Três
artigos sobre o tema, que mostram mais da história dos
transgênicos no país, e alguns problemas que eles
já causaram, que raramente saem na mídia,
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TRANSGÊNICOS
- A MUTAÇÃO DO CONSUMIDOR
Esclarecedor
artigo de Ventura Barbeiro, que explica o que são transgênicos,
apresentando vários casos no mundo onde eles representaram
de fato um risco à saúde humana, ao contrário
do que costumamos ler na mídia. Originalmente publicado
em Relatório Alfa, em março/03. Vale à
pena conferir.
leia a íntegra
|
COMUNICADO
DA AS-PTA ÀS ONGS, IMPRENSA E GOVERNO
Resumindo
o posicionamento de 85 organizações que participaram
de um evento sobre transgênicos, a Assessoria e Serviços
em Projetos de Tecnologias Alternativas (AS-PTA) apresenta,
neste comunicado, 12 considerações que se contrapõem
aos argumentos do governo, neste debate que resultou na liberação
da soja transgênica, sem consulta à sociedade civil,
para sua venda no país, em 2003.
leia a íntegra
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O
TERRENO PERIGOSO DOS TRANSGÊNICOS
Escrito
em julho de 2000, este artigo do jornalista Washington Novaes,
que originalmente apareceu no jornal 'O Estado de São
Paulo', historia as discussões sobre o tema na década
de 1990 já prevendo
leia
a íntegra
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OUTRAS
NOTÍCIAS SOBRE O TEMA
NO SITE DA AIPA
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"Não
existem provas contra transgênicos?"
TRANSGÊNICOS:
A MUTAÇÃO DO CONSUMIDOR
por Ventura Barbeiro (venturasbarbeiro@ig.com.br
Artigo
esclarecedor sobre transgênicos, revelando inclusive
casos reais de riscos à saúde, ocorridos
nos EUA com estes produtos. Publicado originalmente
pelo site Redação Alfa, em 17/03/2003,
9 dias antes de sair a polêmica Medida Provisória
113, que liberou o comércio da soja transgênica
no Brasil em 2003, só exigindo sua rotulagem,
apesar de admitir riscos possíveis ao meio ambiente
e saúde (a proibição do plantio
e comércio a partir de 2004 se mantém.
|
"O governo brasileiro deve decidir sobre a liberação
da soja transgênica cultivada no Rio Grande do Sul ilegalmente,
através de contrabando das sementes da Monsanto. Ou
proíbe punindo alguns poucos agricultores, ou libera
colocando toda a população brasileira sob o
risco dos transgênicos.
Mas afinal o que são os transgênicos e quais
são estes riscos tão comentados, mas pouco divulgados.
Muito estranhamente, corre a falsa informação
que não existe nada comprovado cientificamente. Muito
pelo contrário, países altamente favoráveis
aos transgênicos como Inglaterra, França e Alemanha,
diante das comprovações científicas,
colocaram sérias restrições ao cultivo
experimental e comercialização destes organismos.
As pesquisas com transgenia iniciaram na década de
70 com estudos sobre a forma como uma bactéria causava
tumor em plantas. A bactéria injeta uma parte de seu
código genético que liga-se ao DNA da planta
criando células mutantes. Estas células formam
um tumor. As células mutantes da planta passam a roubar
nutrientes e enviar para a bactéria.
O gene é responsável por uma função
particular de um organismo, como cor do olho, tamanho, resistência
ao frio; cada característica de um organismo é
codificada por um gene, portanto podemos tratar o código
genético como a receita de um ser vivo.
Este mecanismo foi copiado, o trecho de DNA de bactéria
chamado Ti (tumor inducing) é usado em biotecnologia
para levar os genes de interesse comercial para o organismo
alvo.
O termo transgênico foi utilizado pela primeira vez
em 1982, por Gordon e Ruddle, designando um animal ou planta
cujo código genético sofreu mutação
pela adição de um ou mais genes, não
importando a proveniência destes.
O novo ser criado em laboratório tem a composição
química alterada, pois novas proteínas são
produzidas devido a modificação genética.
