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+ SOBRE TRANSGÊNICOS

problemas e dados que poucos revelam....


Três artigos sobre o tema, que mostram mais da história dos transgênicos no país, e alguns problemas que eles já causaram, que raramente saem na mídia,
TRANSGÊNICOS - A MUTAÇÃO DO CONSUMIDOR
Esclarecedor artigo de Ventura Barbeiro, que explica o que são transgênicos, apresentando vários casos no mundo onde eles representaram de fato um risco à saúde humana, ao contrário do que costumamos ler na mídia. Originalmente publicado em Relatório Alfa, em março/03. Vale à pena conferir.
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COMUNICADO DA AS-PTA ÀS ONGS, IMPRENSA E GOVERNO
Resumindo o posicionamento de 85 organizações que participaram de um evento sobre transgênicos, a Assessoria e Serviços em Projetos de Tecnologias Alternativas (AS-PTA) apresenta, neste comunicado, 12 considerações que se contrapõem aos argumentos do governo, neste debate que resultou na liberação da soja transgênica, sem consulta à sociedade civil, para sua venda no país, em 2003.
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O TERRENO PERIGOSO DOS TRANSGÊNICOS
Escrito em julho de 2000, este artigo do jornalista Washington Novaes, que originalmente apareceu no jornal 'O Estado de São Paulo', historia as discussões sobre o tema na década de 1990 já prevendo
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"Não existem provas contra transgênicos?"

TRANSGÊNICOS: A MUTAÇÃO DO CONSUMIDOR

por Ventura Barbeiro (venturasbarbeiro@ig.com.br

Artigo esclarecedor sobre transgênicos, revelando inclusive casos reais de riscos à saúde, ocorridos nos EUA com estes produtos. Publicado originalmente pelo site Redação Alfa, em 17/03/2003, 9 dias antes de sair a polêmica Medida Provisória 113, que liberou o comércio da soja transgênica no Brasil em 2003, só exigindo sua rotulagem, apesar de admitir riscos possíveis ao meio ambiente e saúde (a proibição do plantio e comércio a partir de 2004 se mantém.



"O governo brasileiro deve decidir sobre a liberação da soja transgênica cultivada no Rio Grande do Sul ilegalmente, através de contrabando das sementes da Monsanto. Ou proíbe punindo alguns poucos agricultores, ou libera colocando toda a população brasileira sob o risco dos transgênicos.

Mas afinal o que são os transgênicos e quais são estes riscos tão comentados, mas pouco divulgados. Muito estranhamente, corre a falsa informação que não existe nada comprovado cientificamente. Muito pelo contrário, países altamente favoráveis aos transgênicos como Inglaterra, França e Alemanha, diante das comprovações científicas, colocaram sérias restrições ao cultivo experimental e comercialização destes organismos.


As pesquisas com transgenia iniciaram na década de 70 com estudos sobre a forma como uma bactéria causava tumor em plantas. A bactéria injeta uma parte de seu código genético que liga-se ao DNA da planta criando células mutantes. Estas células formam um tumor. As células mutantes da planta passam a roubar nutrientes e enviar para a bactéria.

O gene é responsável por uma função particular de um organismo, como cor do olho, tamanho, resistência ao frio; cada característica de um organismo é codificada por um gene, portanto podemos tratar o código genético como a receita de um ser vivo.

Este mecanismo foi copiado, o trecho de DNA de bactéria chamado Ti (tumor inducing) é usado em biotecnologia para levar os genes de interesse comercial para o organismo alvo.

O termo transgênico foi utilizado pela primeira vez em 1982, por Gordon e Ruddle, designando um animal ou planta cujo código genético sofreu mutação pela adição de um ou mais genes, não importando a proveniência destes.

O novo ser criado em laboratório tem a composição química alterada, pois novas proteínas são produzidas devido a modificação genética. Apesar do organismo modificado ser substancialmente equivalente e ter a mesma aparência externa, muitas novas substâncias são geradas em seu interior.

