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UM CONCEITO, MUITAS DEFINIÇÕES
A expressão "Desenvolvimento
Sustentável" tem algumas premissas:
1) de que os recursos naturais não são infinitos. 2) pela primeira vez, menciona o direito das gerações futuras de herdarem um mundo onde possam sobreviver; 3) reconhece oficialmente que só dá para defender o meio ambiente, ao combater a miséria do mundo. Isto afeta a economia, a política, as relações internacionais e o cotidiano das pessoas. Mas é bom saber: a proposta é mais antiga de que muitos imaginam e... há muita polêmica em torno dela. Confira o por quê no artigo abaixo: |
UM CONCEITO - MUITAS DEFINIÇÕES
FACE 1 - RAIZ AGRÍCOLA
A frase acima foi publicada em março de 1921 pelo fundador da Antroposofia (Antropos = homem, sofia = estudo), linha que defende o resgate da unidade do homem com a natureza. Steiner ensinava que, até a Idade Média, os seres humanos criavam animais, cultivavam a terra e cuidavam das plantas, numa unidade classificada como "organismo agrícola". Esta unidade começou a se quebrar com a mudança do padrão tecnológico, que gerou o êxodo do homem para as cidades. A Ciência concentrou-se no desenvolvimento de tecnologias poupadoras de energia humana. No campo, isto gerou a dependência de insumos, aplicados para compensar a redução da mão de obra disponível e suprir a fome crescente de alimentos. Foi se evoluindo para a criação intensiva de animais e o cultivo extensivo de cereais, hortaliças e árvores frutíferas, como descreve o editorial "História da Agricultura", do Boletim nº 80 do IBD - Instituto Biodinâmico de Desenvolvimento Rural, entidade que segue a filosofia antroposófica. Foi assim que se chegou a uma fase de intensa produção agrícola, que teve pelo menos um efeito colateral indesejado: a crescente degradação do meio ambiente pela exploração dos recursos naturais à exaustão e perda do controle da geração de resíduos de toda espécie. Esta realidade reforçou os ideais de quem defende o resgate de métodos de cultivo capazes de unir a produção de alimentos com o equilíbrio ambiental. Para estas pessoas, isto só ocorre mediante o recordar da consciência do Homem, do chamado "eu íntegro", humilde e fraterno, de um trabalho conjunto e participativo, que tem a vantagem de integrar o produtor agrícola e a sociedade. A agricultura biodinâmica é uma das formas de agricultura orgânica que buscam harmonizar a relação do homem com o campo. Ela segue a idéia de que o conhecimento, a sabedoria e a humildade estão implícitos no trabalho agrícola diário, que deve ser exercido solidariamente, para gerar alimentos sadios, preservar o ambiente e contribuir com o bem estar das futuras gerações. Esta é uma das muitas faces do Desenvolvimento Sustentável.
FACE 2 - O LADO ESPIRITUALUma outra face dos debates sobre o Desenvolvimento Sustentável pode ser observada na frase atribuída ao escritor Leonardo Boff, ex-frei dominicano, para quem "o desenvolvimento sustentável nada mais é que a administração da voracidade humana". Esta afirmação complementa o que pregava Rudolf Steiner, fundador da Antroposofia, ao propor uma relação de respeito com aquilo que é explorado na natureza, a forma como é explorado e o quanto pode ser explorado, sem que o equilíbrio se rompa ou seja seriamente afetado. Pregar o uso da sensibilidade humana, utilizando o conhecimento que antecedeu o desenvolvimento tecnológico, como fazem os seguidores da antroposofia; ou tentar dar uma dimensão ética e moral para a exploração do meio, como prega Leonardo Boff, não são utopias filosóficas. Ao contrário, estão por trás de muitas discussões sobre o destino da nossa Mãe Terra. Discussões estas, que influenciaram, por exemplo, a elaboração da Agenda 21, documento subscrito por cerca de 150 países, na Rio 92 - Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, Brasil, em 1992.