Apesar do organismo modificado ser substancialmente equivalente
e ter a mesma aparência externa, muitas novas substâncias
são geradas em seu interior.
A produção de uma proteína no interior
da célula é uma sequência de reações
químicas, envolvendo a decodificação
do código genético, a agregação
dos componentes das proteínas e finalmente a criação
da molécula protéica. Nestes passos intermediários
é possível surgir novos produtos químicos,
pelas reações entre os componentes secundários
do complexo processo de criação de uma molécula
protéica.
Isto
explica graves acidentes ocorridos com organismos transgênicos.
-
Em
1980 a indústria japonesa Showa Denko K.K. usou
bactéria transgênica para produzir triptofano,
um amino-ácido usado como suplemento alimentar.
Uma toxina mortal foi produzida devido a alteração
no metabolismo interno do microorganismo. A aceleração
do processo de criação da molécula
de triptofano gerou reações entre substâncias
intermediárias criando a toxina mortal. Isto levou
a morte nos EUA, onde o produto foi vendido, de 35 pessoas
e mais de 1500 ficaram com problemas físicos permanentes.
-
Outro
grave acidente ocorreu quando a empresa Aventis introduziu,
em 1998, um milho modificado para produzir a toxina de
uma bactéria. Usou uma tecnologia conhecida pela
sigla "Bt". O milho, chamado StarLink, foi comercializado
mesmo com restrições. Devido a polinização
cruzada e mistura nos armazéns, contaminou em torno
de 40% da produção de milho norte-americano.
Causou graves reações alérgicas em
seres humanos devido a presença de uma proteína
designada Cry9C. Esta proteína não esta
presente em outros milhos com a tecnologia Bt.
Este milho foi liberado com a restrição
de ser usado apenas na alimentação animal,
mas devido a polinização (cruzamento sexual
através do ar) contaminou outras lavouras de milho
e na comercialização era misturado ao milho
comum. O milho comum misturado com o transgênico
perdeu o seu valor de mercado, levando os produtores a
grandes prejuízos e vários consumidores
a ter reações alérgicas graves. A
rede norte-americana Taco Bell e uma associação
de produtores de milho processou judicialmente a Aventis
por este episódio.
O milho pode fazer o cruzamento sexual através
do ar (polinização) com outra planta de
milho a uma distância de até 10 quilômetros,
dependendo do vento. Ou seja, uma lavoura transgênica
contamina todas as plantas naturais em um amplo raio ao
seu redor.
"Não
existe alternativa científica para um teste toxicológico
rigoroso que garanta segurança alimentar para alimentos
geneticamente modificados", afirmam os cientistas do
Institute of Science in Society.
Um dos grandes impedimentos das mutações induzidas
é o silenciamento genético. Os genes inseridos
são impedidos de manifestarem-se através de
um mecanismo de proteção chamado barreira
entre espécies. Este mecanismo existe para impedir
que o código genético do alimento ou de microorganismos
possa alterar a composição genética
de um ser vivo. Imaginem algumas de nossas células
cruzando com o DNA da alface de nosso lanche ou com o fungo
de uma micose. Este cruzamento não ocorre devido
a esta barreira criada ao longo de milhões de anos.
Para romper a barreira entre espécies um conjunto
de genes é inserido na planta transgênica junto
com o gene de interesse comercial. Especialmente do código
genético de um organismo que ataca as nossas células
injetando o código genético dele, o vírus.
Os alimentos transgênicos não possuem "um
gene inserido", o correto é dizer "vários
genes de diferentes organismos inserido".
Um dos trechos amplamente usado é o CaMV35S, de um
vírus que tem semelhança genética com
o vírus do HIV, Leucemia Humana e Hepatite B. Atua
como promotor de expressão genética, obrigando
o gene de interesse comercial a trabalhar intensamente.
Este trecho, por estar presente em praticamente todos os
transgênicos, é usado como marcador em analise
de transgenia em alimentos.