A produção de uma proteína no interior da célula é uma sequência de reações químicas, envolvendo a decodificação do código genético, a agregação dos componentes das proteínas e finalmente a criação da molécula protéica. Nestes passos intermediários é possível surgir novos produtos químicos, pelas reações entre os componentes secundários do complexo processo de criação de uma molécula protéica.

Isto explica graves acidentes ocorridos com organismos transgênicos.

  • Em 1980 a indústria japonesa Showa Denko K.K. usou bactéria transgênica para produzir triptofano, um amino-ácido usado como suplemento alimentar. Uma toxina mortal foi produzida devido a alteração no metabolismo interno do microorganismo. A aceleração do processo de criação da molécula de triptofano gerou reações entre substâncias intermediárias criando a toxina mortal. Isto levou a morte nos EUA, onde o produto foi vendido, de 35 pessoas e mais de 1500 ficaram com problemas físicos permanentes.

  • Outro grave acidente ocorreu quando a empresa Aventis introduziu, em 1998, um milho modificado para produzir a toxina de uma bactéria. Usou uma tecnologia conhecida pela sigla "Bt". O milho, chamado StarLink, foi comercializado mesmo com restrições. Devido a polinização cruzada e mistura nos armazéns, contaminou em torno de 40% da produção de milho norte-americano. Causou graves reações alérgicas em seres humanos devido a presença de uma proteína designada Cry9C. Esta proteína não esta presente em outros milhos com a tecnologia Bt.

    Este milho foi liberado com a restrição de ser usado apenas na alimentação animal, mas devido a polinização (cruzamento sexual através do ar) contaminou outras lavouras de milho e na comercialização era misturado ao milho comum. O milho comum misturado com o transgênico perdeu o seu valor de mercado, levando os produtores a grandes prejuízos e vários consumidores a ter reações alérgicas graves. A rede norte-americana Taco Bell e uma associação de produtores de milho processou judicialmente a Aventis por este episódio.

    O milho pode fazer o cruzamento sexual através do ar (polinização) com outra planta de milho a uma distância de até 10 quilômetros, dependendo do vento. Ou seja, uma lavoura transgênica contamina todas as plantas naturais em um amplo raio ao seu redor.

"Não existe alternativa científica para um teste toxicológico rigoroso que garanta segurança alimentar para alimentos geneticamente modificados", afirmam os cientistas do Institute of Science in Society.

Um dos grandes impedimentos das mutações induzidas é o silenciamento genético. Os genes inseridos são impedidos de manifestarem-se através de um mecanismo de proteção chamado barreira entre espécies. Este mecanismo existe para impedir que o código genético do alimento ou de microorganismos possa alterar a composição genética de um ser vivo. Imaginem algumas de nossas células cruzando com o DNA da alface de nosso lanche ou com o fungo de uma micose. Este cruzamento não ocorre devido a esta barreira criada ao longo de milhões de anos.

Para romper a barreira entre espécies um conjunto de genes é inserido na planta transgênica junto com o gene de interesse comercial. Especialmente do código genético de um organismo que ataca as nossas células injetando o código genético dele, o vírus. Os alimentos transgênicos não possuem "um gene inserido", o correto é dizer "vários genes de diferentes organismos inserido".

Um dos trechos amplamente usado é o CaMV35S, de um vírus que tem semelhança genética com o vírus do HIV, Leucemia Humana e Hepatite B. Atua como promotor de expressão genética, obrigando o gene de interesse comercial a trabalhar intensamente. Este trecho, por estar presente em praticamente todos os transgênicos, é usado como marcador em analise de transgenia em alimentos.

Em 1997, a equipe do cientista alemão Doerfler demonstrou que este trecho de DNA de vírus, o CaMV35S, passa pela barreira intestinal, entra na corrente sanguínea e liga-se ao código genético de algumas células do consumidor.

