Parcerias com entidades da sociedade civil, através
de campanhas de esclarecimento, instalação de postos de entrega,
organização e realização da coleta e separação
dos materiais, ampliam o alcance das ações e reduzem custos.
Consórcios intermunicipais possibilitam economias de escala, com ações
conjuntas entre prefeituras. Tão importante quanto o investimento, é
o papel do governo municipal como articulador junto à sociedade e outros
governos.
ALGUMAS EXPERIÊNCIAS
Em Niterói-RJ, a iniciativa
partiu dos moradores de um bairro, em 1985, que contaram com o apoio da Universidade
Federal Fluminense e de uma entidade do governo alemão. A prefeitura apenas
cedeu um técnico, temporariamente, e fez a terraplanagem do terreno. Os
moradores administram o serviço, investindo o lucro em atividades comunitárias.
Curitiba-PR criou, em 1989, o projeto "Lixo Que Não é Lixo",
iniciado com um trabalho de educação ambiental nas escolas.
Em seguida, foi distribuída uma cartilha à população
e iniciada a coleta domiciliar e em supermercados, onde os resíduos recicláveis
são trocados por vales-compra. A prefeitura assume o custo de coleta e
o material recolhido é doado a uma entidade assistencial, que o processa
e comercializa, destinando o lucro para suas atividades assistenciais.
A coleta
seletiva criou condições técnicas para a implantação
de uma usina de compostagem na cidade, pois boa parte do material inorgânico
(metais, vidros, etc) já é separado, reduzindo os custos de operação
da usina.
A instalação da usina de reciclagem de Vitória-ES,
em 1990, em um antigo "lixão", evitou enormes prejuízos
ambientais e reuniu trabalhadores que viviam em condições sub-humanas,
explorados pelas "máfias do lixo", controladas por aparistas
e sucateiros, dando-lhes melhores condições de trabalho e remuneração.
Da avaliação dessas experiências, pode-se dizer que a participação
da população é a principal condição para o
sucesso da coleta seletiva.
RESULTADOS
a) Ambientais: Os maiores
beneficiados por esse sistema são o meio ambiente e a saúde da população.
A reciclagem de papéis, vidros, plásticos e metais - que representam
em torno de 40% do lixo doméstico - reduz a utilização dos
aterros sanitários, prolongando sua vida útil. Se o programa de
reciclagem contar, também, com uma usina de compostagem, os benefícios
são ainda maiores. Além disso, a reciclagem implica uma redução
significativa dos níveis de poluição ambiental e do desperdício
de recursos naturais, através da economia de energia e matérias-primas.
b) Econômicos: A coleta seletiva e reciclagem do lixo doméstico
apresenta, normalmente, um custo mais elevado do que os métodos convencionais.
Iniciativas comunitárias ou empresariais, entretanto, podem reduzir a zero
os custos da prefeitura e mesmo produzir benefícios para as entidades ou
empresas.
De qualquer forma, é importante notar que o objetivo da coleta
seletiva não é gerar recursos, mas reduzir o volume de lixo, gerando
ganhos ambientais. É um investimento no meio ambiente e na qualidade de
vida. Não cabe, portanto, uma avaliação baseada unicamente
na equação financeira dos gastos da prefeitura com o lixo, que despreze
os futuros ganhos ambientais, sociais e econômicos da coletividade. A curto
prazo, a reciclagem permite a aplicação dos recursos obtidos com
a venda dos materiais em benefícios sociais e melhorias de infra-estrutura
na comunidade que participa do programa. Também pode gerar empregos e integrar
na economia formal trabalhadores antes marginalizados, como no caso de Vitória-ES.
c) Políticos: Além de contribuir positivamente para a imagem
do governo e da cidade, como no caso de Curitiba, a coleta seletiva exige um exercício
de cidadania, no qual os cidadãos assumem um papel ativo em relação
à administração da cidade. Além das possibilidades
de aproximação entre o poder público e a população,
a coleta seletiva pode estimular a organização da sociedade civil.
AUTORES
Maria das Graças F. dos Santos
Antonio
Edinalva
Flávio
João;
Maria das Graças
Maria
Marinalva
Mario
Nair
Raimundo
Ailton
José
Profª Maria Isabel de Almeida - EMEISU Doroti - Itu