Em 1997, a equipe do cientista alemão Doerfler demonstrou
que este trecho de DNA de vírus, o CaMV35S, passa
pela barreira intestinal, entra na corrente sanguínea
e liga-se ao código genético de algumas células
do consumidor.
Este comportamento foi observado apenas em alimentos transgênicos
devido a presença de trechos especiais de DNA geneticamente
instável, não encontrado em alimentos naturais.
Alguns cientistas têm apontado que o gene promotor
derivado do vírus CaMV pode constituir-se em perigo
para a saúde, possivelmente perigo de câncer.
Cientistas ligados os PSRAST (Médicos e Cientistas
para o uso Responsável da Ciência e Tecnologia)
- www.psrast.org - afirmam: "como este DNA viral pode
terminar em nossas células, não podemos considerar
sensato aprovar tal comida sem descobrir se é seguro
ingerir uma quantidade tão grande deste gene de vírus,
como ocorre quando comemos alimentos transgênicos."
O Institute of Science in Society - www.i-sis.org.uk - criou
um manifesto em repudio à liberação
dos transgênicos e pela defesa da agricultura orgânica
sustentável que conta com a assinatura de 567 cientistas
de 69 diferentes países.
Podemos entender agora, com estas informações,
a razão pelo repudio tão grande aos alimentos
modificados geneticamente e a sua proibição
ou fortes restrições aplicados em inúmeros
países como China, Rússia, Japão e
União Européia.
Podemos entender também a razão da rotulagem,
exigido na Europa, da carne do animal que comeu transgênico.
O código genético do alimento transgênico
é encontrado nos músculos e órgãos
internos do animal alimentado com ração geneticamente
modificada.
Afinal, com tanta oposição qual a razão
de investir tanto na tentativa de liberação
destes alimentos, mesmo sem testes de segurança alimentar?
A planta transgênica é considerada um organismo
artificial. Por ser criada por um empresa pode ser patenteada.
Para plantar um organismo patenteado o agricultor deve pagar
o preço da semente e mais uma taxa pelo uso da tecnologia.
Devido a contaminação das espécies
naturais com os genes dos transgênicos, através
da polinização, as plantas naturais contaminadas
tornam-se organismos cobertos por uma patente e o agricultor
sujeito a ser processado pelo uso da tecnologia.
Mentira enorme essa de aumento de produção,
mais nutritivos ou redução do uso de venenos.
O objetivo é dominar todos os agricultores do mundo
através da patente das plantas cultivadas como o
arroz, feijão, trigo, batata. Iniciaram pelas quatro
plantas mais cultivadas em todo o mundo: milho, soja, batata
e algodão.
A introdução dos transgênicos no Brasil
significaria um lucro estimado em bilhões para estas
empresas multinacionais. Enquanto esta liberação
não acontece, a produção de soja e
milho não transgênico coloca o Brasil em grande
vantagem no mercado internacional, conseguindo até
mesmo incentivos e preços maiores para o nosso produto.
O lucro, por enquanto, está ficando com os agricultores
brasileiros."
O autor é engenheiro agrônomo,
formado pela ESALQ-USP em 1990, já publicou
vários artigos sobre o tema Transgênicos
e esteve no Monsanto Life Science Center, em S. Lois
(EUA), em 1991, onde conheceu a soja Roundup Ready
em laboratório, 3 anos antes de ser liberada
no meio ambiente, primeiro em Porto Rico, depois dos
Estados Unidos.
|
REFERÊNCIA
BIBLIOGRÁFICA:
-
Bonneville et al. RNA Genetics Vol. 11, Retroviruses,
Viroids and RNA Recombination pag 23-42, 1988.
-
Doerfler,
W., Schubbert, R. Uptake of foreign DNA from the enviroment:
The gastrointestinal tract and the placenta as portals
of entry. - Wiener klinische Wochenschrift, n 110, 2,
1998.