Este comportamento foi observado apenas em alimentos transgênicos devido a presença de trechos especiais de DNA geneticamente instável, não encontrado em alimentos naturais. Alguns cientistas têm apontado que o gene promotor derivado do vírus CaMV pode constituir-se em perigo para a saúde, possivelmente perigo de câncer.

Cientistas ligados os PSRAST (Médicos e Cientistas para o uso Responsável da Ciência e Tecnologia) - www.psrast.org - afirmam: "como este DNA viral pode terminar em nossas células, não podemos considerar sensato aprovar tal comida sem descobrir se é seguro ingerir uma quantidade tão grande deste gene de vírus, como ocorre quando comemos alimentos transgênicos."

O Institute of Science in Society - www.i-sis.org.uk - criou um manifesto em repudio à liberação dos transgênicos e pela defesa da agricultura orgânica sustentável que conta com a assinatura de 567 cientistas de 69 diferentes países.

Podemos entender agora, com estas informações, a razão pelo repudio tão grande aos alimentos modificados geneticamente e a sua proibição ou fortes restrições aplicados em inúmeros países como China, Rússia, Japão e União Européia.

Podemos entender também a razão da rotulagem, exigido na Europa, da carne do animal que comeu transgênico. O código genético do alimento transgênico é encontrado nos músculos e órgãos internos do animal alimentado com ração geneticamente modificada.

Afinal, com tanta oposição qual a razão de investir tanto na tentativa de liberação destes alimentos, mesmo sem testes de segurança alimentar?

A planta transgênica é considerada um organismo artificial. Por ser criada por um empresa pode ser patenteada. Para plantar um organismo patenteado o agricultor deve pagar o preço da semente e mais uma taxa pelo uso da tecnologia. Devido a contaminação das espécies naturais com os genes dos transgênicos, através da polinização, as plantas naturais contaminadas tornam-se organismos cobertos por uma patente e o agricultor sujeito a ser processado pelo uso da tecnologia.

Mentira enorme essa de aumento de produção, mais nutritivos ou redução do uso de venenos. O objetivo é dominar todos os agricultores do mundo através da patente das plantas cultivadas como o arroz, feijão, trigo, batata. Iniciaram pelas quatro plantas mais cultivadas em todo o mundo: milho, soja, batata e algodão.

A introdução dos transgênicos no Brasil significaria um lucro estimado em bilhões para estas empresas multinacionais. Enquanto esta liberação não acontece, a produção de soja e milho não transgênico coloca o Brasil em grande vantagem no mercado internacional, conseguindo até mesmo incentivos e preços maiores para o nosso produto. O lucro, por enquanto, está ficando com os agricultores brasileiros."

O autor é engenheiro agrônomo, formado pela ESALQ-USP em 1990, já publicou vários artigos sobre o tema Transgênicos e esteve no Monsanto Life Science Center, em S. Lois (EUA), em 1991, onde conheceu a soja Roundup Ready em laboratório, 3 anos antes de ser liberada no meio ambiente, primeiro em Porto Rico, depois dos Estados Unidos.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

  • Bonneville et al. RNA Genetics Vol. 11, Retroviruses, Viroids and RNA Recombination pag 23-42, 1988.

  • Doerfler, W., Schubbert, R. Uptake of foreign DNA from the enviroment: The gastrointestinal tract and the placenta as portals of entry. - Wiener klinische Wochenschrift, n 110, 2, 1998.

  • Einspanier R, Klotz A, Kraft J et al (2001). European Food Research and Technology Abstract Volume 212 Issue 2 (2001) pp 129-134 The fate of forage plant DNA in farm animals: a collaborative case-study investigating cattle and chicken fed recombinant plant material

  • Inose, T. Murata, K. Int. J. Food Science Tech. 30: 141-146, 1995. Unexpected appearance of a toxic and mutagenic metabolite, methyl-glyoxal, at the genetic engineering of a yeast to increase fermentation rate.

