TEMA
CENTRAL PREMIADOS DA CATEGORIA TERCEIRA IDADE SUBTEMA:
DESAFIO: |
2º
PRÊMIO - MEMÓRIA O SONHO. ORA, O SONHO... O TEMPO. ORA, O TEMPO... | ||||
A moçoila acanhada, com pús descalços, relutava em colocá-los na areia fofa e branquinha às margens do Tietê. Os regalos da vida eram simples, como simples era a vida, por um amontoado de almas, vivida num local aprazível que já se chamava cidade. Para os dias de hoje, nada mais era do que um simples bairrinho, um vilarejo de pobres figuras e grandes pessoas perdidas nos confins do Judas. Mas a moçoila, vinda da cidade grande, aqui aportou. Recebida por seus parentes, caipiras destas bandas, que arrastando os erres e engolindo os esses em suas prosas, versos, cantigas e resmungos, levava a linda e recatada menina, conhecer as belezas criadas por Deus. O rio era de beleza extremada, assustador traiçoeiro, porúm encantador, limpo, atraente, envolvente... Nunca a pueril menina defrontara com a imensidão de suas águas, o sussurro das corredeiras, o ronco ensurdecedor de suas quedas d’ água, que de um lindo arco-íris inebriava a linda garota. O rapaz, ainda puro de vícios e de encantos, levava a amada visitante lá pelos lados da prainha e a convidava para um refrescante banho nas límpidas águas do grande Anhembi, ou Tietê. A moçoila temerosa, mas ao mesmo tempo intrigada e faceira, buscava, no desconhecido, prazeres nunca antes sequer pensados. Ali estavam os ingredientes perfeitos para compor um enlance dos amores pueris. A sábia natureza era a grande responsável pelo cenário e as fortes emoções por quais sentiam e viviam a moçoila e o rapaz. Perfeito o quadro, como perfeitos eram os sentimentos emanados pela pele de ambos os enamorados, pelos muitos hormônios exalados, suores enigmáticos, calores desconhecidos. O medo e a curiosidade são ingredientes de um prato saboroso quando dogmas e tabus são colocados à prova pela mãe natureza, que impele vontades nunca antes presenciadas, nunca antes vividas, mas tentadoramente desejadas. Um simples toque, um simples olhar desmontavam-se de emoções e de desejos, sem saber ao certo o que acontecia com eles. A natureza ao lado do grande rio, ao pú da queda d’ água era o cenário perfeito para grandes pensamentos e desejos irrefreáveis. As lembranças que agora permeiam a mente remetem a um passado doce e remoto que duas crianças vivenciaram. Quebraram tabus, reviram conceitos, lutaram contra preconceitos da úpoca pura em que viveram. Contrastes que agora vistos de longe, riem-se da vida, enamoram-se com a morte. Depois de tantos anos passados, voltam ao mesmo rio, às mesmas margens. Apercebem-se que o rio não é mais o mesmo, as margens não são mais as mesmas, as águas límpidas não mais existem. Antes, a pureza da linda moçoila, que a barulhenta locomotiva a vapor trouxe para conhecer o seu amor. O cenário perfeito foi dizimado por um progresso contaminante, como aquele que degradou as límpidas águas do rio. Os atores de ontem também não são os mesmos, assim como o vento suave de antes que acariciavam os rostos dos enamorados, hoje carregam consigo o amargor e dissabores da humanidade amontoada em cidades desumanas. Com o excesso de humanos, ficaram apoucas águas do rio. As lindas cascatas, como os amores furtivos, acabaram. Sobrou um amontoado de pedras, que antes eram castelos de titãs, hoje somente depositários de lembranças... Hoje, não mais o vento carregado de minúsculas gotinhas acaricia as frontes. Sequer existe água para alimentar o vento que carregava sonhos. Sobraram boas lembranças. De mãos dadas com o companheiro de muito, amigo de todas as horas, confidente de todos os dias, amantes em todos os sentidos. Dão-se as mãos, hoje ásperas, acariciam-se, embalados pelos mesmos sentimentos, lá dos tempos de infância. Não são mais tenras as faces, mas belos são os sorrisos confidentes, os mesmos de um passado longínquo, que trazem a marotice das crianças do ontem, rejuvenescendo-se a cada toque. As asperezas da vida, não roubam o encanto dos enamorados. Mudam-se os lugares, como muda o mundo a cada segundo percorrido. O sonho. Ora o sonho... O sonho não se acaba com o tempo. O tempo é um acontecer diário, que pode ser perpetuado pelas lembranças, que não se acabam, que ultrapassam fronteiras rumo à eternidade. As praças, os bosques, o rio e a queda d’ água, apesar de mudados, ficam como testemunhas daqueles enamorados que por cá passaram e deixaram muito mais que lembranças, uma amostra de amor à vida, em sua plenitude. O tempo. Ora, o tempo do sonho...
AUTORA:
Joana G. Calçavara (69 anos) |
MENÇÃO
HONROSA - MEMÓRIA "SALTO QUE FAZ PARTE DA MINHA VIDA” | ||||
"Quando a gente é criança não entende muito de necessidades. Acha tudo fácil, às vezes leva alguns pitos, mas dali a pouco está sorrindo, isso é muito bom. Então seja sempre assim até a 3ª Idade. No meu tempo, a gente brincava muito na rua, nos quintais. Eram umas brincadeiras sadias: brincava de esconde-esconde, de roda, de peteca, de pular corda, até de pião e fubeca. Sou menina, mas parecia um moleque. Subia em árvores, fazia balança com cordas, riscava o chão para pular amarelinha, fazia casinha embaixo de pequenos arbustos. O meu quintal era muito grande. A gente corria, escondia, etc. Mamãe lavava roupas para muitas pessoas de nossa cidade. Aí vinha a ajuda nossa, minha e de meus irmãos mais velhos.Levávamos as roupas na cabeça para serem lavadas. Quando estavam prontas, trazíamos para as freguesas. Era uma luta, mas a gente era feliz. Tínhamos tempo para a escola, as brincadeiras e para ajudar a mamãe. Lembro tudo isso e fico feliz. Não morri, não fiquei com trauma, nem deprimida com os trabalhos, isso só me ensinou as coisas boas. Trabalhei 30 anos, hoje sou aposentada. Casei-me e sou feliz, pois nos amamos muito, temos 02 filhos e 02 netos e agora já na 3ª Idade, sou bastante ativa, não consigo ficar parada. Quando criança, a cidade era pacata, poucos habitantes. Agora já bem mais habitada, com gente para todos os lados, carros num vai e vem, enfim um pouco mais cansativa. Em contrário, bem mais moderna com muitas obras que antes não tinha. A cidade de Salto é muito turística, tendo diversos lugares para se visitar e se sentir na natureza. O que há de negativo é o nosso rio Tietê que foi se poluindo cada vez mais. Todos os dias, de manhã, o rio está cheio de espuma. Para melhorar é preciso que se tenha colaboração de todos e de outras cidades por onde ele passa, para assim voltar a ser o lindo rio Tietê, com muitos peixes como era antes. Haveremos de um dia vencer essa poluição desenfreada, assim melhorar o ambiente para todos." AUTORA: Benedicta Ladeira Cardareli (69 anos) Grupo Renascer - Salto |
FOTOS DA PREMIAÇÃO (23/09/2005)
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EDIÇÃO 169 |