-
Einspanier R, Klotz A, Kraft J et al (2001). European
Food Research and Technology Abstract Volume 212 Issue
2 (2001) pp 129-134 The fate of forage plant DNA in farm
animals: a collaborative case-study investigating cattle
and chicken fed recombinant plant material
-
Inose, T. Murata, K. Int. J. Food Science Tech. 30: 141-146,
1995. Unexpected appearance of a toxic and mutagenic metabolite,
methyl-glyoxal, at the genetic engineering of a yeast
to increase fermentation rate.
-
Hogendoorn,
H., Ho, M. W. ISIS News, edição 13/14, 2002.
-
Nordlee,
J.A. et al.The New England Journal of Medicine 14: 688-728;
1996. Appearance of allergy against nut allergenes at
the insertion of a nut gene into a soy bean.
-
Schubert,
R., Renz, D., Schimtz, B. e Doerfler, W. "Foreign
(M13) DNA ingested by mice reaches peripheral leukocytes,
spleen and liver via the intestinal wall mucosa and can
be covalently linked to mouse DNA" - Proceedings
of National Academy of Science USA, n 94, pag 961-966,
1997.
-
Schubbert
R, Hohlweg U, Renz D and Doerfler W (1998). "On the
fate of orally ingested foreign DNA in mice: chromosomal
association and placental transmission to the fetus"
(1998) Mol Gen Genet 259: 569-576
-
Violand
BN et al. Protein Science. 3:1089-97, 1994. Unexpected
appearance of an abnormal aminoacid, epsilon-N-acetyllysine,
in the production of bovine growth hormone by a genetically
engineered bacterium.
-
Xiong
e Eickbush, EMBO Journal 9, 3353, 1990.
-
Revista
World Watch, Vol. 14 No 6 Pag 5-6
|
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COMUNICADO À
IMPRENSA, ÀS ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE
CIVIL E AO GOVERNO
por AS-PTA (Assessoria e Serviços em Projetos de Tecnologia
Alternativa)
O
governo do presidente Lula decidiu liberar a comercialização
da safra de soja contaminada por transgênicos
tanto no mercado interno como para exportação
através de uma Medida Provisória que
deverá restringir esta liberação
a esta safra, segundo anunciou o porta-voz do governo.
A MP fere decisão da Justiça condicionando
o plantio e consumo de soja transgênica a várias
medidas prévias assim como resolução
do CONAMA que vai na mesma direção.
|
A AS-PTA, coordenadora do seminário "A ameaça
dos transgênicos: propostas da sociedade civil",
realizado em Brasília, acredita exprimir a posição
das 85 entidades participantes do seminário nas considerações
que se seguem.
-
O governo decidiu a liberação da soja transgênica
sem ouvir a sociedade civil que se opõe aos transgênicos.
Apesar de muitos contatos com o Presidente, Ministros,
Secretários, diretores e técnicos ao longo
dos últimos dois meses as organizações
da sociedade civil não tiveram a oportunidade de
discutir a fundo suas propostas e as do governo, confrontando
dados e soluções.
-
O
governo acordou para o problema da safra gaúcha
muito tarde, pautado pela pressão dos agricultores
mobilizados pela FARSUL e apoiados pelo governo Rigotto.
A comissão Inter-Ministerial criada para tratar
do assunto foi inoperante e acabou dissolvida na prática,
já que a decisão ficou restrita a um grupo
incluindo os Ministros José Dirceu, Marina Silva
e Roberto Rodrigues e, em um segundo momento, estendido
aos Ministros Palocci, Gushiken e ao próprio Presidente
Lula. A ausência de outros Ministros, em particular
o da Saúde, mostra que estas reuniões tinham
por objetivo quebrar a resistência da Ministra do
Meio Ambiente. Na verdade, as implicações
desta liberação para o mercado interno são
muito mais relevantes para a saúde dos consumidores
do que para o meio ambiente, já que este já
está sob risco pelo plantio ilegal que ocorreu.
Lembremos que as organizações da sociedade
civil já vinham tentando discutir a crise anunciada
da safra do RS desde antes da posse do novo governo.