  • Hogendoorn, H., Ho, M. W. ISIS News, edição 13/14, 2002.

  • Nordlee, J.A. et al.The New England Journal of Medicine 14: 688-728; 1996. Appearance of allergy against nut allergenes at the insertion of a nut gene into a soy bean.

  • Schubert, R., Renz, D., Schimtz, B. e Doerfler, W. "Foreign (M13) DNA ingested by mice reaches peripheral leukocytes, spleen and liver via the intestinal wall mucosa and can be covalently linked to mouse DNA" - Proceedings of National Academy of Science USA, n 94, pag 961-966, 1997.

  • Schubbert R, Hohlweg U, Renz D and Doerfler W (1998). "On the fate of orally ingested foreign DNA in mice: chromosomal association and placental transmission to the fetus" (1998) Mol Gen Genet 259: 569-576

  • Violand BN et al. Protein Science. 3:1089-97, 1994. Unexpected appearance of an abnormal aminoacid, epsilon-N-acetyllysine, in the production of bovine growth hormone by a genetically engineered bacterium.

  • Xiong e Eickbush, EMBO Journal 9, 3353, 1990.

  • Revista World Watch, Vol. 14 No 6 Pag 5-6


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COMUNICADO À IMPRENSA, ÀS ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL E AO GOVERNO

por AS-PTA (Assessoria e Serviços em Projetos de Tecnologia Alternativa)

O governo do presidente Lula decidiu liberar a comercialização da safra de soja contaminada por transgênicos tanto no mercado interno como para exportação através de uma Medida Provisória que deverá restringir esta liberação a esta safra, segundo anunciou o porta-voz do governo.

A MP fere decisão da Justiça condicionando o plantio e consumo de soja transgênica a várias medidas prévias assim como resolução do CONAMA que vai na mesma direção.


A AS-PTA, coordenadora do seminário "A ameaça dos transgênicos: propostas da sociedade civil", realizado em Brasília, acredita exprimir a posição das 85 entidades participantes do seminário nas considerações que se seguem.

  1. O governo decidiu a liberação da soja transgênica sem ouvir a sociedade civil que se opõe aos transgênicos. Apesar de muitos contatos com o Presidente, Ministros, Secretários, diretores e técnicos ao longo dos últimos dois meses as organizações da sociedade civil não tiveram a oportunidade de discutir a fundo suas propostas e as do governo, confrontando dados e soluções.

  2. O governo acordou para o problema da safra gaúcha muito tarde, pautado pela pressão dos agricultores mobilizados pela FARSUL e apoiados pelo governo Rigotto. A comissão Inter-Ministerial criada para tratar do assunto foi inoperante e acabou dissolvida na prática, já que a decisão ficou restrita a um grupo incluindo os Ministros José Dirceu, Marina Silva e Roberto Rodrigues e, em um segundo momento, estendido aos Ministros Palocci, Gushiken e ao próprio Presidente Lula. A ausência de outros Ministros, em particular o da Saúde, mostra que estas reuniões tinham por objetivo quebrar a resistência da Ministra do Meio Ambiente. Na verdade, as implicações desta liberação para o mercado interno são muito mais relevantes para a saúde dos consumidores do que para o meio ambiente, já que este já está sob risco pelo plantio ilegal que ocorreu. Lembremos que as organizações da sociedade civil já vinham tentando discutir a crise anunciada da safra do RS desde antes da posse do novo governo.

