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POR QUE TEMER OS ALIMENTOS TRANSGÊNICOS?

(Publicado no URTIGA 155 - março/abril 2003 - pág. 3)


A denúncia de que agricultores plantaram soja transgênica - cujos riscos à saúde e meio ambiente ainda não foram descartados - e posterior liberação da venda do produto proibido, só em 2003, despertou muita polêmica. Mas o que é um transgênico. Por que temê-los neste momento? Como outrosa países reagem a estes produtos? Confira

MP 113 - TRANSGÊNICOS EM SUA MESA

O QUE É O QUE É  

RISCOS À SAÚDE

REAÇÕES

O CASO TERMINATOR

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EXCLUSIVO NO SITE - LEIS E ANÁLISES SOBRE TRANSGÊNICOS

QUEM QUER TRANSGÊNICOS NA MESA?
(editorial Urtiga 139 / jul-ago 2000)


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Você soube, pela imprensa, que a Medida Provisória 113 liberou o comércio, em 2003, da soja transgênica plantada ilegalmente no Brasil (sementes contrabandeadas da Argentina). Mas pensa que basta não comer soja para evitar que o polêmico produto chegue à sua mesa? Pois saiba: do chocolate ao shoyu (molho de soja), a maior parte dos alimentos industrializados contêm soja, eventualmente na forma de subproduto, como lecitina de soja.

Há contradições sobre quanta soja transgênica o país produziu: a AS-PTA (Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa) encontrou estimativas que vão de 8 a 30% da safra 2002-2003. Logo que se divulgou que agricultores brasileiros tinham plantado os proibidos transgênicos, a primeira resposta do governo foi: autorizaria a exportação da safra, exigindo dos infratores o compromisso de não mais a cultivarem.

Só que a MP 113, de 26 de março liberou a venda também no Brasil. Com uma exigência: se o alimento contiver soja transgênica, que isso conste no rótulo. Não ficou claro como isto deveria ocorrer.

Até o fechamento desta edição, a rotulagem estava sendo contestada, bem como uma contradição: baseada no princípio da precaução, a MP mantém a proibição do plantio dos transgênicos, e impede a comercialização a partir de 2004, até que se prove que transgênicos não oferecem riscos à saúde e ao ambiente. Se há risco, por que se permitiu a venda e consumo, em 2003?

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O QUE É, O QUE É


Mas o que seria soja transgênica e por que tanta polêmica? Estamos falando de um dos Organismos Vivos Geneticamente Modificados em laboratório (OGMs), utilizando-se a Engenharia Genética, tecnologia recente pela qual o homem cria novas espécies de plantas, animais ou microorganismos em laboratórios, ao transferir características genéticas de uma espécie viva para outra.

Desenvolvidos por empresas transnacionais, os OGMs mais divulgados são variedades transgênicas de grãos, entre os quais, a mais falada é a soja transgênica Round up ready, da transnacional Monsanto, que também fabrica o herbicida Round up. A semente contém um gene retirado de algas e bactérias para tornar a planta resistente ao herbicida do mesmo nome.

Assim, o agricultor que compra a semente e veneno da Monsanto, extermina as plantas que concorrem com sua soja com um só veneno. No Brasil, os grãos contrabandeados da Argentina ganharam apelido de Maradona.

Como já mostraram edições anteriores do Urtiga, do ponto de vista ambiental, seriam duas as maiores ameaças. Uma é a perda da biodiversidade, ou diversidade de espécies vivas, pela eliminação das espécies nativas com uso maciço do agrotóxico. Neste sentido, ambientalistas contestam um argumento de quem defende o uso dos novos grãos: de que a plantação precisa de menos agrotóxicos. Apesar de se usar só um veneno, a quantia aplicada pode ser bem maior.

A segunda grande ameaça estaria na possibilidade de surgirem novas pragas, através de dois mecanismos: 1- cruzamento natural da planta transgênica com outras, acarretando a migração do gene resistente ao veneno para plantas nativas, gerando plantas daninhas resistentes ao agrotóxico (a indústria, neste caso, inventaria novos agrotóxicos mais potentes e plantas transgênicas associadas e eles), e 2- genes virais inseridos num OGM poderiam se recombinar com genes de outros vírus infectantes, produzindo novos vírus, mais agressivos que os originais, que poderiam atacar outros seres vivos, inclusive o ser humano.

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RISCOS À SAÚDE

O maior temor dos cidadãos é quanto à saúde humana. Neste ponto, o risco mais óbvio é de alergias. Imagine, num exemplo hipotético, a invenção pela engenharia genética de um grão rico em vitaminas, pela inoculação de genes de morangos. Quem for alérgico ao morango, terá alergia ao novo grão.

Em 1998, este problema já ocorreu com o milho transgênico Starlink, ou Bt, lançado nos EUA pela Aventis. Como explica o engenheiro agrônomo Ventura Barbeiro, houve polinização cruzada com variedades não transgênicas, contaminando cerca de 40% do milho plantado naquele país. Só o milho Bt tem a proteína Cry9C, que causou fortes reações alérgicas em muita gente...