-
Os
dados sobre o nível de contaminação
da safra de soja no país foram os mais desencontrados
e pouco confiáveis. O próprio Presidente
foi incorretamente informado pois afirmou, em reunião
do CONSEA no último dia 25, que não era
possível exportar toda a safra de soja, como se
toda ela estivesse contaminada. O Ministro Roberto Rodrigues,
em declaração aos jornais após a
liberação, falou em 8% da safra nacional,
o que corresponde a 4 milhões de toneladas. Anteriormente,
alguns membros do governo de vários Ministérios
falaram em 30% da safra nacional, ou 15 milhões
de toneladas. Outros precisaram estimativas de 70% da
safra do RS, 30% da safra do Paraná e 15% da safra
do MS, o que resulta em 9,6 milhões de toneladas.
Ninguém informou qual a fonte destes dados.
-
As
informações recolhidas pelas entidades da
sociedade civil, incluindo todas as organizações
de produtores familiares do país, indicam uma outra
realidade. Não há uma contaminação
generalizada da safra nacional tal como fica insinuado
quando se fala em porcentagens em geral, sem indicação
das regiões onde ocorre a contaminação.
As sementes de soja transgênica contrabandeadas
da Argentina ou do Paraguai foram desenvolvidas pela Monsanto
para regiões especificas e se adaptam apenas para
regiões assemelhadas, isto é, o RS, SC,
PR e MS (na faixa da fronteira com o Paraguai). A produção
de SC é pequena e existe uma lei estadual que foi
aplicada pelo governo Amim impedindo os cultivos transgênicos.
No Paraná o governo Lerner, apoiado por todas as
organizações de grandes, médios e
pequenos produtores realizou um rigoroso controle de plantios
clandestinos e a contaminação atual é
residual. No MS, que também tem uma legislação
estadual proibindo cultivos transgênicos, o controle
do governo de Zeca do PT foi frouxo e avaliamos que a
faixa próxima à fronteira está bastante
contaminada, representando talvez os 15% da safra (570
mil toneladas) daquele estado. Foi no RS que o descontrole
foi generalizado. A avaliação do presidente
da Fecoagro, Rui Polidoro, de que 50% da soja plantada
foi com sementes transgênicas é a mais provável
pois tem uma base real na quantidade de sementes de soja
convencional vendidas no estado. Este dado implica em
uma safra de soja transgênica no RS de quase 4 milhões
de toneladas. Estas avaliações apontam para
um total de 4,5 milhões de toneladas de soja transgênica
no país, concentradas no RS e, em bem menor escala,
no MS. Esta estimativa fica próxima da do Ministro
Rodrigues, 4 milhões de toneladas, localizadas
em áreas precisas e não disseminadas em
todo o país.
-
O
problema do RS não está na quantidade total
da soja transgênica plantada mas na sua disseminação
em todas as regiões produtoras do estado, provocando
uma contaminação geral pela dificuldade
de separar os dois tipos de soja na armazenagem. Por esta
razão, sempre dissemos que no RS devemos considerar
que quase toda a safra estará contaminada, ou seja,
perto de 8 milhões de toneladas. No MS a área
contaminada é circunscrita à faixa de fronteira
e a produção pode ser isolada. Mesmo na
hipótese do volume de soja contaminada (transgênica
misturada com convencional) dobrar, chegaríamos
a um total de 1 milhão de toneladas.
-
Todos
estes cálculos indicam que o governo teria que
lidar com um total de soja contaminada que não
pode, legalmente, ser vendida no país, da ordem
de 9 milhões de toneladas. A solução
proposta pelas 85 organizações da sociedade
civil reunidas no seminário de Brasília
foi a exportação. Esta proposta leva em
conta o fato de que a omissão e ação
do governo FHC, da Monsanto e da FARSUL provocou uma situação
calamitosa que arruinaria os agricultores do RS se aplicada
a lei com rigor, isto é, se a soja fosse destruída.
Alguns técnicos e responsáveis do governo
nos afirmaram que esta solução (exportação)
é impossível pois "faltaria soja para
o mercado interno" se este volume for exportado.