  3. Os dados sobre o nível de contaminação da safra de soja no país foram os mais desencontrados e pouco confiáveis. O próprio Presidente foi incorretamente informado pois afirmou, em reunião do CONSEA no último dia 25, que não era possível exportar toda a safra de soja, como se toda ela estivesse contaminada. O Ministro Roberto Rodrigues, em declaração aos jornais após a liberação, falou em 8% da safra nacional, o que corresponde a 4 milhões de toneladas. Anteriormente, alguns membros do governo de vários Ministérios falaram em 30% da safra nacional, ou 15 milhões de toneladas. Outros precisaram estimativas de 70% da safra do RS, 30% da safra do Paraná e 15% da safra do MS, o que resulta em 9,6 milhões de toneladas. Ninguém informou qual a fonte destes dados.

  4. As informações recolhidas pelas entidades da sociedade civil, incluindo todas as organizações de produtores familiares do país, indicam uma outra realidade. Não há uma contaminação generalizada da safra nacional tal como fica insinuado quando se fala em porcentagens em geral, sem indicação das regiões onde ocorre a contaminação. As sementes de soja transgênica contrabandeadas da Argentina ou do Paraguai foram desenvolvidas pela Monsanto para regiões especificas e se adaptam apenas para regiões assemelhadas, isto é, o RS, SC, PR e MS (na faixa da fronteira com o Paraguai). A produção de SC é pequena e existe uma lei estadual que foi aplicada pelo governo Amim impedindo os cultivos transgênicos. No Paraná o governo Lerner, apoiado por todas as organizações de grandes, médios e pequenos produtores realizou um rigoroso controle de plantios clandestinos e a contaminação atual é residual. No MS, que também tem uma legislação estadual proibindo cultivos transgênicos, o controle do governo de Zeca do PT foi frouxo e avaliamos que a faixa próxima à fronteira está bastante contaminada, representando talvez os 15% da safra (570 mil toneladas) daquele estado. Foi no RS que o descontrole foi generalizado. A avaliação do presidente da Fecoagro, Rui Polidoro, de que 50% da soja plantada foi com sementes transgênicas é a mais provável pois tem uma base real na quantidade de sementes de soja convencional vendidas no estado. Este dado implica em uma safra de soja transgênica no RS de quase 4 milhões de toneladas. Estas avaliações apontam para um total de 4,5 milhões de toneladas de soja transgênica no país, concentradas no RS e, em bem menor escala, no MS. Esta estimativa fica próxima da do Ministro Rodrigues, 4 milhões de toneladas, localizadas em áreas precisas e não disseminadas em todo o país.

  5. O problema do RS não está na quantidade total da soja transgênica plantada mas na sua disseminação em todas as regiões produtoras do estado, provocando uma contaminação geral pela dificuldade de separar os dois tipos de soja na armazenagem. Por esta razão, sempre dissemos que no RS devemos considerar que quase toda a safra estará contaminada, ou seja, perto de 8 milhões de toneladas. No MS a área contaminada é circunscrita à faixa de fronteira e a produção pode ser isolada. Mesmo na hipótese do volume de soja contaminada (transgênica misturada com convencional) dobrar, chegaríamos a um total de 1 milhão de toneladas.

  6. Todos estes cálculos indicam que o governo teria que lidar com um total de soja contaminada que não pode, legalmente, ser vendida no país, da ordem de 9 milhões de toneladas. A solução proposta pelas 85 organizações da sociedade civil reunidas no seminário de Brasília foi a exportação. Esta proposta leva em conta o fato de que a omissão e ação do governo FHC, da Monsanto e da FARSUL provocou uma situação calamitosa que arruinaria os agricultores do RS se aplicada a lei com rigor, isto é, se a soja fosse destruída. Alguns técnicos e responsáveis do governo nos afirmaram que esta solução (exportação) é impossível pois "faltaria soja para o mercado interno" se este volume for exportado. Pura falácia. O Brasil deve exportar este ano mais de 31 milhões de toneladas de equivalente grão e ainda sobram quase 19 milhões para o mercado interno, mais do que o suficiente para abastecer as indústrias de transformação. O aumento da produção nacional do ano passado para este foi de quase 19%.