ECODESENVOLVIMENTO x DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVELMuitos pensam que o conceito de Desenvolvimento Sustentável foi criado durante a Rio 92. Na verdade, ele nasceu bem antes: sua origem é da década de 1960, quando se formou na Itália o Clube de Roma, reunindo um grupo de especialistas de vários países para debater o futuro do Planeta. Este grupo publicou um estudo "Limites do Crescimento", onde ficou provado, com números, que o progresso científico e tecnológico estava criando um perigoso confronto entre o conforto humano imediato e a preservação (leia-se sobrevivência) da vida no nosso planeta. Foi como uma bomba. Primeiro as informações influenciaram as conclusões da Conferência de Estocolmo - 1.ª Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano, em 1972. Além disso, criou-se o termo "eco-desenvolvimento", para definir um compromisso que conciliasse o aumento da produção, pleiteada pelo Terceiro Mundo, com o respeito aos ecossistemas, necessário para preservar a vida na Terra. Fato curioso. José Manuel Naredo, estudioso deste termo, descreve num artigo transcrito na Internet que Ignacy Sachs, então consultor da ONU - Organização das Nações Unidas propôs o termo "eco-desenvolvimento", que foi adotado oficialmente num evento da própria ONU no México em 1974. Só que aconteceu a oposição de Henry Kissinger, então chefe da diplomacia do governo norte-americano. Foi aí que se sugeriu a expressão "Desenvolvimento Sustentável". DEFINIÇÃO OFICIAL E DESAFIOS DO TERMO"Desenvolvimento Sustentável
é aquele que atende às necessidades do presente Esta é a definição oficial mais aceita para este termo. Foi elaborada nos anos 1980 pela Comissão Brundtland - grupo designado pelo PNUMA - Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e consta no Relatório "Nosso Futuro Comum", elaborado por esta comissão. Além de definir, "Nosso Futuro Comum" apresenta alguns desafios a serem enfrentados, para transformar a teoria em realidade:
"Nosso Futuro Comum" lembra ainda que o Desenvolvimento Sustentável supõe uma transformação progressiva da economia e da sociedade, sendo preciso levar em conta a questão da sustentabilidade em todas nações - desenvolvidas ou em desenvolvimento.
CONTRADIÇÕES E AMBIGUIDADESVários autores vêm apontando contradições implícitas na expressão Desenvolvimento Sustentável. Destacamos aqui algumas das contradições estudadas pela pesquisadora Ivone Gorete Lucena:
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASIndicações da pesquisadora Ivone Gorete, de publicações impressas referentes à origem e teoria da expressão Desenvolvimento Sustentável ALTVATER, E. (1995). O preço da riqueza: pilhagem ambiental e a nova (des)ordem mundial. São Paulo, ed. UNESP. CAVALCANTI, C. (Org.) (1995). Desenvolvimento e natureza: estudo para uma sociedade sustentável. São Paulo, Cortez. (CMMAD) COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO (1991). Nosso futuro comum. 2ed. Rio e Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas. DALY, Herman E. (1998). Beyond Growth: the economics of sustainable development. Boston, Beacon Press. FURTADO, C. (1974). O mito do desenvolvimento. Rio de janeiro, ed. Paz e Terra. GONÇALVES, C.W.P. (1990). Os descaminhos do meio ambiente. São Paulo, 2ed., Contexto. GORZ, A. (1978). Ecologie et politique. Seuil, Paris. GUSDORF, G. et al. (1983). Inter disciplinaridade y ciências humanas. Unesco. HERRERO, L. (1997). Desarrolo Sostenible y Economia Ecológica. Madri, Sintesis Ed. JACOBS, M. (1991). The Green Economy. London, Pluto Press. JAPIASSU, H. (1976). Interdisciplinaridade e patologia do saber. LEFF E. (1987). Las Ciencias Sociales y la Formación Ambiental a Nivel Universitario: uma propuesta para América Latina. Revista Interamericana de Planificación. NOBRE, M.; AMAZONAS, M. Desenvolvimento sustentável: A institucionalização de um conceito. (mimeo). NORGAARD, Richard B. (1994). Development betrayed. Ed. Routledge. PEARCE, David W., TURNER, R. Kerry. (1990). Economics of natural resouces and the environment. Baltimore: Johns Hopkins. (texto: Eli Serenza / Silvia Czapski) |
O
Jornal Urtiga publicou na edição 148 (jan/fev 2002)
o resumo deste artigo, e mais duas reportagens sobre a
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