Pura falácia. O Brasil deve exportar este ano mais
de 31 milhões de toneladas de equivalente grão
e ainda sobram quase 19 milhões para o mercado
interno, mais do que o suficiente para abastecer as indústrias
de transformação. O aumento da produção
nacional do ano passado para este foi de quase 19%.
-
Com
as crescentes restrições do mercado internacional
para a soja transgênica haveria onde colocar estas
9 milhões de toneladas? A resposta é: por
enquanto sim. O mercado europeu vem restringindo suas
compras de soja transgênica pela reação
dos consumidores a estes produtos mas a maior restrição
ocorrerá a partir de Janeiro próximo, quando
passará a vigorar um dispositivo legal exigindo
que as rações também sejam rotuladas
se contiverem transgênicos. A China também
vai ampliar restrições a partir de Setembro
próximo mas, até lá, vai comprar
cerca de 16 milhões de toneladas que podem conter
transgênicos. Já existem negociações
com os chineses para a venda de 6 milhões de toneladas
de soja brasileira. Se necessário, uma negociação
governo a governo com algum deságio no preço
poderia elevar este volume para absorver os volumes contaminados
do RS e MS.
-
A
segunda objeção à proposta de exportação
da soja contaminada é de tipo operacional. Não
haveria capacidade nos portos do RS para exportar toda
a safra contaminada. Segundo dados da CONAB o porto do
Rio Grande pode exportar 2 milhões de toneladas
por mês, o que permite escoar para o mercado externo
toda a safra contaminada entre Maio e Setembro. Objetou-se
também que o governo do RS perderia ICMS se toda
a safra fosse exportada, mas nada impede que as indústrias
daquele estado esmaguem parte da safra, desde que o destino
do farelo e do óleo seja o mercado externo. A capacidade
instalada da indústria gaúcha é de
5,5 milhões de toneladas por ano, mas ela teve
35% de ociosidade no ano passado. Também se disse
que seria impossível controlar este processo de
redirecionamento da safra gaúcha para a exportação,
mas o fato é que apenas 3 operadoras concentram
80% de toda a exportação; Bunge y Born,
Cargill e ADM, o que facilita a operação.
-
O
problema operacional real se dá em outro nível;
no abastecimento de soja para o mercado local de rações.
Se toda (ou quase) a safra for exportada as indústrias
de rações teriam que comprar soja em outros
estados para cobrir a demanda local. Esta demanda está
estimada em 3,5 milhões de toneladas e já
foi necessário trazer soja de outros estados na
safra passada devido à baixa produção
local provocada por um veranico arrasador. Suprir esta
demanda não é um problema com a super safra
de soja no país, a começar com a produção
do Paraná. No entanto, haverá um custo maior
para a indústria de rações e, em
cadeia, para os criadores de aves e suínos e, finalmente,
para o consumidor.
-
Para
não penalizar a cadeia agroalimentar da soja com
a ilegalidade cometida pelos agricultores, o que propomos
é a cobrança, pelo governo, de uma multa
aos agricultores que cobrisse os gastos extras do setor
de transformação e os próprios gastos
do governo com a fiscalização de todo o
processo. Esta multa não arruinaria os agricultores
mas sinalizaria a determinação do governo
de coibir o plantio ilegal na próxima safra.
-
A
opção do governo de liberar esta safra através
de Medida Provisória infringe decisão da
Justiça exigindo tanto avaliação
de impacto ambiental como de riscos para a saúde
do consumidor. Estamos estudando medidas legais contra
esta MP e oferecemos ao governo uma saída jurídica
não questionável. O que propomos é
um acordo entre as partes envolvidas no processo judicial
acima referido, isto é, o governo e a Monsanto
de um lado e o IDEC, o Greenpeace e o Ministério
Público de outro. Mesmo admitindo que a Monsanto
não aceite o acordo, o Juiz que julgou o processo
pode homologar um acordo entre os outros envolvidos liberando
a soja contaminada para exportação em troca
do governo assinar um Termo de Ajuste de Conduta que o
comprometa a fazer as avaliações de impacto
ambiental e de riscos para a saúde e a coibir o
plantio e comercialização ilegais que foram
a norma no governo FHC.