  7. Com as crescentes restrições do mercado internacional para a soja transgênica haveria onde colocar estas 9 milhões de toneladas? A resposta é: por enquanto sim. O mercado europeu vem restringindo suas compras de soja transgênica pela reação dos consumidores a estes produtos mas a maior restrição ocorrerá a partir de Janeiro próximo, quando passará a vigorar um dispositivo legal exigindo que as rações também sejam rotuladas se contiverem transgênicos. A China também vai ampliar restrições a partir de Setembro próximo mas, até lá, vai comprar cerca de 16 milhões de toneladas que podem conter transgênicos. Já existem negociações com os chineses para a venda de 6 milhões de toneladas de soja brasileira. Se necessário, uma negociação governo a governo com algum deságio no preço poderia elevar este volume para absorver os volumes contaminados do RS e MS.

  8. A segunda objeção à proposta de exportação da soja contaminada é de tipo operacional. Não haveria capacidade nos portos do RS para exportar toda a safra contaminada. Segundo dados da CONAB o porto do Rio Grande pode exportar 2 milhões de toneladas por mês, o que permite escoar para o mercado externo toda a safra contaminada entre Maio e Setembro. Objetou-se também que o governo do RS perderia ICMS se toda a safra fosse exportada, mas nada impede que as indústrias daquele estado esmaguem parte da safra, desde que o destino do farelo e do óleo seja o mercado externo. A capacidade instalada da indústria gaúcha é de 5,5 milhões de toneladas por ano, mas ela teve 35% de ociosidade no ano passado. Também se disse que seria impossível controlar este processo de redirecionamento da safra gaúcha para a exportação, mas o fato é que apenas 3 operadoras concentram 80% de toda a exportação; Bunge y Born, Cargill e ADM, o que facilita a operação.

  9. O problema operacional real se dá em outro nível; no abastecimento de soja para o mercado local de rações. Se toda (ou quase) a safra for exportada as indústrias de rações teriam que comprar soja em outros estados para cobrir a demanda local. Esta demanda está estimada em 3,5 milhões de toneladas e já foi necessário trazer soja de outros estados na safra passada devido à baixa produção local provocada por um veranico arrasador. Suprir esta demanda não é um problema com a super safra de soja no país, a começar com a produção do Paraná. No entanto, haverá um custo maior para a indústria de rações e, em cadeia, para os criadores de aves e suínos e, finalmente, para o consumidor.

  10. Para não penalizar a cadeia agroalimentar da soja com a ilegalidade cometida pelos agricultores, o que propomos é a cobrança, pelo governo, de uma multa aos agricultores que cobrisse os gastos extras do setor de transformação e os próprios gastos do governo com a fiscalização de todo o processo. Esta multa não arruinaria os agricultores mas sinalizaria a determinação do governo de coibir o plantio ilegal na próxima safra.

  11. A opção do governo de liberar esta safra através de Medida Provisória infringe decisão da Justiça exigindo tanto avaliação de impacto ambiental como de riscos para a saúde do consumidor. Estamos estudando medidas legais contra esta MP e oferecemos ao governo uma saída jurídica não questionável. O que propomos é um acordo entre as partes envolvidas no processo judicial acima referido, isto é, o governo e a Monsanto de um lado e o IDEC, o Greenpeace e o Ministério Público de outro. Mesmo admitindo que a Monsanto não aceite o acordo, o Juiz que julgou o processo pode homologar um acordo entre os outros envolvidos liberando a soja contaminada para exportação em troca do governo assinar um Termo de Ajuste de Conduta que o comprometa a fazer as avaliações de impacto ambiental e de riscos para a saúde e a coibir o plantio e comercialização ilegais que foram a norma no governo FHC.