Outro problema, já apontado no Urtiga 130 (jan/fev 1999), seria a falta de segurança nos procedimentos da engenharia genética. A organização internacional Médicos e Cientistas contra Alimentos Produzidos pela Engenharia Genética (Prast - Physicians and Scientists Against Genetically Engineered Food) denunciou o método para criar um novo transgênico: simplesmente inocula-se gene com características genéticas diferentes na célula reprodutiva da espécie a modificar, sem guiá-lo para uma posição determinada. Não se saberia, ainda, o bastante sobre o DNA, para predizer efeitos do gene inserido deste jeito aleatório. E se, ao entrar num ponto XYZ, ele gerasse substâncias tóxicas? A entidade também condenou o afrouxamento das regras para a liberar a venda de OGMs nos EUA, por razões comerciais.

Somando-se a esta crítica, o cientista Alan Simpson, no The Genetics Fórum, critica o mito, alimentado pela indústria do setor, de que a engenharia genética acabaria com todas doenças, e grãos modificados cresceriam em quaisquer condições físicas, sem prejuízos ao ambiente ou à saúde.

É raro alguém lembrar o caso da indústria Showa Denko K. K. que, nos anos 1980, criou uma variedade transgênica da bactéria Echerichia colli, para produzir o aminoácido triptofano, ingrediente de medicamento. Após um tempo, houve alteração no metabolismo interno do microorganismo transgênico, gerando uma toxina mortal: 35 pessoas que consumiram o remédio nos EUA morreram e 1500 ganharam problemas físicos permanentes.

Por fim, há os argumentos econômicos. Quem defende transgênicos, afirma que seu cultivo custa menos que o da soja tradicional. Quem os combate, lembra que esta realidade pode ser temporária. Apenas 8 transnacionais dominariam a nova tecnologia. Num futuro, se elas dominarem todo mercado das sementes, os custos poderão ser outros.

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REAÇÕES

Qual a posição dos países perante transgênicos? Contrapondo-se aos EUA, que permitiram produtos geneticamente modificados, países europeus passaram a rejeitá-los, ou/e exigir a rotulagem de alimentos que contenham transgênicos.

E o Brasil? Em 1998, a Comissão Nacional de Biossegurança (CNTBio) chegou a aprovar o plantio experimental em algumas áreas da soja Round up Ready. Na ocasião, entidades como a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) protestaram. Um mandado de segurança, movido pelo Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) com o Greenpeace, garantiu a proibição de plantio e consumo até se provar a ausência de riscos à saúde e ao ambiente.

Após a posse do presidente Lula, descobriu-se que a insuficiente fiscalização no campo possibilitara o plantio ilegal do grão transgênico, com as conseqüências arroladas no início desta reportagem.

Enquanto isso, uma reação dos cidadãos contra o avanço dos transgênicos é a busca por produtos orgânicos, hoje presentes até nas grandes redes de supermercados. .

 

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O CASO "TERMINATOR"

Em 1999, um fato novo apimentou os debates em torno dos grãos geneticamente modificados. Foi a informação de que a Monsanto teria comprado, por um bilhão de dólares (!), a patente da tecnologia Terminator. Criada pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, com a empresa Delta and Pine Land, esta tecnologia permitiria gerar plantas estéreis.

Trocando em miúdos: tradicionalmente, o agricultor guardava parte das sementes colhidas para replantios. Com as sementes híbridas, esta reprodução ainda é possível, mas sem garantia de qualidade da futura planta. Com a tecnologia Terminator, a semente comprada gerará plantas que produzem frutos e sementes estéreis, ou seja, os agricultores terão de comprar, a cada nova safra, nova remessa de sementes da indústria.

Para tanto, o Terminator contém três elementos: a toxina genética (que esteriliza a semente que a planta gerou), um bloqueador da toxina (para que a toxina não aja até ser desbloqueada) e uma enzima (que na hora certa elimina o efeito do bloqueador, para que a toxina genética entre em ação, gerando sementes incapazes de germinar).

Na época, a revista Time mostrou campanhas contra esta nova tecnologia, que prejudicaria sobretudo países mais pobres.Só a Fundação Internacional para o Avanço Rural provocou enxurradas de cartas de protesto para o Departamento de Agricultura dos EUA, provenientes de 62 países.

Além da questão econômica, a revista apontou o perigo dos genes assassinos se espalharem na natureza, esterilizando espécies nativas outras plantas de uso comercial, ou até animais (inclusive o ser humano).

 


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EXCLUSIVO - SITE AIPA

Aqui, no site da AIPA, mais informações sobre transgênicos

  • ANÁLISES - artigos de especialistas, manifestos de organizações e reportagens que ajudam a entender melhor a questão
    (clique aqui e confira)

  • LEGISLAÇÃO BRASILEIRA - leis e medidas provisórias que regulam os trangênicos e o comitê nacional de biotecnologia no Brasil
    (clique aqui e confira)

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