-
Para
completar estas considerações acreditamos
importante esclarecer que as apregoadas vantagens da soja
transgênica não passam de uma ilusão.
As estatísticas governamentais indicam que a produtividade
da soja gaúcha, a mais contaminada do país
por transgênicos, foi a mais baixa entre todos os
estados. Por outro lado, o consumo de herbicidas no RS
foi o que mais cresceu desde 1999, quando se iniciou o
plantio ilegal de soja transgênica. O aumento foi
de quase 50%, enquanto em quase todos os estados produtores
(exceção Goiás) houve redução
do uso de herbicidas (47,6% a menos no Paraná e
53,4% a menos no Mato Grosso). A redução
do custo de produção na soja transgênica
não tem nada a ver com as apregoadas vantagens
desta tecnologia, mas com a redução do preço
do herbicida Roundup em quase 70%, verdadeiro dumping
da Monsanto para facilitar a adoção da soja
transgênica. Os agricultores também não
estão pagando o custo real da semente, pois não
lhes é cobrada a "taxa tecnológica"
da Monsanto embutida no preço das sementes nos
EUA.
Enviado por: ASPTA - Assessoria e Serviços
a Projetos em Agricultura Alternativa.
(Jean Marc Van der Weid - aspta@alternex.com.br
|
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O TERRENO PERIGOSO
DOS TRANSGÊNICOS
por Washington Novaes
Este artigo foi escrito originalmente para o jornal
O Estado de S.Paulo, onde foi publicado em 21/07/2000.
Está também na seção
sobre transgênicos do site do Instituto de
Defesa do Consumidor (IDEC).
Apresenta
um histórico da discussão dos transgênicos
no Brasil, até o ano 2000.
|
"Se o governo federal houvesse planejado minuciosamente
uma estratégia para criar confusão em torno
da liberação do plantio e/ou importação
de alimentos geneticamente modificados, não teria tido
tanto êxito quanto está tendo - fruto do descaso
e da prepotência com que tem marcado sua atuação
na área.
Há pelo menos cinco anos o autor destas linhas escreve
sobre o tema. E desde esse tempo a questão estava cercada
por intensa controvérsia sobre as vantagens e desvantagens
do plantio, seja no âmbito dos governos, seja entre
os consumidores ou na própria área da ciência.
Não faltaram, pois, informações que aconselhavam
prudência, informação exaustiva ao consumidor,
cautela no campo legal. Mas nada disso aconteceu.
Agora, imperam a confusão, os conflitos entre poderes
da República, a indignação de consumidores
e representantes da sociedade, a divisão entre os cientistas.
E a falta de informação mais consistente, que
permita à sociedade escolher o que mais lhe convenha
e impô-lo aos governantes - o caminho da democracia.
Não é prepotência e desafio à Justiça,
dois dias depois de a Justiça Federal proibir o governo
de autorizar o plantio, a importação ou a comercialização
de alimentos geneticamente modificados sem estudo prévio
de impacto ambiental e sem definir normas para rotulagem,
a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança
(CTNBio) autorizar a importação de milho desse
tipo? Não é preocupante ver o Executivo federal
divulgar nota de apoio prévio e incondicionado aos
chamados OGMs, mesmo sabendo das decisões judiciais?
Não é imprudência armar um imbróglio
institucional, com o Ministério do Meio Ambiente dizendo
que não mudou sua posição a favor de
estudo prévio de impacto ambiental, mas ao mesmo tempo
assinando a nota governamental de apoio às tecnologias
dos OGMs e seu representante na CTNBio votando a favor da
liberação de importações? Não
é mais imprudente ainda protelar a regulamentação
da rotulagem obrigatória?
Enquanto isso, sobem a cada dia mais as chamas da polêmica
em torno do tema.