  12. Para completar estas considerações acreditamos importante esclarecer que as apregoadas vantagens da soja transgênica não passam de uma ilusão. As estatísticas governamentais indicam que a produtividade da soja gaúcha, a mais contaminada do país por transgênicos, foi a mais baixa entre todos os estados. Por outro lado, o consumo de herbicidas no RS foi o que mais cresceu desde 1999, quando se iniciou o plantio ilegal de soja transgênica. O aumento foi de quase 50%, enquanto em quase todos os estados produtores (exceção Goiás) houve redução do uso de herbicidas (47,6% a menos no Paraná e 53,4% a menos no Mato Grosso). A redução do custo de produção na soja transgênica não tem nada a ver com as apregoadas vantagens desta tecnologia, mas com a redução do preço do herbicida Roundup em quase 70%, verdadeiro dumping da Monsanto para facilitar a adoção da soja transgênica. Os agricultores também não estão pagando o custo real da semente, pois não lhes é cobrada a "taxa tecnológica" da Monsanto embutida no preço das sementes nos EUA.


Enviado por: ASPTA - Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa.
(Jean Marc Van der Weid - aspta@alternex.com.br

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O TERRENO PERIGOSO DOS TRANSGÊNICOS

por Washington Novaes

Este artigo foi escrito originalmente para o jornal O Estado de S.Paulo, onde foi publicado em 21/07/2000.

Está também na seção sobre transgênicos do site do Instituto de Defesa do Consumidor (IDEC).

Apresenta um histórico da discussão dos transgênicos no Brasil, até o ano 2000.


"Se o governo federal houvesse planejado minuciosamente uma estratégia para criar confusão em torno da liberação do plantio e/ou importação de alimentos geneticamente modificados, não teria tido tanto êxito quanto está tendo - fruto do descaso e da prepotência com que tem marcado sua atuação na área.

Há pelo menos cinco anos o autor destas linhas escreve sobre o tema. E desde esse tempo a questão estava cercada por intensa controvérsia sobre as vantagens e desvantagens do plantio, seja no âmbito dos governos, seja entre os consumidores ou na própria área da ciência. Não faltaram, pois, informações que aconselhavam prudência, informação exaustiva ao consumidor, cautela no campo legal. Mas nada disso aconteceu.

Agora, imperam a confusão, os conflitos entre poderes da República, a indignação de consumidores e representantes da sociedade, a divisão entre os cientistas. E a falta de informação mais consistente, que permita à sociedade escolher o que mais lhe convenha e impô-lo aos governantes - o caminho da democracia.

Não é prepotência e desafio à Justiça, dois dias depois de a Justiça Federal proibir o governo de autorizar o plantio, a importação ou a comercialização de alimentos geneticamente modificados sem estudo prévio de impacto ambiental e sem definir normas para rotulagem, a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) autorizar a importação de milho desse tipo? Não é preocupante ver o Executivo federal divulgar nota de apoio prévio e incondicionado aos chamados OGMs, mesmo sabendo das decisões judiciais? Não é imprudência armar um imbróglio institucional, com o Ministério do Meio Ambiente dizendo que não mudou sua posição a favor de estudo prévio de impacto ambiental, mas ao mesmo tempo assinando a nota governamental de apoio às tecnologias dos OGMs e seu representante na CTNBio votando a favor da liberação de importações? Não é mais imprudente ainda protelar a regulamentação da rotulagem obrigatória?

Enquanto isso, sobem a cada dia mais as chamas da polêmica em torno do tema.

Dividem-se os cientistas da Embrapa, com seu sindicato tomando posição em favor de cautela e da exigência de estudo prévio de impacto ambiental, mas com uma parte desses cientistas defendendo as posições da CTNBio e a adoção imediata dos OGMs.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária, primeiro, afirma que não exigirá a retirada do mercado de alimentos que já contenham OGMs, porque não há legislação que autorize essa medida; mas, poucos dias depois, oficia às empresas determinando essa retirada. O Ministério da Agricultura diz que não pode impedir a importação e venda, por falta de legislação sobre rotulagem.