Dividem-se os cientistas da Embrapa, com seu sindicato tomando
posição em favor de cautela e da exigência
de estudo prévio de impacto ambiental, mas com uma
parte desses cientistas defendendo as posições
da CTNBio e a adoção imediata dos OGMs.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária,
primeiro, afirma que não exigirá a retirada
do mercado de alimentos que já contenham OGMs, porque
não há legislação que autorize
essa medida; mas, poucos dias depois, oficia às empresas
determinando essa retirada. O Ministério da Agricultura
diz que não pode impedir a importação
e venda, por falta de legislação sobre rotulagem.
Mas, em um semestre, só fiscalizou 5% dos campos de
plantio de transgênicos autorizados pela CTNBio - porque
não contrata fiscais desde 1982.
Divide-se mais a área científica. A Sociedade
Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em princípio
favorável a novas tecnologias na área, defende,
entretanto, a obrigatoriedade da rotulagem e dos estudos prévios
de impacto ambiental, "feitos em cada local, pois as
plantas respondem de forma diferente às variações
ambientais". Uma parte dos cientistas, principalmente
da Academia Nacional de Ciências, discorda dessa posição,
aprova o plantio imediato.
Lá fora, o incêndio é cada vez mais forte.
O presidente da Alemanha pede que os agricultores de seu país
não plantem transgênicos até 2003, para
dar tempo a que o Ministério do Meio Ambiente conclua
seus estudos. O governo da França exige a destruição
de plantios de colza transgênica não autorizados.
Os ministros do Meio Ambiente dos 15 países da União
Européia manifestam-se contra a liberação
dos OGMs, porque "todos os riscos para a saúde
e o meio ambiente precisam ser analisados minuciosamente".
Sucedem-se as pesquisas de opinião demonstrando a crescente
rejeição dos consumidores aos transgênicos.
Tudo isso, repita-se, aconselha a prudência. E uma discussão
exaustiva, abrangente, que inclua os muitos ângulos
ainda polêmicos. Das questões estratégicas
- convém ou não ao Brasil colocar-se como maior
produtor mundial de grãos não-transgênicos?
- aos ângulos econômicos - afinal, ganha-se ou
não em produtividade com os transgênicos (há
estudos nas duas direções)? Os eventuais ganhos
são ou não repassados aos produtores e aos consumidores?
Pelo ângulo ambiental, há muito a esclarecer.
Há ou não riscos para a biodiversidade (só
estudos de impacto ambiental localizados parecem capazes de
esclarecer, como diz a SBPC), riscos de deriva genética?
Facilita-se ou não o surgimento de superpragas e o
desaparecimento de insetos benéficos às lavouras?
Afeta-se ou não a fauna microbiana do solo?
Tudo parece indicar que a cautela sugerida pela SBPC é
uma posição sensata.
Além do mais, respaldada na Constituição
(exigência de estudo prévio de impacto ambiental,
definida no artigo 225, parágrafo 1º, inciso IV), em
convenção internacional assinada pelo Brasil
(Diversidade Biológica), em pareceres de juristas conceituados.
Não cabem, no caso, fundamentalismos de espécie
alguma. Nem mesmo científicos. A ciência é
uma das visões possíveis de mundo. E, como lembra
em entrevista recente à New Scientist o indiano Satish
Kemar, fundador do Dartmouth College, na Grã-Bretanha,
'Existem 6 bilhões de pessoas e 2 milhões de
cientistas. Você não pode achar que os não-cientistas
são idiotas.
Não se pode resvalar, por falta de cuidados, para terrenos
preocupantes,'como está acontecendo. Nem descambar
a discussão para o terreno do linguajar chulo, como
fez há pouco o ministro da Agricultura.
A sociedade merece respeito e tem direito a informar-se, discutir
e impor a decisão da maioria."
Washington Novaes é jornalista.
Artigo originalmente publicado em O Estado de São Paulo
E-mail do autor: novaes@ih.com.br.
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de julho/agosto 2000 (clique
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BRASILEIRA - principais
leis, decretos e medidas provisórias que regulam
os trangênicos e uso da engenharia genética
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