Mas, em um semestre, só fiscalizou 5% dos campos de plantio de transgênicos autorizados pela CTNBio - porque não contrata fiscais desde 1982.

Divide-se mais a área científica. A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em princípio favorável a novas tecnologias na área, defende, entretanto, a obrigatoriedade da rotulagem e dos estudos prévios de impacto ambiental, "feitos em cada local, pois as plantas respondem de forma diferente às variações ambientais". Uma parte dos cientistas, principalmente da Academia Nacional de Ciências, discorda dessa posição, aprova o plantio imediato.

Lá fora, o incêndio é cada vez mais forte. O presidente da Alemanha pede que os agricultores de seu país não plantem transgênicos até 2003, para dar tempo a que o Ministério do Meio Ambiente conclua seus estudos. O governo da França exige a destruição de plantios de colza transgênica não autorizados.

Os ministros do Meio Ambiente dos 15 países da União Européia manifestam-se contra a liberação dos OGMs, porque "todos os riscos para a saúde e o meio ambiente precisam ser analisados minuciosamente". Sucedem-se as pesquisas de opinião demonstrando a crescente rejeição dos consumidores aos transgênicos.

Tudo isso, repita-se, aconselha a prudência. E uma discussão exaustiva, abrangente, que inclua os muitos ângulos ainda polêmicos. Das questões estratégicas - convém ou não ao Brasil colocar-se como maior produtor mundial de grãos não-transgênicos? - aos ângulos econômicos - afinal, ganha-se ou não em produtividade com os transgênicos (há estudos nas duas direções)? Os eventuais ganhos são ou não repassados aos produtores e aos consumidores?

Pelo ângulo ambiental, há muito a esclarecer. Há ou não riscos para a biodiversidade (só estudos de impacto ambiental localizados parecem capazes de esclarecer, como diz a SBPC), riscos de deriva genética? Facilita-se ou não o surgimento de superpragas e o desaparecimento de insetos benéficos às lavouras? Afeta-se ou não a fauna microbiana do solo?

Tudo parece indicar que a cautela sugerida pela SBPC é uma posição sensata.

Além do mais, respaldada na Constituição (exigência de estudo prévio de impacto ambiental, definida no artigo 225, parágrafo 1º, inciso IV), em convenção internacional assinada pelo Brasil (Diversidade Biológica), em pareceres de juristas conceituados.

Não cabem, no caso, fundamentalismos de espécie alguma. Nem mesmo científicos. A ciência é uma das visões possíveis de mundo. E, como lembra em entrevista recente à New Scientist o indiano Satish Kemar, fundador do Dartmouth College, na Grã-Bretanha, 'Existem 6 bilhões de pessoas e 2 milhões de cientistas. Você não pode achar que os não-cientistas são idiotas.

Não se pode resvalar, por falta de cuidados, para terrenos preocupantes,'como está acontecendo. Nem descambar a discussão para o terreno do linguajar chulo, como fez há pouco o ministro da Agricultura.

A sociedade merece respeito e tem direito a informar-se, discutir e impor a decisão da maioria
."


Washington Novaes é jornalista.
Artigo originalmente publicado em O Estado de São Paulo
E-mail do autor: novaes@ih.com.br.

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VEJA TAMBÉM

Aqui, no site da AIPA, mais informações sobre transgênicos

  • POR QUE TEMER OS TRANSGÊNICOS? - matéria no Urtiga, historiando a liberação dos transgênicos para comércio no país 2003, informações sobre o produto proibido e reações de outros países frente a ele (clique aqui e confira)

  • QUEM QUER TRANSGÊNICOS NA MESA? - editorial do Urtiga 139, de julho/agosto 2000 (clique aqui e confira)

  • LEGISLAÇÃO BRASILEIRA - principais leis, decretos e medidas provisórias que regulam os trangênicos e uso da engenharia genética no país (clique aqui e confira)

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